Arquivos diarios: 08/02/2019

NIETZSCHE (NÓS, OS NIILISTAS)

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               No fragmento que citámos, Nietzsche utiliza três metáforas “terrestres” para ilustrar as consequências da morte de Deus: o mar esvazia-se, apaga-se o horizonte e o Sol separa-se da Terra.  Que Deus tenha morrido implica que xá non podemos saciar a nossa sede de infinitude e de transcendência (o mar esvazia-se); desvanece-se o referente último das nossas acçóns, a orixem dos nossos valores e normas (apaga-se o horizonte); e, em suma, perdemos aquilo que proporcionaba luz e calor à nossa vida mental (a Terra desprende-se do seu Sol).  Sem mar, sem horizonte, sem Sol.  Unha vez morto Deus, como nos diz o louco da lanterna, “cairemos continuamente”, “erramos através de um nada infinitos”.  Nisto consiste o “niilismo” como etiqueta que Nietzsche utiliza para nomear o espírito do seu tempo (e o “dos próximos dous séculos”, acrescenta).  O niilismo é um momento único na história de Occidente caracterizado pola “desvalorizaçón de todos os valores” produzida pela morte de Deus.  Os niilistas habitam um mundo absurdo, instalados no enorme vazio que o Deus morto deixou.  Sabem que desapareceu aquilo que em última instância dava sentido à vida e, no entanto, continuam aferrados à necessidade de que a vida tenha um sentido.  No seu extremo, o niilismo autodestrói-se e conduz ao suicídio.  O niilista acabaría, portanto, esmagado pola verdade de Sileno.  Nietzsche interpreta o niilismo europeu como a consequência natural do desenvolvimento da metafísica.  De facto, considera que o niilismo representa  a culminaçón da história da metafísica occidental (isto é, da história da filosofía).

 

toni llácer