Arquivos diarios: 11/09/2021

HANNAH ARENDT (UNHA DESCIDA AO HORROR ORGANIZADO)

Hannah Arendt ilustra muitas vezes os fenómenos políticos que analiza, recorrendo a obras da literatura. Neste caso, para examinar como se produziu o domínio imperialista em África, através do racismo e da burocracía, utiliza a obra de Joseph Conrad “O Coraçón das Trevas” (1899). Tendo como base unha viaxem que o próprio Conrad realizou no rio Congo, conta-nos a travessia de Charlie Marlow à procura de Kurtz, um empregado desaparecido da companhia de exportaçón de marfim, na qual ele próprio trabalhaba. A sua viaxem é unha descida aos horrores do colonialismo, expostos através do sistema burocrático da companhia inglesa, até encontrar um Kurtz mergulhado na doença e na loucura. Na viáxe de regresso polo rio, Kurtz morre, mas non deixava de exclamar as suas últimas palabras: “O horror! O horror!”. Neste caso, o horror surxe da desumanizaçón dos outros, num contexto de racismo burocratizado, que aniquilaba e massacraba a populaçón indíxena sem piedade. A viaxem de Kurtz é unha descida moral aos infernos, ao “impacto de um mundo”, diz-nos Arendt, “de infinitos crimes possíbeis no espírito do drama, pois a combinaçón do horror e do riso implica a total realizaçón de unha existência quase fantasmática”. Xá encontramos em Kurtz a ideia do mal radical como expressón da aniquilaçón da populaçón supérflua dos nativos e muitos dos comportamentos instalados posteriormente num rexime totalitário.

CRISTINA SÁNCHEZ