Arquivos diarios: 18/08/2018

LEIBNIZ (ESSE GRANDE DESCONHECIDO)

.

               Unha das teses de Leibniz mais citadas e menos compreendidas é, sem dúvida, a que dá título a este livro e que contribuiu para qualificar de optimista a filosofía leibniziana.  Esta interpretaçón deve-se sobretudo a Voltaire, que, no seu ensaio (publicado sob pseudónimo) Cândido ou O Optimismo (1759), ridiculariza Leibniz pondo na boca do doutor Pangloss a afirmaçón de que “vivemos no melhor dos mundos possíveis”.  O terramoto de Lisboa (1755) tinha literalmente abalado o filósofo francês; por esse motivo, xuntamente com outros iluministas, Voltaire ironiza sobre a Divina Providência que tinha permitido que morressem cem mil pessoas na catástrofe, e para isso agudiza o seu sarcasmo nunha máxima que o pensador alemán tinha criado meio século antes contra o voluntarismo de Descartes, que defendía que Deus, na sua omnipotência, podía ter criado á sua vontade o mundo que quisesse, independentemente da sua perfeiçón.  Para Leibniz, bem pelo contrário, se Deus existe, nunca podería deixar-se levar pelo seu poder ou capricho ao criar, sem se deixar guiar pela razón suficiente e pela conveniência na sua obra, pois há sempre “razóns” que orientam tanto o comportamento divino como o humano.  A favor de Voltaire debemos dizer que Leibniz non era unha figura que os seus contemporâneos conhecessem bem.  Algunhas das suas ideias foram transmitidas por um discípulo, Christian Wolff, que as adaptou á sua medida no que ficou conhecido nessa época como “filosofía leibnizo-wolffiana”, o que fez pouca xustiça ao nosso autor, que tinha publicado muito pouco em vida.  Além de alguns artigos em latim que saíram em revistas académicas recém-criadas.  Leibniz só entregou à gráfica em francês, para um público mais amplo, a sua Teodicea (1710), xá que non quixo publicar os Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano (1705) após a morte do seu adversário, Locke, e o libro só apareceu meio século depois, postumamente.  Mas o leitor non deberá pensar que Leibniz escreveu pouco, antes pelo contrário é um dos autores mais prolíferos da história da filosofía; calcula-se que tenha chegado a escrever unha média de quinze folhas por día, entre as quais se incluem as cartas que enviou a mais de 1100 correspondentes de dezasseis países diferentes – entre os quais se encontravam mais de duzentas mulheres erudictas -, e também centenas de ensaios sobre os assuntos mais diversos.  Tanto os seus manuscritos, redixidos essencialmente em latim, francês e alemán, embora também em inglês e italiano, como a sua biblioteca privada foram depositados na Biblioteca Real de Hanôver, actualmente a Biblioteca Nacional da Baixa Saxónia, onde se encontra a sede central do Arquivo Leibniz, encarregado de conservar a sua obra e, desde 1901, de dirixir a sua edicçón canónica.  Desde que saiu o primeiro volume, em 1923, apareceram cinquenta volumes divididos em oito séries diferentes que englobam escritos políticos, históricos, matemáticos, filosóficos, linguísticos, científicos e técnicos (ver secçón “Obras Principais”).  Trata-se de unha obra importante pela sua variedade, as suas dimensóns e o facto nada menosprezável de se ter mantido intacta apesar de ter passado por duas guerras mundiais; unha obra que, à medida que se vai publicando, revela mais um pouco do enorme icebergue que esconde e do qual até pleno século XX non se conhecía mais do que unha pequena amostra, por intermédio de ediçóns críticas levadas a cabo por grandes especialistas e bem trabalhadas em língua portuguesa.  Podemos dizer, sem receio de nos enganarmos, que o melhor do pensamento de Leibniz é concebido no diálogo com os outros, através das controvérsias e correspondências mantidas com os seus contemporâneos.  Tudo está relacionado com tudo, e em cada sistema, hipótese, explicaçón ou argumento há unha parte de verdade que cada um expressa a partir do seu ponto de vista (perspectivismo) e que é compactível com a verdade universal – que non é absolucta nem única – no seu conxunto.

concha roldán