CONTOS DE UMA PRIMEIRA JUVENTUDE ENLUTADA
PREFÁCIO
Fui parar ao CNA mais por confusao que por outra coisa. Estava num excelente coléxio. Era uma quinta cheia de oliveiras; cheia de espaço; de campos; aberta; o limite era um pequeno muro que nao tinha um metro de altura, que separava da quinta vizinha, com pista de velocidade de atletismo e caixa de saltos; com o melhor ginásio de Portugal, onde ia -muitas vezes- treinar a equipa de voleibol do Técnico. Onde vi treinar a selecçao checoslovaca de voleibol quando veio a Portugal. Tinhamos excelentes professores. O coléxio procurava os melhores e pagava-lhes consoante o seu valor. O elenco de professores de ginástica assustava: Joaquim Grangé; Nuno Barros e Mário Begonha. Todos ex-atletas de alto nível. Non saia do ginásio. Pertencia à equipa de voleibol; pertencia ao grupo de ginástica de Mesa Alema -fui o membro mais jovem a pertencer ao grupo-, tínhamos técnicas de atletismo com o professor Mário Begonha. E foi neste colégio que tive por primeira vez notícias do CNA. Júlio César, meu colega e amigo, natural da Guiné-Bissau, estivera um ano interno no CNA. Saíra espavorido depois de um enfrentamento com um colega mais idoso. A mae veio para Lisboa e ele também. O refeitório era um espaço pulcro e a comida era boa. Os pavilhoes que albergavam as aulas eram espaçosos, novos e luminosos. Era um centro cuidado e tratado ao milimetro. O director do Liceu, naquela época, e depois, ao falecimento dos seus pais, foi uma figura muito influente no Ensino em Portugal. Faleceu repentinamente, há dois anos aproximadamente; chamava-se: Doutor Federico Valsassina; Matemático. Encontrava-me bem; gostava de ir ao colégio. Mas, a minha actividade física afogava a minha actividade tipicamente escolar; entao, a minha família, assessorou-se, maldita a hora, e foi aconselhada na direcçao de Tomar. A vantagem, disseram, residia no isolamento e portanto -forçosamente- teria maior concentraçáo no estudo… Em Tomar nao tive uma coisa, nem outra. Nao tive nada para além de amigos -mesmo que nunca mais os encontre- que estarao eternamente na minha memória e no meu coraçao.
JOSÉ LUÍS MONTERO