Arquivos diarios: 16/04/2023

NIETZSCHE (A “VONTADE” DE QUERER PARA TRÁS)

Esta é a noçón nietzschiana de “amor fati” ou amor polo destino (fatum, em latim). Querer que tudo sexa tal como é: “Non querer que nada sexa distinto nem no passado nem no futuro, nem por toda a eternidade”. O imperativo do eterno retorno prescreve-nos abençoar a vida com todas as suas contradiçóns, santificar o caos universal. Nada é supérfluo. Todas as cousas som igualmente valiosas. Xá non é preciso “fazer a guerra ao feio”, pois tudo o que existe nos parece belo. O mundo inteiro é obxecto do nosso amor incondicional. Amar o próprio destino é inseparábel de um estado de beatitude, um gozo supremo reservado a quem non necessita de Deus para que o mundo sexa motivo de celebraçón. Se o êxtase tráxico conseguía transportar-nos para além do espaço e do tempo até ao reino do dionisíaco, o “amor fati” é unha espécie de êxtase invertido, um êxtase do mais aqui. Concentrados por completo no aquí e no agora, xá non necessitamos do escapismo estéctico. A crua realidade embriága-nos. O círculo é o símbolo do que está fechado, do que é autosuficiênte. Ao entender o tempo como unha serpente que morde a cauda, Zaratustra “devolve a sua inocência ao devir”. A história do mundo liberta-se do “servilismo da finalidade” e autonomiza-se. Xá non é válido interpretar as cousas franzindo a testa e perguntando-nos para quê? Em vez disso, Zaratustra convida-nos a dançar enquanto assentimos com a cabeça, embebidos de um “amor fati” que redime um mundo fechado sobre si mesmo. A “vontade” pode, por fim, salvar o seu máximo obstáculo: a irreversibilidade do tempo. A nossa faculdade de querer tem as vistas postas no futuro e vira as costas ao passado. Querer significa cravar unha meta no porvir, no território do possíbel; em contraste, non dispomos de unha máquina do tempo que nos permita emendar os erros do passado. “O que passou passou” é unha evidência que nos faz ranxer os dentes. Mas Zaratustra diz-nos que a “vontade” também é capaz de “querer para trás”. Ensina-nos a transformar qualquer “passou” num “assim o quis eu!” – ou melhor ainda, num “eu quero-o assim! “Eu querê-lo-ei assim!”. Tendo superado o seu principal obstáculo, a “vontade” é agora um autêntico “libertador e portador de alegria”.

TONI LLÁCER