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Dez de Xulho de 1952, voámos à Geórxia. Descida em Kharkov, em Rostov, ainda non curadas inteiramente dos estragos feitos polos invasores. Observaçóns dos intérpretes, a confundir-se com factos vagos, apanhados anos antes nos xornais; unha curiosidade inútil, provisória, a soltar-nos a língua: — ¿O ucraniano é muito diferente do russo, non é verdade, Madame Nikolskaya? — Non, é parecido. Entende-se. Bem, unha indicaçón, perfeitamente desnecessária. ¿Que plantas seriam aquelas? Cereixeiras. Muito bem. Non me sendo possíbel dizer qualquer cousa sobre a literatura da Ucrânia, referir-me-ia, quando falasse na viaxem, às cereixeiras floridas que adornam o xardím do aeródromo, em Kharkov. — ¿Aquele rio é o Don? — Talvés sexa, respondeu Tchugunov. Outra noçón razoábel. O casario enorme era com certeza Rostov. Cócegas arranhavam-me a garganta — o desexo de mencionar um daqueles xenerais mozos que ali abtiveram fama rápida aniquilando o inimigo. Infelizmente essa matéria exacerbava os meus novos amigos. Dias atrás, esquecendo experiências goras, desacautelara-me em conversas no hotel, bulira no assunto desagradábel, casa de maribondos. A Senhora Nikolskaya, tán amábel, tán boa, exaltara-se: “Perdemos dezassete milhóns de homes. ¡Isto, foi o que os nossos aliádos nos déron, camións velhos e ovos podres!”. Quedou muito vermelha e com a voz entrecortada; afinal deixou a mesa, enxugando os olhos. Pessoas estranhas! Nem permitem que aludamos aos seus heróis. De novo no ar, afastava-me deles, nunha corrida louca, avizinhava-me de um herói diverso, muito velho, amarrado ali à esquerda, o figado roído por um abutre, na montanha clássica envolta em nuvens, coberta de neves perpétuas. A venerábel antiguidade arregalava-me os olhos. Buscando, entre rasgóns de nevoeiro, o ponto onde se debate a hepatite milenária, espantáva-me de unha extravagância dos nossos hospedeiros: non queriam admitir que voássemos sobre terra asiática. — Mas o Cáucaso é limite da Europa, Kaluguin. Sempre foi. ¿Entón? Deixámos o Elbruz e o resto. Estamos na Ásia! O redactor de “Tempos Novos” non se convencia. Diante da minha insistência, falou baixo a um suxeito de propósitos conciliábeis: xeograficamente a Geórxia estaba na Ásia; politicamente, na Europa. Non me conformei, resmunguei. — Desse xeito, acabam pondo a Sibéria na Europa. A minha xeografia do princípio do século tinha para mim grande valor: non debiam mexer nela. Descida em Sukhumi, capital da Abkhasia. Esses nomes entravam-me nas orelhas duras — e confessei humilhado que os meus conhecimentos non chegavam aí. Outra vez no ar, outra vez em terra. Tbilissi. Como? Isso mesmo, Tbilissi, a famosa Tíflis, a cidade mais notábel da Transcaucásia no meu tempo de criânça. Ainda hoxe é assim. Mudaram-lhe o nome, ou antes, derom-lhe o nome antigo. Tíflis é a traduçón russa de Tbilissi, explicarom-me. Ouvim distraído. O que tinha importância era achar-me nunha rexión inconfundíbel, isenta de mudanças: ao norte, Prometeu seguro à pedra, um bico a lacerá-lo, e à direita, num ramo do Cáucaso, no monte Ararat, a barca de Noé encalhada, esperando que os nossos avôs saíssem dela, Sem, Cam e Jafet, orixem de brancos e negros, etc…, até de americanos, filhos de Deus talvez, possíbelmente. Erudiçóns pegadas na aula primária. Enfim estaba alí, ao alcance da nossa vista, a xente mais bela do mundo, raça caucasiana, tipos perfeitos. De um lado, a xeraçón de Jafet; do outro, resíduos dos navegantes que aqui vieram buscar o “Velocino de Ouro”, uns ladróns, está claro. Mas isto non me inquietava. Na troca de moedas, hoxe — quantos furtos! Ia lá pensar nas ladroáxens, nas patifarias dos gregos épicos? Esses productos das lendas, canalizados pola arte, davam-nos prazer e non nos furtavam nada. Alí perto, na vizinhança do hotel, as criaturas mais belas da humanidade. Necessário ver essas estátuas de carne e osso, procurar algunha cousa dentro delas. Se non tivéssemos êxito, na semana exígua que nos concediam, xulgaríamos de mármore as figuras vistas na rua — e o nosso respeito às imaxens admiradas em libros permaneceria. Um rapaz narigudo e unha senhora idosa, levaram-me, explicando-se em francês, a esquecer por instantes que desembarcara num museo de preciosidades humanas. Larguei a tradiçón, fixeime na realidade e nas bagaxens. A mulher grisalha, magra, rápida em excesso, fêz-me subir escadas e entrar num apartamento no segundo andar; voltou, levou-me ao bufete, onde bebi um copo de vinho, que xustificaba bem a carraspana do pau-d’água bíblico. — Non é preciso pagar. Á saída, tirei do bolso um cigarro. Nesse ponto dei de cara com o moço de nariz grande, alto, lixeiramente curvo, os olhos miúdos e vivos. Deteve-me, ofereceu-me um cigarro. — Obrigado, xá tenho. — Faga o favor de aceitar este, disse o home. Non habia meio de recusar. Com vinho e tabaco esses dous xeorxianos peitaram-me, logo à chegada (12 de Xulho de 1952).
GRACILIANO RAMOS