
Mais dotado de boa vontade que de um forte desexo de defesa, um estudioso chegou mesmo a suxerir que um facto nunca pode servir de argumento para desmantelar unha teoría que estabelece precisamente o que é um facto, e o que tem direito a ser qualificado como tal: “Que factos inscriptos na história das ciências, das culturas, dos povos, podem ser contrapostos a unha teoria – a unha ordem fundada do discurso – que estabelece precisamente aquilo que tem direito a ser considerado como um facto?”. Non será este o único exemplo que, desde xá, pode levar o leitor a perguntar-se: porque me vou ocupar de um pensador como este? Que interesse tem unha pessoa que mede os avanços da ciência em funçón da sua adequaçón ou non às suas próprias construçóns? O filho de Posídon, Damastes, transformado em hospedeiro da cidade de Elêusis, foi alcunhado de “o esticador” (Procusto), graças ao curioso método que tinha para conseguir que, fosse qual fosse o tamanho do seu hóspede, este se axustasse exactamente às medidas do seu leito de ferro: se a sua estatura fosse baixa, esticava-lhe as pernas até as deformar, e se fosse demasiado alto, cortava-lhe a parte sobrante. Se, além disso, acrescentarmos que o tamanho da cama estaba concebido de maneira que ninguém se axustasse exactamente a ele, temos a característica do sistema hegeliano: nenhum dacto concorda com o sistema, e, no entanto, força-se até que acabe por se axustar.
VÍCTOR GÓMEZ PIN