Arquivos diarios: 21/10/2021

FOUCAULT (O HUMANISMO, UM INVENTO RECENTE)

“Acredita-se que o humanismo é unha noçón muito antiga que remonta a Montaigne e mesmo para além dele. Ora, a palabra “humanismo” non está no “Dicionário clássico de françês, 1846”. Littré. De facto, com esta tentaçón de ilusón retrospectiva à qual se sucumbe com demasiada frequência, pressupomos de bom grado que o humanismo tem sido a grande constante da cultura ocidental. Assim, o que distinguiria esta cultura das outras, das culturas orientais ou islâmicas, por exemplo, seria o humanismo. Comovemo-nos quando se reconhecem as impressóns deste humanismo noutros lugares, num autor chinês ou árabe, temos a impressón de comunicar com a universalidade do xénero humano. Ora, non só o humanismo non existe nas outras culturas, como na nossa, provavelmente, non passa de unha miraxem. Na escola secundária, ensina-se que o século XVI foi o século do humanismo, que o classicismo desenvolveu os grandes temas da natureza humana, que o século XVIII criou as ciências positivas que permitiram, por fim, conhecer o home de maneira positivo-científica e racional, com a bioloxia, a psicoloxia e a socioloxia. Imaxinamos ao mesmo tempo que o humanismo tem sido a grande força anímica do nosso desenvolvimento histórico e que é finalmente a recompensa deste desenvolvimento, isto é, que é o princípio e o fim. O que nos maravilha na nossa cultura actual é a sua preocupaçón com o humano. E se se fala da barbárie contemporânea é na medida em que as máquinas ou certas instituiçóns nos aparecem como non humanas. Tudo isto é ilusório. Em primeiro lugar, o movimento humanista data de finais do século XIX. Em segundo lugar, quando se observam de perto as culturas dos séculos XVI, XVII e XVIII, constata-se que o home non ocupa nenhum lugar. A cultura está ocupada por Deus, polo mundo, pola semelhança das cousas, polas leis do espaço, e também polo corpo, polas paixóns, pola imaxinaçón. Mas o home em si mesmo está completamente ausente. Em “As Palabras e as Cousas” quis mostrar com que peças e com que fragmentos se compôs o home no final do século XVIII e princípios do XIX. Tratei de caracterizar a modernidade desta figura, e pensei ser importante mostrar o seguinte: que non é exactamente por causa de unha preocupaçón com o humano que se teve a ideia de conhecê-lo cientificamente, mas polo contrário: foi porque se construiu o ser humano como um obxecto de um saber possíbel que se desenvolveram a seguir os temas morais do humanismo contemporâneo, temas que encontramos nos marxismos brandos, em Saint-Exupéry e Camus, em Teilhard de Chardin, nunha palabra, em todas essas figuras descoloridas da nossa cultura.”

Michel Foucault, entrevista concedida a C. Bonnefoy, 1966.