Arquivos diarios: 27/02/2021

AS MEMÓRIAS DE MANUEL DA CANLE (111)

Xeralmente falando, a fim de que um sonho poida ser interpretado com toda exactitude, preciso se fai que tenha sido ó amanhecer, ou naquel período da noite em que dissipadas as emanaçóns dixestivas estas non poidam obrar sobre o cérebro. Que non tenha sido promovido por qualquer exceso ou emoçóns e que se recorde perfeita e minuciosamente ao despertar. Isto segundo os antígos, está recopilado no tempo em que florecerom estes mistérios, por aqueles pobos nascidos na obscuridade, em que estas ideias estabam ainda em estado latente. Deus nosso Senhor J. C., quixo que reapareceram mais tarde no meio do xénero humano, que a concebeu a forza de lutas, probando ao mundo com guerras infinitas, facendo constar a sua existência espiritual por meio dos Santos Prophetas, na lei antiga, e por J. C. na lei da graça, e polo Progresso e a Civilizaçón em que funcionaram novas leis. Nasceram as artes e as ciências, por meio da intelixência suprema, concedida a algúns mortais, que andam polo mundo (Philósofos), por missón de Deus para axudar o xénero humano a purificar-se e conseguir escapar dos erros e enganos das almas pouco elevadas. No meio de todos os estudos resplandéce a Philosofia Spiritualista, como alto estudo, que vem a resolver muitos problemas da vida, os quais sem ela quedaríam na inacçón. Onde se sabe que, o mundo invissíbel é superior e sobrevive a tudo. Som muitas as vias ou instrumentos dos que Deus se serve para ensinar aos mortais. mudándo-os com os tempos; agora pois que os tempos mudárom, também esta ciência sofreu detrimento, e será o bastante para que o home non vexa em esta toda a claridade desexada, etc… Algúns afirmam que ao nascimento de Cristo enmudecerom todos os oráculos do Mundo, aínda que non fora tán repentino o seu silêncio, que continuarom com algunha reputaçón até finais do século IV, mas, por último, vem a sua decadência e cesárom de fazer ruído.

MANUEL CALVIÑO SOUTO

KANT (AS DONAS KÖNIGSBERGUIANAS ACERTAVAM OS SEUS RELÓXIOS QUANDO O VIAM PASSAR)

Unha cidade como Königsberg, às marxéns do rio Prególia – unha cidade grande, centro de um Estado, sede dos conselhos provinciais do Governo, sede de unha universidade (para o cultivo das ciências), um porto marítimo ligado por rios ao interior do país, fazendo com que a sua situaçón favoreça a comunicaçón com o resto do país bem como com países vizinhos ou remotos, com línguas e costûmes diferentes -, é um lugar adequado para ampliar o conhecimento sobre o homem e sobre o mundo. Nunha cidade como esta, tal conhecimento pode ser adquirido mesmo sem se viaxar. Terminada a refeiçón, Kant ia dar o seu passeio regulamentar de unha hora, imprescindível tanto para manter o corpo em forma como para ordenar e esclarecer as ideias e, em xeral, manter a boa disposiçón (hoxe falar-se-ia de libertar endorfinas). Diz-se que as donas de casa königsberguianas acertavam os seus relóxios quando o viam no seu passeio diário, xá que a sua pontualidade era minuciosa e fiábel; mas esta precisón era devida em parte, a que, durante anos, o seu anfitrión habitual da tarde para tertúlias erudictas, um comerciante britânico chamado Joseph Green, era extremamente rigoroso tanto na hora de chegada como na de despedida, e Kant non demorou a assimilar e a aplicar esse formalismo. Depois do passeio e da tertúlia dedicaba o resto da tarde a ler e a reflectir. Deitava-se às dez da noite. A sua casa, mais do que simples, era austera; a sobriedade do mobiliário indicava um interesse exclusivo pola funcionalidade e escassa inclinaçón pola estéctica. Non amou a música nem apreçou as artes plásticas. Gostou, sim, da poesía lírica, que lia regularmente e apenas por prazer: rexeitou unha oferta para a cátedra de Poética da Universidade de Berlim, onde teria podido teorizar sobre ela. O único elemento ornamental, ou non estrictamente funcional, da sua casa, de que temos notícia, é um retracto em gravura de Jean-Jacques Rousseau, o pensador suíço que sacudiu a sua consciência moral com um libro sobre educaçón e formaçón da personalidade (Emílio) e outro sobre o fundamento das comunidades políticas (O Contracto Social). Schopenhauer teria, anos depois, no seu gabinete de trabalho, um busto do seu admirado Kant, e Nietzsche, um retracto do seu admirado Schopenhauer: eis como se manifesta graficamente unha das grandes linhas de influênça da filosofia moderna.

JOAN SOLÉ