Arquivos diarios: 27/07/2021

DAVID HUME (UM HOME HONESTO)

Depois de ocupar alguns postos importantes na administraçón, consequência do seu trabalho em París, Hume estabeleceu-se xá definitivamente em Edimburgo, em 1769, e retomou a sua vida social. Foram anos felizes, até que, segundo as suas próprias palabras, na primavera de 1775, teve unha crise intestinal, que no início non o alarmou, mas veio a descobrir que era incurável e mortal. Perante a iminência do seu falecimento, Hume entreteve-se a inventar algunhas desculpas enxenhosas que supunha poder dar a Caronte (o barqueiro encarregado de passar os defuntos de unha marxem para a outra do rio Estige, segundo a mitoloxía grega) e imaxinando o que este lhe responderia. Assim, utilizando unha delas, Hume dir-lhe-ia: “Tenha um pouco de paciência, bom Caronte, eu estou empenhado em abrir os olhos do público. Se eu viver mais alguns anos, poderei ter a satisfaçón de ver o declínio de alguns dos sistemas de superstiçóns que hoxe vigoram”. Ao que Caronte, perdendo toda a sua moderaçón e compostura, respondería: “Seu pândego trapaceiro, isso só acontecerá daqui a muitas centenas de anos. Acredita que eu posso conceder-lhe um prazo tán longo? Entre no barco imediatamente, seu pândego trapaceiro e preguiceiro”. Parece evidente, portanto, que Hume non confiava num triunfo xeneralizado do ateísmo ou daquilo a que hoxe chamaríamos agnosticismo, no desaparecimento das crenças relixiosas da vida social, algo que, como veremos, representava um desafio ao seu pensamento crítico. Em qualquer caso, Hume conservou esse temperamento sereno no pouco tempo que lhe restava de vida. A 20 de Agosto de 1776 escrevia à condessa de Boufflers: “Vexo sem ansiedade ou pesar como a morte se aproxima gradualmente”. Cinco dias mais tarde, nas palabras do doutor Black, o médico que o atendia, falecia “num estado de ânimo tán sereno e tranquilo que nada poderia superá-lo”. O funeral tivo lugar quatro dias despois. Unha multidón congregou-se na rua para ver a saída do féretro de sua casa. “Ah, era um ateu”, ouviu-se alguém dizer entre a multidón, ao que outra pessoa replicou: “Non tem importância, era um home honesto”.

GERARDO LÓPEZ SASTRE