Arquivos diarios: 19/10/2021

O ILHA (2)

“Nasci. Como toda a xente, também nasci. Devo o meu nome à lenda da minha casa e à minha madrinha Maria Rosa Montero. Caía o mês de Fevereiro de 1951 quando experimentei o frío de viver, fora do interior da minha mae: Rosalia Montero. Nado no interior da Galiza profunda, onde a modernidade da Revoluçón Industrial ainda nao arribara, começei a crescer pensando que era natural beijar a mao ao padre-cura. Na lenda da minha casa, estaba a lenda da casa pobre, que se vê obrigada a virar-se para a emigraçao. Cuba e Brasil, viram chegar os dois filhos varoes de Luís Giraldez. Manuel e José, reunidos posteriormente no Brasil, arrecadarom a sua fortuna. Regresando ao seu Ponte de Xil querido. Depois do seu retorno, encostáram-se a Lisboa. O carrossel familiar começou, entón, a desfilar cara a esta cidade na procura de manter o herdado. Sao já geraçoes; sou já eu; sou já um producto familiar de Rosalia Montero e José Maria Montero Giraldez. Um producto dos meus avôs paternos e também, em menor medida, da minha avó materna. Producto também do meu tio-avô paterno José Maria, conhecido pelo Arrasta; um homem que levou o Cinema e a Fotografia a unha aldeia onde a electricidade ainda era um bem a conquistar para e por muitos. Fui crescendo depois de sentir o frio de viver. Encostei-me, também eu a Lisboa, onde o meu Pai tinha um bar na fadista Rua da Palma, vulgar casa de pasto, que fez moda. Fui parar, por recomendaçao de Luís Mello, um aventureiro e grande melómano, ao maravilhoso Colégio Valsassina. Posteriormente, arrecadarom-me para um colégio já inexistente, situado na mística e misteriosa cidade de Tomar. Nem num, nem noutro, me consagrei como estudante, ainda que o fosse a tempo inteiro. Continuei a crescer. Comecei a sentir o beijo das musas e a aventura da letra escríta, baixo reaçao psicanalítica. No meu imaginário sentou-se Tristan Tzará. Na fonte da minha sabedoria, apareceu um Conde russo, chamado Bakunine. Comecei a alargar. Percorri terras do outrora, Reino de Leao. Tive filhos; dois filhos altos; fortes; iguais e inteligentes: José Luís e Ricardo. Escrevi. Penetrei no universo Underground. Fiz um curso de Literatura e Cinema. Colaborei em jornais de aquém e além Minho. E, continuei a escrever. Enchi gavetas; perdi maletas e escreví sem escrever. Comecei, entao, a limpar o pó. Comecei entao a viagem. Este sou eu, ou o eu que sei de mim.”

JOSÉ LUÍS MONTERO