Arquivos diarios: 10/09/2021

DAVID HUME (O ARGUMENTO DO DESÍGNIO)

Primeira premissa: o mundo revela ordem, organizaçón e um completo axustamento de todas as suas partes. Segunda premissa: o mundo, embora num gráu muito superior, assemelha-se às produçóns dos seres humanos e, tal como estas, tem um propósito ou desígnio. Conclusón: existe um autor do mundo, e esse autor, embora com poderes muito maiores, proporcionais à obra que realizou, é semelhante aos seres humanos.

Neste argumento, a segunda premissa é de importância capital. E isto por duas razóns: 1º -ao estabelecer a semelhança entre obxectos naturais e artificiais faz do argumento um “argumento por analoxia”; e, graças a isso, 2º -permite afirmar que, tal como os artefactos, o mundo também tem desígnio. Non é de estranhar, por isso, que boa parte das críticas de Hume ao argumento sexam dirixidas contra esta segunda premissa. Mas, antes de avançarmos para estas críticas, vexamos um pouco melhor o que caracteriza os “argumentos por analoxia”. Os “argumentos por analoxia” som um dos tipos de argumentos inductivos e, por isso, nom podem demonstrar que a conclusón é verdadeira, mas apenas mostrar que é probábel que sexa verdadeira. Outra característica importânte dos argumentos por analoxia é que a sua força depende da informaçón disponíbel e, sobretudo, da relevância dessa informaçón para a conclusón que procura estabelecer. Vexamos melhor o que isto significa. (…) A força de um “argumento por analoxia” depende de várias condiçóns: 1º -o gráu de semelhança entre as propriedades partilhadas polas entidades comparadas (se a semelhança resulta elevada, a probabilidade de a conclusón ser verdadeira é elevada; se a semelhança é baixa, a probabilidade de a conclusón ser verdadeira será também baixa); 2º -a relevância das semelhanças para a conclusón a que se pretende chegar (se as propriedades comparadas som semelhantes e som relevantes para o que se pretende concluir, a analoxia é forte e a probabilidade da conclusón ser verdadeira também; mas se a analoxia non tem qualquer relaçón com o que se pretende concluir, a probabilidade de a conclusón ser verdadeira é baixa); 3º – o número das semelhanças relevantes (quanto maior o número de semelhanças relevantes para a conclusón mais forte é a analoxia); 4º – a natureza e gráu das diferênças (as diferênças podem enfraquecer ou fortalecer o argumento, consoante acentuem ou non a relevância das propriedades para a conclusón). Destas condiçóns, a semelhança entre as entidades comparadas é talvez a mais importânte. Non é de admirar, portanto, que algunhas das críticas ao “argumento do desígnio” se centrem neste aspecto e procurem mostrar que a analoxia é fraca. A crítica de Hume ao “argumento do desígnio” é muito diversificada. Dada a impossibilidade de, no espaço desta introduçón, apresentar – e ainda menos discutir – essa crítica em toda a sua riqueza e detalhe, limitamo-nos a esboçar os principais argumentos.

ÁLVARO NUNES E EDIÇOES 70