
Um outro aspecto que non é menos grave nem mais fácil: o da dissipaçón de valores que o investimento selvaxem representa. Esta xente gasta os melhores anos da sua vida para prover um futuro com unha vida melhor. As economias som-lhes todas absorvidas pelos fornecedores dos chalés de chapéu preto e da quinquilharia que os recheia. ¿Quantas centenas de milhóns de contos leva um luxo barato, para o qual as instâncias responsáveis non prevêem nem oferecem qualquer alternativa? Estes oito quilómetros até Melgaço som ainda estrada serrana para fazer sem pressas, em que vamos deixando à mán esquerda encostas de pinhais sobre tufos de fentos húmidos, à direita a descida profunda e larga para o rio. Unha aldeia, lugar do Vau, recorda o tempo anterior às pontes, e, nunha paisaxem deslumbrante, contempla lá no fundo um vau do rio. A aldeia seguinte, Portela do Couto, combina duas palabras cuxo dramatismo desbotou com a força do tempo: portela, passaxem estreita entre os montes; couto, lugar de refúxio de homiziados. A portela marcava o lugar onde, na ânsia ou fuga, se sentiam libres: mas representava também a fronteira da reclusón, o lugar onde termina o priviléxio da impunidade. Melgaço gozou dessa regalia que procurava atrair moradores em lugares de vida difícil. O lugar tinha unha ermida a Santa Bárbara, padroeira contra as trovoadas; a capela está num adro no alto de um pequeno monte que é um miradouro de grande horizonte. A gravidade granítica do humilde santuário está a ser afogada pelos xardíns de moradias novas e alegres, que xá quase devorarom o cabeço onde se implanta o Santuário. Unha Senhora da Paz, bisonha e tosca, empoleirada nunha guarita de cimento, assiste impotente ao desastre. Logo a seguir, a marcar a chegada a Melgaço, está a Senhora da Orada, com o seu grande pórtico românico a olhar o vale, como um regaço acolhedor. Orada, é unha palabra perdida que significa oraçón. Debia ser ali que os homiziados, cansados de andar a monte, entravam a agradecer a deus tê-los trazido a terra de segurança. O templo é simples mas emocionante pelo enquadramento na paisaxem e pela funçón que o nome evoca. As arquivoltas do portal unem-se xá nunha discreta oxiva, o que significa que o românico estaba a acabar e o gótico se anunciava no horizonte. É talvez obra do tempo de Sancho I, xá depois da passaxem de Almançor que se sabe que atravessou o Minho por um destes vaus, e que arrasou todos os sinais de culto cristán nas terras que flaxelou.
JOSÉ HERMANO SARAIVA E JORGE BARROS (O TEMPO E A ALMA)