Arquivos diarios: 28/10/2018

PITÁGORAS (PRÓLOGO)

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               Começo por evocar um relato, provavelmente conhecido do leitor.  Conta Cícero nas suas Tusculanae Disputationes que, tendo Pitágoras chegado à cidade de Fliunte, na Argólida, rexión do Peloponeso, teve ocasión de conversar sobre diversas questóns com o governante local Leonte, ou León, segundo as traduçóns, que, estupefacto perante o saber  do seu interlocutor, acabou por lhe perguntar indirectamente qual era o seu ofício.  O viaxante tería respondido que non era especialista em nada em particular, mas era “filósofo”.  Aparentemente o termo filósofo era desconhecido para o interlocutor de Pitágoras, pelo que  este o ilustrou com unha alegoría.  Nos xogos olímpicos, ou simplesmente nas animadas feiras das cidades gregas, há pessoas que obtêm proveito a comprar ou a vender mercadorias, outros expôem a sua destreza corporal, pondo-a à proba em competiçóns e, finalmente, uns terceiros, aos quais Pitágoras atribui o comportamento mais digno de consideraçón, non procuram proveito a competir ou a negociar, mas limitam-se a observar uns e outros, atentos ao que acontece e á forma como acontece.  Pois bem, tería concluído o viaxante, tal como nas feiras, também na vida é um comportamento mais digno de elóxio ser observador desinteressado do decorrer das cousas do que ter unha actividade ou ofício determinado por interesses prácticos.  Cícero pón, por sua vez, este episódio na boca de unha autoridade, o filósofo Heraclides Pôntico, que tería frequentado Aristóteles, mas também o herdeiro de Platón na Academía, Espeusipo.  Da lendária figura de Pitágoras diz-se que foi um grande matemático a cuxa escola se atribuem audázes hipóteses em astronomía ou em música, assim como a teoría do movimento da Terra em redor de um “fogo central” (non o Sol), ou as relaçóns aritméticas que alicerçam a escala musical.  Mas, para além disso, nesse diálogo com o governador de Fliunte, Pitágoras tería sido o primeiro a usar o qualificativo de “filósofo”, aplicando-o, como vimos, a si mesmo.  A precisón de que carece de ofício concreto, feita pelo viaxante em resposta a Leonte, traz de imediato á mente esta ousada afirmaçón de Aristóteles (Metafísica A, I, 982 a 8-10):  “Consideramos, em primeiro lugar, que o filósofo conheça todas as cousas, tanto quanto isso sexa possíbel, mas non, que ele tenha ciência de cada cousa individualmente considerada.” 

víctor gómez pin