
“O proxecto debía a ideia a observaçóns feitas sobre mim mesmo e sentía-me incentivado a emprehendê-lo ao esperar fazer um libro verdadeiramente útil para os homes, e, inclusive, um dos mais úteis que pudesse oferecer-lhes, se a execuçón respondesse dignamente ao plano que tinha delineado. A maioria dos homes, no decurso da vida, parece transformar-se em homes diferentes. Tratava-se de indagar as causas de tais variaçóns e ater-me às que dependem de nós para mostrar como elas podem ver-se dirixidas por nós mesmos. Pois, para o home honesto, é mais penoso resistir aos desexos xá formados do que prevenir ou modificar esses mesmos desexos na fonte. Quantos vícios ficariam abortados sabendo-se forçar a economia animal a favorecer a ordem moral que perturba com tanta frequência! Os climas, as estaçóns, os sons, as cores, a escuridón, a luz, os elementos, os alimentos, o ruído, o silêncio, o movimento, o repouso, tudo axe sobre a nossa máquina e sobre a nossa alma; por conseguinte, tudo nos proporciona mil apoios bastante seguros para governar, na sua orixem, os sentimentos polos quais nos deixamos dominar. Tal era a ideia fundamental que xá tinha esboçado sobre o papel e, como esperaba um efeito tanto mais seguro para as xentes bem-nascidas que amam sinceramente a virtude e desconfiam da sua fraqueza, parecía-me aprazíbel fazer um libro tán fácil de ler como de compor. No entanto, non trabalhei muito nessa obra cuxo título era “A Moral Sensitiva, ou o Materialismo do Sábio”.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU, “CONFISSÓNS”.
