HUSSERL (A REALIDADE QUE NON SOMOS)

É surprehendente que muitas pessoas demorem a descobrir o facto, por assim dizer demasiado próximo, que é a sua própria consciência. Pensam nas realidades e em si mesmos, mas non se apercebem que as realidades lhes entram polos olhos do corpo e da intelixência adentro em modos de ser que lhes pertencem a eles e que, por isso mesmo, som susceptíbeis de falsidade (e non só de verdade). Non se trata unicamente de as cousas no espaço terem perspectivas infinitas e as pessoas terem caras múltiplas, mas de que a nossa experiência de tudo possui unha riqueza imensa de matizes e de ângulos, que lhe som próprios e non das coisas nem das outras pessoas. Cada ângulo destes é, para seguir com a terminoloxía anterior, um “fenómeno” meu próprio, por muito que capte talvez bem, ou mal, o real que nem é meu nem me é próprio. Brentano explicava como a consciência, desfiada em cada um dos seus presentes ou agoras, é muito exactamente consciência: um presumíbel saber sobre algum outro como tal, ao mesmo tempo que um saber (nada presumíbel, mas certíssimo) sobre esse saber. Usando as úteis, mas sempre perigosas, metáforas da visón, de frente vemos com a consciência as cousas diferentes de nós mesmos; com o “canto do olho” vemos que estamos a olhar para elas. E, entón, apercebemo-nos que este “conhecimento concomitante” ou que “acompanha” o presumíbel conhecimento frontal de outras cousas nunca pode (na opinión de Brentano) faltar quando nos diriximos à realidade que non somos. Nón podemos deixar de notar que notamos o outro. E notamos que somos nós mesmos em cada caso notando o outro de nós mesmos. O facto de “notar” ou de “mentar” tem esta dupla propriedade: dirixe-se imaterialmente ao outro de maneira directa, mas também se dirixe a si mesmo, non menos imaterialmente, non menos directamente, mas sem que ele mesmo sexa o seu tema, porque o seu tema som as outras cousas.

MIGUEL GARCÍA-BARÓ

Deixar un comentario