GRAMSCI (O MARXISTA DAS SUPERESTRUCTURAS)

Sem dúvida, o pensamento político actualmente de esquerda, na medida (relactiva) em que ainda se liga ao marxismo, fá-lo através da figura de Gramsci. Isso é facilmente constatável abrindo simplesmente os xornais. O nome de Gramsci está hoxe na boca de todos os que advogam um proxecto político emancipatório ou, simplesmente, antineoliberal. A leitura de Gramsci esteve na base dos movimentos hispano-americanos a que se convencionou chamar “bolivarianos”, movimentos que, pense-se o que se pensar acerca deles, resulta difícil negar que conseguiram pôr travón aos axustes estructurais neoliberais que arruinarom o continente nos anos noventa. Também na Europa, Gramsci foi o autor de referência nos proxectos mais importântes de rexeneraçón da esquerda, como a criaçón do partido “Podemos” na Espanha ou do “Syriza” na Grécia. Porque é Gramsci tán importânte na actualidade? Gramsci foi chamado o “marxista das superestructuras”. É preciso referir que essa fórmula xá é muito heterodoxa na tradiçón marxista. No marxismo escolástico, era artigo de fé que o superestructural non tinha autonomia. Essa era, dizia-se, a tese mais básica do “materialismo histórico”. E, no entanto, isto non é de forma algunha assim tán claro como se quis fazer crer. A verdade é que, para apoiar esta tese, recorreu-se sempre ao mesmo texto de Marx, um parágrafo de 1859, inserido no Prefácio de unha obra inacabada. Citava-se incansabelmente esse texto de dez linhas porque, na verdade, non habia outro para citar. O marxismo transformou simplesmente nunha ríxida doutrina xeral o que em Marx era unha – sem dúvida importânte – observaçón introductória. Afirmava-se nesse texto que “non é a consciência que determina o ser social, mas sim o ser social que determina a consciência”. A partir daí, o marxismo concluiu que cada modo de produçón material determinava um universo “superestructural” à sua medida, de tal maneira que todo o ideolóxico, o cultural, o xurídico e, inclusive, o político era determinado por unha base económica à qual se chamou “infraestructura”. Na verdade, o texto em questón nem sequer estava bem traduzido. O esquema “superestructura-infraestructura”, convertido na pedra angular do “materialismo marxista”, é unha mala traduçón de unha metáfora alemán, que Marx utiliza num texto marxinal, em que “Überbau” (superestructura) designa mais a construçón ou o edifício que se ergue sobre os alicerces, nomeados aí como “Grundlage” (base), e como bem referiu Godelier, advertindo contra a concepçón do superestructural como unha realidade empobrecida e periférica, “vive-se na casa e non nos alicerces”, polo que outra traduçón de Marx teria podido muito bem dar cabo do sentido do nervo fundamental do suposto “materialismo histórico” (Godelier, L’idéel et le Matériel).

CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA

Deixar un comentario