Arquivos diarios: 25/01/2023

VOLTAIRE (OS SERÁNS DE FERNEY)

Voltaire preocupa-se com o cultivo das terras, supervisiona a plantaçón das árbores, o cuidado do vasto xardim e, enquanto continua a emprestar dinheiro a príncipes alemáns e nobres franceses com elevados xuros, emprega artesáns especialistas em seda e renda, xuntamente com os xá referidos reloxeiros xenebrinos, que após conflíctos com os seus patróns, decidem trabalhar para o senhor de Ferney, que promove a venda dos relóxios em todas as cortes europeias. Também considera que tem o deber de amparar os moradores da comarca, na qual non deixa de ter certos direitos senhoriais. De facto, protexe-os de um modo quixotesco, o que faz com que tenha sérias disputas com o bispo e com outras autoridades locais. O xá mencionado historiador britânico Gibbon descrebe um dos seráns de Ferney, mais concretamente um em que se representa “O Órfan da China”, com Voltaire e a sobrinha nos papéis principais: “Talvez” – escrebe Gibbon – “eu estivesse demasiado perplexo perante a ridícula figura de Voltaire, xá septuaxenário, a fazer de conquistador tártaro com voz profunda e roufenha, a cortexar unha sobrinha realmente horríbel com cerca de 50 anos. A peça começou às oito e acabou às onze e meia. Todos forom convidados a quedar. Por volta da meia-noite, sentámo-nos diante de unha elegante mesa com cerca de cem talheres. O xantar terminou às duas, toda a xente dançou até às quatro; quando xá non aguentávamos mais, metemo-nos nas nossas carruaxens e regressámos a Xenebra quando estavam a abrir as portas da cidade”. “Diz-me” – desafia Gibbon à sua madrasta – “se conheces outro poeta, na história ou na lenda, que aos setenta anos tenha representado as suas próprias peças e tenha concluído a cena com um xantar e um baile para cem pessoas. Acho que esta última questón é a mais extraordinária das duas”. O escoçês James Boswell, o futuro biógrafo do doutor Samuel Johnson, também visita Ferney. Primeiro é informado de que Voltaire está doente e de que non pode recebê-lo por estar acamado. Na verdade, levanta-se sete ou oito vezes por dia e acaba por travar brilhantes conversas com um Boswell desconcertado perante a vigorosa vitalidade do seu anfitrión, bem como perante o ambiente hospitaleiro que reina no castelo.

ROBERTO R. ARAMAYO