HERMENÊUTICA (A ARTE DE NON TER RAZÓN)

Como puro método, a hermenêutica é necessária, non apenas importante; mas isto non passa do óbvio. Consideremo-la nos fenómenos em que se torna patente. Em primeiro lugar, claro, a empatía e, em especial, as situaçóns dialóxicas. Compreender o outro é um problema extremamente complicado, inclusive se o que nos estiver a oferecer quase non for mais do que unha liçón de algunha ciência. Mas suponhamos que a conversa que mantemos com ele se refere ao relato de algum incidente que lhe ocorreu e lhe parece importante partilhar connosco. Ele chegou a determinadas conclusóns, por exemplo, sobre a conducta de alguém que ambos conhecemos; agora propôs-se a dar-me a entender que essas conclusóns som completamente evidentes, naturais e que me obrigam, a mim, tanto como a ele próprio. Non usará a estratéxia de me apresentar algo como unha espécie de “argumento formal”, mas limitar-se-á, antes, a relatar o sucedido e intercalará comentários do estilo “compreenderás que depois disso, eu xá… Mas nós conhecemos, de facto, outros comportamentos da pessoa em causa que non som agora reveláveis sem mais, mas que nos fán pensar que a explicaçón para a conducta que nos está a ser exposta é muito diferente de como o interlocutor a considera. Se extremássemos o exemplo, obteríamos, em seguida, algo como unha situaçón em que se oponhem duas actitudes perante a vida ou até duas confissóns relixiosas, que mais ou menos casualmente ou de propósito, decidiram entrar em algum tipo de diálogo (com o obxectivo muito provável de solucionar um problema que obstaculiza a quotidianidade dos interlocutores). A práctica da hermenêutica, como pôde dizer-se com certa graça, é, em princípio, a “arte de non ter razón” ou, pelo menos, de poder non a ter (assim titula Agustín Domingo um brilhante ensaio sobre estes assuntos, retorcendo o conhecido título de Schopenhauer), dado que o primeiro movimento é o de unha certa abstençón ou um certo distanciamento daquilo que eu mesmo defendo, para poder salvar de algunha maneira a “proposiçón” do meu companheiro de diálogo. Como se costuma dizer, se non me ponho no lugar de quem me fala, non tenho possibilidade de o compreender e nem mesmo compreender o que me está a dizer. Ele podería ter razón, xustamente a razón ou parte da razón que a mim talvez me falte. Se non entrar no diálogo com este pressuposto, simplesmente non entro no diálogo; dedico-me a algo como um interrogatório policial ou um exame, do qual só pode sair unha qualificaçón (sempre inferior à que o examinador se dá a si próprio), ou entón a expediçón, possíbelmente a contragosto, de um certificado de boa conducta, com certas reservas oportunas. Non há diálogo se non for possíbel non ter razón!

MIGUEL GARCÍA-BARÓ

Deixar un comentario