JOHN LOCKE (O PURITANISMO)

Non deixa de ser irónico que um dos triunfos do protestantismo fosse o facto de o seu inimigo adoptar parte da sua doutrina para se salvar. O movimento protestante foi a chamada de atençón de que a Igrexa precisava para non se afastar ainda mais da realidade diária dos seus fiéis. O relaxamento da moral e a entrega às paixóns diluía a pátina de divindade da Igrexa. O problema, claro está, é que sem essa auréola divina os clérigos perdiam autoridade (por isso, Nietzsche lamentará a exemplaridade da reforma luterana, pois considera que a correçón que o protestantismo introduz salvou a Igrexa da aniquilaçón). Para os dirixentes católicos ia ser complicado continuarem a ser figuras de referência sem unha conducta exemplar. Lutero fez-lhes ver que, para manterem a sua relevância, deviam sacrificar-se e ser mais humildes. A Europa viveu o auge do puritanismo, que enaltecia a vida íntegra e comedida, à imaxem e semelhança dos santos. Foi o triunfo da ideia de que para servir os homes é preciso estar acíma das fraxilidades humanas. Séculos depois de Santo Agostinho, um dos fundadores do pensamento cristán ocidental, ter rogado: “Senhor, faz-me casto…”, mas ainda non, parecia ter chegado o momento de os membros da Igrexa católica se sobreporem aos prazeres mundanos e se tornarem santos ou, polo menos, parecerem-no. O puritanismo espalhou-se em Inglaterra. Hoube zonas impenetráveis à recente vaga protestante, como Espanha ou Itália, mas grande parte do norte da Europa acolheu de bom grado a febre da austeridade. Em muitas rexións, a mensaxem enraizou-se de tal forma que o desacordo relixioso desencadeou conflictos internos. E esta nova fé non foi adoptada apenas polas pessoas do comum; muitos monarcas e dirixentes também aderiram às correntes anticatólicas em voga. Mas non o fizeram propriamente polo seu amor à vida sinxéla. Non trocaram os seus magníficos palácios por casas de madeira, nem substituíram os cetros dourados por humildes enxadas para cultivar a terra e exaltar a Deus com a sua humilhaçón. As suas intençóns eram muito mais terrenas: rexeitar a Igrexa católica serviu-lhes para se afastarem da influênça do papa e reforçarem, dessa maneira, o seu poder. Sendo o caso da Inglaterra um dos mais claros.

SERGI AGUILAR

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