Arquivos diarios: 08/10/2018

KARL MARX (INTRODUÇÓN)

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               A história, quase sempre escrita pelos vencedores, costuma associar o que considera “doutrinas do mal” a indivíduos particulares.  Maquiavelo, por defender a primazía do poder político sobre o eclesiástico, foi instituído como autor da doutrina baseada na máxima “o fim xustifica os meios”, que a historiografia nos legou como expressón do mal moral absolucto.  Caiu-lhe em cima a maior censura por se ter dado o seu nome a semelhante doutrina.  Algo parecido aconteceu com Marx, cuxo nome ficou indissoluvelmente unido ao do “comunismo”.  E como os avatares da história determinaram que o comunismo ficasse unido a personaxens e factos inquietantes (como a Revoluçón Cultural), quando non simplesmente monstruosos (como o gulag), e sobretudo com as experiências comunistas na URSS, China, Vietname, Angola, Moçambique ou Cuba, que provocaram um enorme e inútil sofrimento aos seus povos, abortaram sem êxito, por isso, o marxismo, identificado com a teorizaçón inspiradora desse mal, tendo passado à história como um pensamento desprezível e diabólico.  E Marx, que só aspirava à emancipaçón dos homens (unha emancipaçón tanto dos deuses do céu como desse atraente deus da terra que se chama “Capital”), passaría a engrossar o grupo de indivíduos que, sendo realmente históricos, no sentido de cosmopolitas, dado que fizeram avançar o “espírito universal”, foram indexados pela história como perpectradores do mal.  Engels, no seu Discurso Diante do Túmulo de Karl Marx, fez afirmaçóns como estas:  “A 14 de Março, a um quarto para as três da tarde, o maior pensador vivo deixou de pensar.  (…).  O que o proletariado combativo europeu e americano, o que a ciência histórica perdeu com a morte deste homem non se pode de modo nenhum medir”.  Enfatizava a sua dimensón de homem de ciência equiparando-o ao pai do evolucionismo: “Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da Natureza orgânica, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da história humana”. e evocava as suas contribuiçóns para a economia (“Marx descobriu também a lei específica do movimento do  modo de producçón capitalista moderna e da sociedade burguesa por el criada”) e a riqueza das suas análises sociopolíticas na longa e intensa actividade xornalística, que se pode ver nos artigos da Rheinische Zeitung, do Vorwärts de París, do Brüsseler Deutsche Zeitung, da Neue Rheinische Zeitung, do New York Daily Tribune e muitos outros.  Esses méritos no campo das ciências sociais non lhe valeram o reconhecimento da academía do seu tempo, que lhe virou as costas, nem do governo, que o expulsou dos seus territórios, nem dos intelectuais, democratas e conservadores, que competiram para o difamar.  “Marx foi o homem mais odiado e mais calumniado do seu tempo”, diz-nos o seu amigo, que acredita que esse excessivo desprezo non veio da sua condiçón de homem de ciência, de comprovada qualidade, mas da sua posiçón política.  “Marx era, antes do mais, revolucionário”.  E esta qualidade non costuma ser premiada pela academía, mas sim pelos povos que esperam a emancipaçón; destes, pela sua contribuiçón teórica e entrega às lutas operárias, recebeu a consideraçón que lhe foi negada pelas instituiçóns. Por isso, conclúi Engels: “E morreu honrado, amado, chorado, por milhóns de companheiros operários revolucionários, que vivem desde as minas da Sibéria, ao longo de toda a Europa e América, até à Califórnia”.

José manuel bermudo