.

Muito pouco sabemos da vida do Arcipreste de Hita, chamado Juan Ruiz. No códice de Salamanca, um dos três, nos quais se conservou o “Libro de Buen Amor”, no seu famoso poema, escrebe: “Fija, mucho vos saluda uno quë es de Alcalá”, o que leva a suspeitar haber nascído em Alcalá de Henares (probabelmente a finais do século XIII) ou polo menos viveu habitualmente nessa terra, ou lugares colindantes, às quais corresponde a maior parte das mençóns xeográficas da obra. Talvés Juan Ruiz estudara em Toledo, centro naquela época de confluênça das culturas euro-cristáns e musulmana. Foi Arcipreste de Hita, e, por causas desconhecídas, parece ser que padeceu prisón durante certo tempo, por ordem do Cardeal Gil de Albornoz, arzobispo de Toledo. Possibelmente escrebeu no cárcere parte do seu poema; o escritor alude concretamente ao seu cautiveiro em vários pasaxes do libro, todos eles pertencentes à segunda redacçón, é dizer, à conservada no códice de Salamanca. Nas três primeiras estrofas fala da prisón em que se encontra: “Señor Dios, que a judiós, pueblo de perdición, / saqueste de cativo del poder de Faraón, / a Danïel saqueste del pozo de babilón: / sacä a mí, coitado, d’esta mala presión”. Desconhece-se quando morreu; mas em 1351 o arciprestazgo de Hita, xá non estaba rexentado por el. O Arcipreste informa-nos no seu libro, de que compuxo muitos cantares para xentes dadas à diversón ou dedicadas ao ofício xugraresco, o qual permite ver que foi a sua vida farto desenvolta e que andaba em companhias pouco apropriadas para a sua condiçón sacerdotal: “Después muchas cantigas fiz de dança e troteras / para judías e moras e para ëntenderas; / para ën estrumentes, comunales maneras: / el cantar que non sabes, oilö a cantaderas”. “Cantares fiz algunos de los que dizen ciegos / e para ëscolares quë andan nocherniegos, / e para otros muchos por puertas andariegos, / caçurros e de burlas: non cabrién en diez pliegos”. Juan Ruiz foi, efectivamente, um clérigo axograrádo, donheador alegre, que “sabe los estrumentes e todas juglarías”, de vigorosa e sensual humanidade, em cuxa obra encontram-se os únicos ecos da poesía goliardesca em fala castelán. O Concilio de Toledo de 1324, lamenta que os mesmos prelados daquela archidiócese se gozem no liviano espectáculo das soldadeiras. “Juan Ruiz, clérigo do mesmo arzobispado, non representa, em consequência, um caso escandaloso polo feito de conviver com soldadeiras, troteiras e cazurros; non é, pois, um clérigo rebelde, mal avíndo com o seu hábito, senón producto típico de unha época desmoralizada”. Juan Ruiz, talvez baixo a influênça de Ovidio, “sermonea contra o vinho e a gula, contra os dados e o tabuleiro”. Non existindo pois, nem rebeldia espiritual, nem motivos tabernários, nada goliardesco ficaría no Libro. Mas, Menéndez Pidal subraia os muitos aspectos doutra índole, comuns ao “Libro de Buen Amor” e aos “Carmina Burana” ou aos poemas atribuídos ao fictício Golías, ou ao arcediano de Oxford, Gualterio Map: a tendencia à erudicçón escolástica, em especial dos autores clássicos; a multidón de pensamentos e asuntos referídos ao amor, ou mais bem ao apetito amoroso; as sátiras contra o clero, os prelados e a curia romana; a paródia dos rezos clericais; as propriedades do dinheiro; o esmero na arte de versificar, em fazer trovas “sem pecado”; e sobre tudo “é muito goliárdico o deleite no áspero choque entre o relixioso e o profano, entre o serio e o burlesco, entre o bom amor e o amor louco; é goliárdica, finalmente, a mesma abigarrada contextura do Libro, que se corresponde em certo modo com a “Confessio Goliae”, “até o metro de cuartetas monorrimas na qual as duas obras están escritas. As diferenças som, à sua vez, fundamentais: assim como Golias se acusa tanto dos pecados de Venus, como dos do xogo, da ebriedade e da gula. Juan Ruiz, somente retém os temas amorosos, mas rechaza o xogo e a taberna; e non se arrepende, em absolucto, destes desarranxos amatórios, senón que os colhe como tributo irrecusábel às vitais esixências da humana natureza. Este carácter amatorio, paganamente gozador, que parece rezumar por todo o poema, unido, por outra parte, e as repetidas declaraçóns moralizadoras que o autor fai, prantexou desde antigo o problema de discernir a autêntica personalidade do Arcipreste, e, consequentemente, a verdadeira intençón do seu Libro.
LO QUE PUEDE EL DINERO
Hace mucho el dinero, mucho se le ha de amar;
Al torpe hace discreto, hombre de respectar,
hace correr al cojo al mudo le hace hablar;
el que no tiene manos bien lo quiere tomar.
.
También al hombre nécio y rudo labrador
dineros le convierten en hidalgo doctor;
Cuanto más rico es uno, más grande es su valor,
quien no tiene dinero no es de sí señor.
.
Y si tienes dinero tendrás consolación,
placeres y alegrias y del Papa ración,
comprarás Paraíso, ganarás la salvación:
donde hay mucho dinero hay mucha bendición.
.
El crea los priores, los obispos, los abades,
arzobispos, doctores, patriarcas, potestades
a los clérigos nécios da muchas dignidades,
de verdad hace mentiras, de mentiras hace verdades.
.
El hace muchos clérigos y mucho ordenados,
muchos monjes y monjas, religiosos sagrados,
el dinero les da por bien examinados,
a los pobres les dicen que no son ilustrados.
.
Yo he visto a muchos curas en sus predicaciones,
despreciar el dinero, tambíen sus tentaciones,
pero, al fin, por dinero otorgan los perdones,
absuelven los ayunos e ofrecen oraciones.
.
Dicen frailes y clérigos que aman a Dios servir,
más si huelen que el rico está para morir,
y oyen que su dinero empieza a retiñir,
por quién ha de cogerlo empiezan a reñir.
.
En resumen lo digo, entiéndelo mejor,
el dinero es del mundo el gran agitador,
hace señor al siervo y siervo hace al señor,
toda cosa del siglo se hace por su amor.
.
ARCIPRESTE DE HITA
JUAN LUIS ALBORG