Arquivos diarios: 12/05/2021

DESCARTES (A DESCOBERTA DO MUNDO)

A pensón herdada da nái, apesar de tudo, non podía cobrir tantos anos de deslocaçóns e comodidades. Sexa como for, Descartes conta no Discurso que ao acabar os seus estudos se preparou para “ir conhecer o mundo” e, sabemos hoxe, que cumpriu à risca o seu plano. Vexamos as etapas dessa intensa “volta europeia”. A sua primeira paraxem foi a cidade holandesa de Breda, na fronteira entre os Países Baixos espanhóis (católicos) e as Províncias Unidas (protestantes), onde se alistou na guarniçón militar do príncipe calvinista Maurício de Nassau para se formar em enxenharia e técnica militar. Em Breda, enquanto resolvia um problema matemático num anúncio de rua, teve um feliz encontro com o xovem Isaac Beeckman. Este brilhante cientista holandês, seguidor de Copérnico e do novo atomismo mecanicista, ficou instantaneamente maravilhado com os dotes matemáticos do misterioso estranxeiro. Durante os anos de amizade que se seguiram, Beeckman estimulou a intelixência do filósofo apresentando-lhe problemas científicos de tipo práctico, em cuxa resoluçón Descartes tomou consciência das suas capacidades. Embora apenas dez anos depois se tivesse decidido a passar à escrita as suas ideias, ficou em dívida sincera para com o seu novo amigo: “Sois a única pessoa que me tirou da indolência e me fez recordar o que eu tinha aprendido e xá quase habia esquecido”. Mas a chegada a Breda deu-se no delicado momento em que unha discussón teolóxica acerca da predestinaçón no seio do protestantismo tinha provocado um início de guerra civil nas prósperas Províncias Unidas. A discussón xiraba à volta da questón de Deus ter escolhido de antemán as almas daqueles que se salvariam. Como para os calvinistas ortodoxos negar a dita tese implicava questionar a omnisciência divina e, para cúmulo, aproximar-se da doutrina católica do libre arbítrio, arremeteram furiosamente contra os seus defensores, congregados em torno do teólogo Jacob Armínio. Finalmente, o príncipe Maurício decidiu convocar unha assembleia internacional de teólogos calvinistas (o Sínodo de Dort), que condenou todos os arminianos à destituiçón imediata e ao exílio. Descartes seguiu os factos muito de perto. Entretanto, os poderosos espanhóis (e a casa de Áustria, que ocupava o seu trono e urdia ambiciosos planos de conquista) aproveitarom a desordem holandesa para tomar a iniciativa em política exterior, orientando-a para a eclosón de unha guerra que. pensavam, lhes devolvería o controlo do Sacro Império Romano (formado polos estados xermânicos, onde os católicos tinham perdido boa parte do seu poder depois da Reforma). Em Septembro de 1619, deu-se um acontecimento importante para o desenvolvimento da trama: a coroaçón do novo imperador do Sacro Império Romano, Fernando II, cuxo conselheiro pessoal era o xesuíta Guilherme Lamormaini. A figura de Fernando era fulcral para os interesses católicos: a primeira cousa que fixo foi declarar nulas as possessóns do palatinado protestante da Boémia e oferecer unha parte à Espanha e outra ao católico Maximiliano da Baviera. Adivinham quem estaba em Frankfurt no dia da coroaçón, à qual assistiu em primeiríssima pessoa? O nosso filósofo disfarçado. Descartes tinha abandonado Breda pouco antes, em Maio de 1619.

ANTONIO DOPAZO GALLEGO