
O que vimos até aqui parece non deixar dúvidas de que o obxectivo de Hume é destruir a base racional da crença em Deus, o que fai apontando bacterias ao argumento “a priori” e, sobretudo, ao “argumento do desígnio”, os quais eram, na sua época, os principais sustentáculos do teísmo e da relixión tradicional. É, pois, com estranheza que vemos, no início da Parte XII, Fílon renunciar (ou polo menos, assim parece) a tudo o que tinha anteriormente estabelecido e confessar tanto o seu zelo relixioso como a evidência de desígnio: “(…) ninguém tem um sentimento relixioso mais intenso gravado na sua mente ou presta unha adoraçón mais profunda ao Ser divino, tal como ele próprio se revela à razón na invençón e artifício inexplicábeis da natureza. O pensador mais neglixente e estúpido descobre um propósito, unha intençón ou um desígnio em qualquer lugar; e ninguém pode estar tán habituado a sistemas absurdos que rexeite isso sempre.” Esta reviravolta inesperada de Fílon, assim como algunhas afirmaçóns que ocorrem em outras obras de Hume e que parecem ser de sincera relixiosidade, deram orixe ao “enigma de Hume”, isto é, ao problema de saber qual o seu ponto de vista em matéria de relixión. Esta questón tem interessado comentadores e estudiosos, que para ela têm encontrado por vezes respostas muito diferentes. J. C. A. Gaskin, por exemplo, pensa que Hume, apesar do ataque devastador à relixión, acredita num deus. Esta crença é alimentada polo sentimento de desígnio e encontra unha base racional, embora fraca, no reconhecimento de que a ordem da natureza pode ser explicada como a obra de um axente. Gaskin chama a este ponto de vista “deísmo atenuado”. Anthony Flew, por outro lado, non hesita em considerar Hume um descrente e um agnóstico. E Joao Paulo Monteiro também non tem dúvidas em afirmar que Hume é agnóstico. Para quase todos, no entanto, a mudança súbita de ideias de Fílon, na Parte XII dos “Diálogos”, fai parte das estratéxias com que Hume procura dissimular os seus pontos de vista e evitar a ira e as perseguiçóns dos seus contemporâneos, mais zelosos dos valores e dos interesses da relixión.
DAVID HUME (DIÁLOGOS SOBRE A RELIXIÓN NATURAL)