Arquivos diarios: 08/02/2022

O ILHA (6)

CONTOS DE UMA PRIMEIRA JUVENTUDE ENLUTADA

PREFÁCIO

Fui parar ao CNA mais por confusao que por outra coisa. Estava num excelente coléxio. Era uma quinta cheia de oliveiras; cheia de espaço; de campos; aberta; o limite era um pequeno muro que nao tinha um metro de altura, que separava da quinta vizinha, com pista de velocidade de atletismo e caixa de saltos; com o melhor ginásio de Portugal, onde ia -muitas vezes- treinar a equipa de voleibol do Técnico. Onde vi treinar a selecçao checoslovaca de voleibol quando veio a Portugal. Tinhamos excelentes professores. O coléxio procurava os melhores e pagava-lhes consoante o seu valor. O elenco de professores de ginástica assustava: Joaquim Grangé; Nuno Barros e Mário Begonha. Todos ex-atletas de alto nível. Non saia do ginásio. Pertencia à equipa de voleibol; pertencia ao grupo de ginástica de Mesa Alema -fui o membro mais jovem a pertencer ao grupo-, tínhamos técnicas de atletismo com o professor Mário Begonha. E foi neste colégio que tive por primeira vez notícias do CNA. Júlio César, meu colega e amigo, natural da Guiné-Bissau, estivera um ano interno no CNA. Saíra espavorido depois de um enfrentamento com um colega mais idoso. A mae veio para Lisboa e ele também. O refeitório era um espaço pulcro e a comida era boa. Os pavilhoes que albergavam as aulas eram espaçosos, novos e luminosos. Era um centro cuidado e tratado ao milimetro. O director do Liceu, naquela época, e depois, ao falecimento dos seus pais, foi uma figura muito influente no Ensino em Portugal. Faleceu repentinamente, há dois anos aproximadamente; chamava-se: Doutor Federico Valsassina; Matemático. Encontrava-me bem; gostava de ir ao colégio. Mas, a minha actividade física afogava a minha actividade tipicamente escolar; entao, a minha família, assessorou-se, maldita a hora, e foi aconselhada na direcçao de Tomar. A vantagem, disseram, residia no isolamento e portanto -forçosamente- teria maior concentraçáo no estudo… Em Tomar nao tive uma coisa, nem outra. Nao tive nada para além de amigos -mesmo que nunca mais os encontre- que estarao eternamente na minha memória e no meu coraçao.

JOSÉ LUÍS MONTERO

“AMIZADE” NO DICIONÁRIO FILOSÓFICO

Desde a antiguidade, fala-se do tempo da amizade: e desde entón sabemos que é muito pouco concorrido. Sabemos também que a amizade non se impón, tal como o amor e o apreço non se imponhem. “Ama o teu próximo” significa “dá-lhe” o teu apoio. Mas isto non quer dizer que usufruas do prazer da sua conversa se ela for aborrecida, nem que lhe confies os teus segredos se for linguarudo, nem que lhe emprestes dinheiro se for esbanjador. A “Amizade” é o casamento da alma, mas esse casamento está suxeito a divórcio. É um contracto tácito realizado entre duas pessoas sensíveis e virtuosas: digo “sensíveis”, porque um solitário pode non ser mau e viver sem conhecer a amizade; digo “virtuoso”, porque os perversos só têm cúmplices, os voluptuosos, companheiros de deboche, os comerciantes, associados, a xeneralidade dos homes ociosos, relaçóns superficiais, os príncipes, cortesáns; só os homes virtuosos tenhem amigos.

DO ARTIGO “AMIZADE” NO “DICIONÁRIO FILOSÓFICO”