Arquivos diarios: 06/08/2018

MONTAIGNE (A FORÇA DA IMAXINAÇÓN)

.

               No capítulo “Da Força da Imaxinaçón” (I, 21), Montaigne descobre o valor antropoxénico e moral da força imaxinativa.  Com a “vis imaxinandi” sabe “pôr-se no lugar do outro”, até do mendigo que bate à sua porta; como escreve em “Da Solidón” (I, 39), as suas tentativas de tirar alguns rapazes da mendicidade revelaram-se um fracaso, por non terem sabido aqueles renunciar à sua indixência (III, 13).  Mas, sobretudo, é capaz de practicar o sentido pleno da tolerância.  “Em Catón, o Xovem” (I, 37), descreve-se como propenso a conceber e entender mil outras formas de vida diferentes da sua, a considerar o outro por si mesmo, no seu próprio modelo, sem xulgá-lo através do seu: com a imaxinaçón pôe-se no seu lugar.  Aprecia, sobretudo, a advertência, explicitada em “Dos Três Comércios”, segundo a qual é necessário ser, mas nunca viver, nem estar ligado nem obrigado por necessidade a um só modo de vida (III, 3).  Por isso, renunciou à exemplaridade e non tentou realizar unha biografía filosófica, mas antes unha antibiografía, no espírito de quem detesta erixir a sua própria estátua nos cruzamentos da cidade (Da Mentira: II, 18).  Na “Apoloxía de Raymond Sebond” (II, 12), confessa que teme o espectro de Narciso apaixonado pela sua própria imaxem, como Pigmalión pela estátua que o seu próprio artifício produziu.  Trata-se da mesma força imaxinativa que em I. 21 pensa e diz “sobre o que pode acontecer”.  Só assim a imaxinaçón pode transformar-se no seu Mercúrio no coraçón da alteridade, da história e do futuro.  Graças ao bom uso da imaxinaçón, derrotou também o temor à morte (antecipando-se à sua ideia, a morte torna-se habitual, um acto da vida), practicando-a todos os días, no meio das festas, desde criança (I, 20): mas, sobretudo, de Séneca aprendeu que morte e liberdade están estreitamente ligadas, e aprender a morrer significa desaprender de servir, ou sexa, aprender a viver unha vida livre.

nicola panichi