HEIDEGGER (A OBRA E A DERIVA)

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               Na verdade, Heidegger só escreveu um grande libro, Ser e Tempo, que ficou inacabado.  A sua interrupçón non se explica apenas pela vicissitude editorial: será que Heidegger podería esperar unha resposta à pergunta sobre o ser que fosse para além de um indício provisório?  Nesse sentido, a sua obra-prima também pode ser lida como a exposiçón de um fracasso, mas que xá emerxira como tal de forma intencional. (…)  Com este fracaso tinxido de tons tráxicos tem que ver, sem dúvida, o próprio carácter das publicaçóns posteriores a Ser e Tempo, quase sempre sob a forma de opúsculos de extensón variada, mais ou menos ocasionais e reunidos de forma nem sempre xustificada (Caminhos de Floresta, Marcas do Caminho, Conferências e Escritos Filosóficos); obras, mais de carácter fragmentário (Contribuiçóns à  Filosofía: do Acontecimento Apropriador) e non publicadas em vida; ou inclusivamente cadernos, também inéditos, que misturam pensamentos e simples opinións, quando non autênticas visóns messiânicas e apocalípticas (Cadernos Negros).  Em todo o caso, Heidegger non voltou a publicar em vida unha obra completa da envergadura e do alcance de Ser e Tempo:  a sua traxectória posterior talvez só se deixe caracterizar, em termos que afectam tanto o tema como a expressón, como unha deriva, sempre pendente daquele proxecto inacabado de 1927.  A crítica tem preferido traduzir essa vicissitude xeral a partir de 1930 sob o significado de “viraxem” ou “volta”; non se sabe muito bem como inversón daquela proposta (nesse caso, eu falaria da sua consumaçón extrema) ou como mudança absolucta de direçón.  Acontece, no entanto, que “viraxem” non descreve suficientemente bem um certo errar que em muitas ocasións parece utilizado, ex-professo, pelo próprio filósofo, como apoio e xustificaçón dos conteúdos da sua obra. Se, em todo o caso, se tivesse de encontrar unha chave ainda filosófica para xustificar essa deriva, ésta esconder-se-ia sob a palabra “verdade”, significante que se torna substituto priviléxiado do termo “ser”, assim que se conclui  a sua obra principal.  O mais relevante da entrada em cena desse termo procede paradoxalmente da desmontaxem do próprio significado lóxico de verdade em prol da sua constituiçón temporária, que modificará, pela raiz, o significado xeral de “teoría”, pelo menos, se a verdade remeter para algo prévio que non se pode converter em tema central nem instrumentalizar (o tempo).  A continuaçón do pensamento de Heidegger por esta vía, que deixa de identificar a verdade com a lóxica, redirixe-o continuamente á procura de um lugar para a verdade, um lugar que, de forma óbvia, non se poderá identificar com qualquer significado ou posiçón.  De certa forma, ao distanciar-se de qualquer perspectiva significativa e lóxica, Heidegger recai em determinadas escolhas temáticas para evidenciar aquele sentido atemático prévio e opta, de forma exemplar, pela arte, pela arquitectura e, sobretudo, pola poesia, como palcos privilexiados da manifestaçón da verdade.  Neste libro, considerar-se-à a sua reflexón sobre a orixem da obra de arte, simultaneamente cheia de lucidez teórica e mistificaçón, talvez como resultado da mesma pretensón: como identificar um lugar para aquilo que por definiçón non o pode ter?  Este paradoxo percorre o caminho posterior a Ser e Tempo, cheio, ao mesmo tempo, de acerto filosófico, mas também de desatino, entorpecido por um irritante tom litúrxico.  O ponto mais conflictuoso da filosofía de Heidegger encontra-se aquí, no questionábel brilhantismo de certas descripçóns que pretendem estabelecer-se como verdade acima de qualquer condiçón e reflexón.

arturo leyte

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