
Fazer referência de forma detalhada á vida de Baruch de Espinosa pode constituir, bem vistas as cousas, um novo paradoxo no decorrer deste libro. Acabámos de dizer que, de acordo com a visón espinosista, o mundo, ou Natureza, ou Deus, consiste nunha ordem ou conxunto de leis universais e necessárias, que rexem tudo sem excepçón, incluindo cada ser humano particular. Examinar a vida do ser que concebeu estas ideias parece unha traiçón, tanto às ideias como ao home, um homem que, xá agora, fica muito escondido por detrás do seu sistema racionalista e do seu método xeométrico. No pensamento espinosista, o mais determinante é o universal, a ordem xeral, ficando o particular e individual subsumidos. Assim, insistir no particular poderia parecer unha contradiçón irreflexiva. No entanto, o erro desvanece-se se tivermos em conta (como se verá mais à frente) que non é por obedecer a unhas leis universais que o individual desaparece, que, mesmo na causalidade universal, o indivíduo consciente possui a liberdade. A biografia de Espinosa apresenta várias lacunas difíceis de colmatar. A falta de documentos deve-se a factores como a discréçón da sua comunidade xudaica, o carácter reservado do próprio Espinosa e a vida afastada e solitária que adoptou. A sua correspondência. de enorme valor filosófico, quase non tem informaçóns biográficas, quer porque o próprio filósofo foi parco em fornecê-las quer porque os amigos que se encarregaram de as compilar e editar preferiram omitir as referências pessoais. Os textos fundamentais sobre a vida do pensador de Amesterdam consistem na nota que Jarig Jelles, amigo do filósofo, colocou no início da sua obra completa, publicada postumamente, e em quatro breves biografias escritas pouco depois de Espinosa morrer: a do estudioso Pierre Bayle (1697), a do professor de teoloxia Christian Kortholt (1700), a do pastor protestante Köhler (latinizado Colerus) (1705), que ficou aloxado durante algum tempo na mesma hospedaria de Haia em que Espinosa residira, e a do médico calvinista Jean Maximilien Lucas (1719). É preciso destacar que as três primeiras foram escritas para negar as ideias de Espinosa, e que contêm abundantes vitupérios: Bayle apelida a sua doutrina de “a hipótese mais monstruosa que é possíbel imaxinar e a mais diametralmente oposta às nocóns mais evidentes do nosso espírito”, Kortholt qualifica o autor de “ateu manchado, impío e alma impura”, e Colerus como “o mais impío ateu que algunha vez existiu no mundo”; neste sentido, estamos lonxe de um ideal de biografia obxectiva. Ainda assim, nenhum dos três esconde o respeito que têm por um home como Espinosa e, segundo os estudiosos actuais, é preciso dar crédito à maior parte das informaçóns factuais que nos transmitem. Por outro lado, a biografia de Lucas é muito idealizada em todos os aspectos; o autor afirma que foi amigo pessoal de Espinosa e apresenta as ideias do filósofo mediante o orixinal recurso literário de fazer com que sexa Espinosa a expô-las na primeira pessoa. A informaçón sobre a vida de Baruch completa-se com vários documentos de tipo administrativo, que os investigadores foram resgatando do esquecimento nunha prolongada procura ao longo do tempo, e que Atilano Domínguez reuniu no seu muito recomendável volûme, bem como unha miscelânea de notícias espalhadas provenientes de testemunhos pessoais contemporâneos.
JOAN SOLÉ