O ILHA (7)

CONTOS DE UMA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO I)

A porta fechou-se nas minhas costas. Olhei em frente. Um muro mal-encarado enfeitado com arames farpados impunha-se sobre a correria dos internos. A primeira imagem do Colégio nao podia ser mais terrorífica. A minha primeira sentença nao poderia ser mais verdadeira: “estou lixado”. Passaram os dias e aprendi a queimar energias e sonhos a correr atrás de uma bola. Passaram os dias e soube que se podia ser prefeito mal sabendo ler. A vara mágica da sabedoria dos prefeitos chamava-se: estalada. Fui iniciando-me nos códigos com pausa e espanto. Talvez, o mais cruel era o infringido pelos próprios colegas ao abrigo da prática-tradiçao académica. Mas, quem permitia e alentava essa prática crua e estúpida nao só era mais cruel; era bastante mais animal. Aqueles jovens nao eram mais que o reflexo da burrice dos adultos. Hoje, essa forma de festejar a tradiçao chamar-se-ia: acosso escolar. Está condenado. A voz de abaixa a cabeça soava com domínio e humilhaçao. O bater da colher de pau (na cabeça, nem mais, nem menos…), era o castigo e o direito que um mequetrefe tinha sobre outro mequetrefe. Era a barbárie. A tradiçao obrigava o direito a ser selvagem com o teu semelhante. O valor humano como conceito nesta tradiçao é nulo. Nao se ensina a ninguém a receber o seu semelhante com práticas de submetimento. O valor, o humano é abrir-lhe os braços para que se sinta querido e bem recebido. Eram três meses de suplício. O choque da adaptaçao nao podia ser mais inumano. O trauma de sair á rua coroado era marcante. O Colégio nao merecia fechar pelo que fechou, mas, por estas e por outras merecia ser fechado e bem fechado. Os “ocupas” estenderam os pés sobre as carteiras para outros fins e nao para abolir, ao som da Liberdade do 25 de Abril, o horror pedagógico que reinava no CNA.

JOSÉ LUÍS MONTERO

Deixar un comentario