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Como o artesán, o poeta tem qualquer cousa de cego, pois debe nomear pola primeira vez e sem nenhuma recordaçón prévia as palabras que depois serán empregues polos “utilizadores” da língua. Por isso. o seu lugar e o seu tempo som um tanto “obscuros”: marcam a fronteira entre o fora e o dentro da “polis” (recordemos que ninguém sabe com total certeza quem foi Homero, como também non se sabe muito acerca da origem da civilizaçón grega, que se perde naquilo a que os historiadores chamam a “Idade das Trevas” grega, localizada entre os séculos XII e VIII a. C., durante a qual a Grécia se mantém isolada do resto do mundo antigo). Daí que, simbolicamente, Platón faça Sócrates dizer em “A República” que os poetas debem ser “expulsos da cidade”. Non se tratava de ter algunha cousa contra eles por lhe fazerem concorrência, mas por a cidade ser o espaço onde os “utilizadores” têm prioridade (os que dialogam e discutem, que é o que acontece nos “Diálogos”), non os “fabricantes” de palabras, que, como Homero, desaparecerom xá quando falamos deles (razón pola qual Sócrates non deixa de zombar dos que se gabam de ser grandes poetas do seu tempo, como Isócrates). O raciocínio aqui é o mesmo de antes: Platón está a dizer-nos que ao espaço público se vai “actuar” como homens livres, non a “fabricar” como homes ocupados, por mais que a diferença entre as duas categorias non possa ser eliminada, pois non somos deuses que venham ao mundo com todas as suas necessidades satisfeitas. De facto, os “Diálogos” interrompem-se frequentemente porque Sócrates ou os seus interlocutores têm obrigaçóns a cumprir: se somos mortais é porque o nosso tempo libre é “limitado”, mas se somos racionais é porque sabemos que o que dá sentido ao trabalho é o “ócio” (que é diferente do descanso). Tal como Platón concibe a filosofia, esta non pertence exactamente nem aos “fabricantes” nem aos “utilizadores” (non é um trabalho artesanal ou unha “técnica”, como pretendem os sofistas, e também non é unha práctica em particular, daí a dificuldade em defini-la), mas ao terreno “intermédio” entre ambos que permite apreciar e conservar o sentido da diferença. Por isso, Sócrates vangloría-se, no seu discurso de “Apoloxia” perante a assambleia, de ter sido designado polo oráculo de Apolo como o melhor dos cidadáns, o “guardián” que os deuses enviaram aos atenienses: porque ilumina a distância sobre a qual se constrói a “polis”. Sócrates é o habitante dos “interstícios”. E a sua condenaçón à morte é também significativa: representa a enorme dificuldade de manter aberta e vissíbel essa distância. A cidade, como a própria condiçón humana, é um espaço tán rico como fráxil, sempre ameaçado, inclusivamente a partir do seu interior.
ANTONIO DOPAZO GALLEGO