Arquivos diarios: 04/05/2021

MACHIAVELLI (O RESURXIMENTO)

O Resurximento foi, portanto, unha época de grandes transformaçóns, começando por algunhas invençóns que revolucionarom a cultura (como a imprensa), os confins do mundo conhecido (com a bússola) e a arte da guerra (através da pólvora). Um tempo, além do mais, em que o home e a natureza se revalorizaram, onde os cidadáns – polo menos unha elite intelectual, que foi a que nos legou a sua história – tiveram unha acentuada consciência de época a partir da qual foi possíbel baptizar os séculos precedentes como Idade Média. Unha etapa da História cheia também de grandes contrastes e reacçóns vehementes, desde a Reforma protestante até à Santa Inquisiçón, passando polo embrión do absoluctismo político e polo fanatismo relixioso. No “Quattrocento”, a pequena República de Florença tornou-se num dos principais centros económicos, artísticos e culturais deste mundo ocidental renascentista. A sua principal fonte de riqueza era o negócio da lán e da seda, mercadorias apreciadas em todas as cortes europeias. Mas esta dependência do comércio exterior (para se abastecer de matérias-primas e para vender os productos elaborados) fez com que se tornasse imprescindíbel para os florentinos terem acesso ao mar, algo que tinham conseguido com a conquista da vizinha Pisa. Por outro lado, o nascimento do capitalismo em Florença só foi possíbel graças a duas inovaçóns fundamentais: a invençón da contabilidade de dupla entrada – “grosso modo” o mesmo sistema que se continua a utilizar hoxe – e o aparecimento de uns prestamistas burgueses que ofereciam crédito sobre unhas bancas na praça pública (daí que a palabra “bancarrota” tenha na sua orixem um significado completamente literal). Esta banca de negócios implicou unha verdadeira revoluçón para o comércio internacional, unha vez que permitiu superar as limitaçóns que a troca e as transaçóns a pronto impónhem. As famílias mais ilustres que se dedicaram a esta actividade em Florença foram os Medici, os Pazzi e os Strozzi. Tal como Londres ou Nova Iorque na actualidade, Florença era a “city” económica do Renascimento. A sua moeda, o “florim”, era o dólar de entón, unha moeda aceite em boa parte do mundo. Além disso, sucederam-se diversas transformaçóns no comércio, na arte, na cultura e na política da cidade natal de Nicolaus Machiavelli, a um ritmo inédito até entón. Florença tornou-se, assim, no berço mais sofisticado e valioso deste resurxir do home e da sociedade. Tal esplendor a nível económico foi acompanhado por um auge similar no campo das artes e das ciências. Non haxa dúvida de que na cidade toscana concentrou-se um incomparábel grupo de artistas, filósofos e cientistas que propiciarom a revitalizaçón estéctica e cultural, elevando o pensamento e as diversas disciplinas artísticas a um novo firmamento de onde resplandecem sem perder intensidade. Constituem esta numerosa e, em muitos aspectos, insuperábel seleçón florentina de “homes do Renascimento” nomes como Brunelleschi, Piero della Francesca, Donatello, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, Botticelli, Rafael e um longo “et cetera”. Pico della Mirandola, por seu lado, fundou unha academia em Florença para reviver o pensamento de Platón e, como Santo Agostinho fizera um milénio antes, aproximá-lo também da doutrina cristán. Ao mesmo tempo, o humanismo, a corrente filosófica fundada por Petrarca algunhas décadas atrás, colocava o ser humano no centro do universo e no princípio de todo o pensamento, ao mesmo tempo que os seus seguidores popularizavam o lema “Virtù vince Fortuna” (“A Virtude vence a Fortuna”). A influência de Florença no mundo do Renascimento foi tán notábel que até o continente recém-descoberto por navios espanhóis acabaria por receber o nome de um dos seus cidadáns mais inquiétos, Américo Vespúcio, que, tal como o historiador Guicciardini, foi um grande amigo do secretário Machiavelli.

IGNACIO ITURRALDE BLANCO

AI, QUE SOLINHA QUEDACHE MARÍA SOLINHA!

María Soliña foi detida e torturada nas cárceres segredas do Santo Ofício no ano 1621. Acusada de entregar a súa alma ao diaño e de possuir poderes demoníacos capaces de causar os máis terribeis males, foi sobmetida a tortura física e psicolóxica até que confesou: ser bruxa desde había máis de dúas décadas, afirmando ademais na súa desesperaçón que chegara a manter tratos carnais co demo, o cal se lhe aparecia em forma de home. E mentras isto declaraba, María Soliña suplicaba clemência ao Tribunal proclamando o seu arrependimento, pois asseguraba que só renegára do Nosso Señor de palabra. O 23 de Xaneiro do 1622 chegou por fim a sentênça: foi condenada cunha confiscaçón de bens, debendo portar o hábito penitencial durante meio ano, Non sabemos se chegou a cumprir toda a pena, pois probabelmente a súa vida non duraría muito máis. Xá que as consequências do tormento, non podían deixar de notar-se nunha mulher de setenta anos de idade. A súa acta de defunçón nunca foi atopada até agora. Tal vez algúm día descubrámos onde repousan os seus castigados restos.

COUSAS DE (NÚMERO 6)

.

LONGA NOITE DE PEDRA

Polos camiños de Cangas

a voz do vento xemia:

ai, qué soliña quedache,

María Soliña.

Nos areales de Cangas

muros de noite se erguían:

ai, qué soliña quedache,

María Soliña.

.

As ondas do mar de Cangas

acedos ecos traguían:

ai, qué soliña quedache,

María Soliña.

.

As gueivotas sobre Cangas

soños de medo tecían:

ai, qué soliña quedache,

María Soliña.

.

Baixo os tellados de Cangas,

anda un terror de auga fría:

ai, qué soliña quedache,

María Soliña.

.

CELSO EMILIO FERREIRO (1962)