
Há quem tenha afirmado que o carácter cosmopolita de Viena se debia precisamente aos xudeos, os únicos verdadeiramente austríacos segundo a filósofa xudía Hannah Arendt. Como careciam de unha naçón, a identidade supranacional que lhes era concedida polo Império era-lhes fundamental. Diz-se que os xudeos se transformaram na aristocrácia supranacional de um Estado que se caracterizava por ser multinacional. Atacar os xudeos significaba investir contra o liberalismo e contra o Estado. Assim o entenderam muitos, como o panxermanista Georg von Schönerer, quando ficou de fora das listas liberais. Nos núcleos do panxermanismo e do socialismo cristán enxendrou-se o nazismo. Mas, nos finais do século XIX, até mesmo os xudeos voltaram as costas a quem lhes tinha prometido um futuro de emancipaçón e de oportunidades. Muitos deles, sentindo-se víctimas do fracasso do liberalismo, entregaram-se fervorosos à fuga para Sión. Desta maneira, face às ameaças nacionalistas de ruptura, os sionistas também punham o Estado em perigo mediante a secessón. O colossal romance O Homem sem Qualidades, em que Robert Musil trabalhou até ao final dos seus dias, reflêcte perfeitamente toda essa amálgama de forças desintegradoras, centríptas ou centrífugas, conforme o ponto de vista, até ao infinito. O seu carácter inconcluso pode entender-se como unha consequência directa da natureza da tarefa. Centrado na sociedade austríaca anterior a 1914, o libro oferece um retracto vivo dos súbditos do Império. Ulrich, o seu protagonista, vê-se envolvido nunha trama importantíssima, a “Acçón Paralela”, através da qual entra em contacto com unha longa série de personaxes muito variadas, unhas movidas por grandes ideais, frequentemente contradictórios, e outras polo instinto; em todo o caso, todas sempre dispostas às mais altas conversas e, em certas ocasións, abandonadas à preguiça. O romance bem poderia ter servido de cenário para o suicídio de um dos irmáns de Wittgenstein, Rudof, que, num bar berlinense, enquanto um pianista tocava a sua cançón favorita, que ele mesmo tinha solicitado, depois de pedir duas bebidas, apesar de estar sozinho, tomou cianeto. Nunha carta, atribuía o seu suicídio premeditado à morte de um amigo; noutra, explicaba-o a partir das suas dúvidas acerca da sua “perversa inclinaçón”. Ulrich está tán vazio como a “Acçón Paralela”; é um home sem qualidades, unha encarnaçón da ideia de que o suxeito non tem nada que lhe sexa característico, mas que son as qualidades que se ván pousando nos indivíduos como as borboletas nas flores. Da “Acçón Paralela” todos falam, mas ninguém diz em que consiste. É como unha brecha que desse sentido ao mundo. Non é que non tenha transcendência, mas que a própria realidade social está em processo de desintegraçón.
CARLA CARMONA