INÉS
.
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercibida;
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que nao se arme e indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tao pequeno?
Tu, só tu, puro Amor, com força crua,
Que os coraçoes humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem co lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangre humano.
Estavas, linda Inés, posta em sossego
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna nao deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de morta foi Rainha.
luis de camoes
Esta entrada foi publicada en
Uncategorized.
Ligazón permanente.