Arquivos diarios: 13/12/2019

VOLTAIRE (PENSAR POR SI PRÓPRIO)

Algo partilhado por todos os pensadores iluministas em xeral e pelos apelidados “philosophes” ou enciclopedistas em particular é que, como bem refere Cassirer, associam sempre a teoria à práctica, nunca separam o pensar do axir e xulgam poder traduzir directamente um no outro, confirmando mutuamente a sua validade. Estavam muito conscientes de que a sua cosmovisón podia remodelar o “statu quo”. O obxectivo de Diderot com a “Enciclopédia” era contribuir para mudar a forma comum de pensar, entendendo por isso a entrega acrítica aos estereótipos, deixando-se guiar por eles. Um desexo que costuma caracterizar os filósofos do século XVIII é o de fomentar a reflexón por conta própria, esse “pensar por si próprio”, que Kant converterá no lema do Iluminismo. Se algunha cousa une todos os filósofos do Iluminismo é o facto de se considerarem a si próprios defensores dos direitos humanos e de pretenderem melhorar a realidade através das suas formulaçóns e ideias, à marxem da idiossincrasia de cada um. Como é evidente, isto é válido especialmente para Rousseau e Kant, bem como para Diderot e Voltaire. Entre muitas outras cousas, Voltaire desperta um enorme interesse por estar sempre a transitar entre dous mundos. É unha ponte entre o Antigo Rexíme e a Revoluçón Francesa, entre a burguesia emerxente a que pertencia e a nobreza de antiga linhaxem com a qual privou. Sem ser ateu como Diderot, o seu deísmo non o impediu de combater a superstiçón e os dogmas de um catolicismo antiquado. O seu proverbial pragmatismo permitia-lhe abster-se de procurar respostas para perguntas incompreensíveis. Para poder usufruir da sua independência, acumulou unha considerábel fortuna e a partir dessa posiçón privilexiada fez de paladino das víctimas de qualquer inxustiça. Voltaire foi parar à Bastilha, a prisón que sería tomada polos revolucionários franceses, e chegou a ser camareiro-mor do rei da Prússia. Voltaire inventou-se a si próprio e, como bom dramaturgo, foi escrevendo várias vezes o guión da sua própria personaxem, pois non foi em ván que a sua vida decorreu entre bastidores, que as suas casas dispunham de um teatro e que, em mais de unha ocasión, interpretou um ou outro papel, escrito por si próprio. Até o seu nome é inventado e non deixa de ser um anagrama com unha certa aura de mistério, xá que há várias hipóteses a esse respeito. Agora, vaiam para o vosso lugar preferido e ponham-se à vontade, porque a peça está prestes a começar.

ROBERTO R. ARAMAYO