A REVOLUÇAO RUSSA (V)
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Aferrar-se ao pessimismo? Sartre nao o fará, certamente. E se nao o faz é devido ás causas do terceiro abalo que agitará o século XX, e de cujo espectro nao se poderá libertar. Trata-se da Revoluçao Russa. Passarao uns meses sobre o levantamento de fevereiro de 1917 até que Lenine entusiasme os minoritários bolcheviques e articule o poder dos sovietes, preparando tudo para o levantamento de novembro. Este levantamento nao só afasta a Rússia da disputa mundial, como estabelece uma forma de poder absolutamente estranha aos modelos políticos estabelecidos. É difícil imaginar a estupefaçao que a revoluçao semeia entre as elites dirigentes e o assombro que provoca entre filósofos, homens de letras e intelectuais em geral. Nao existe figura representativa da década de 20 que nao se sinta fascinada pelo sucedido. E quem equacionava alguma rejeiçao espera astutamente que o temporal amaine. E Sartre, o que acha? É preciso referir duas coisas. Por um lado, contempla com certo distanciamento aquilo que acontece, embora manifeste uma íntima satisfaçao, como relata Beauvoir em “A Força da Idade”, obra em que evoca esta lembrança: O mundo estava em movimento, Sartre perguntava-se com frequência se nao nos devíamos ter solidarizado com os que trabalhavam para aquela revoluçao. (…) Mais de uma vez durante esses anos Sartre sentiu-se vagamente tentado a filiar-se no Partido Comunista; as suas ideias, os seus projectos, o seu temperamento, opunhan-se. Mas embora gostasse tanto da independência como eu, tinha muito mais sentido das suas responsabilidades. É evidente que a autora se refere ao efeito europeu, e especialmente françês, que tentava replicar o sentido da Revoluçao Russa no seu próprio território. Mas a confissao refere uma segunda questao, que diz respeito a Sartre ter começado a simpatizar com a filosofia que inspirou as conquistas de novembro de 1917, ou seja, o marxismo, que já iniciou o desenvolvimento fundamental que o transformará numa proposta filosófica omnipresente ao longo do século XX. (…) O século XX avança. Sartre assume o seu papel de testemunha e activista. Neste complexo contexto social e histórico, é preciso situar a aventura de quem, extremadamente atento aos acontecimentos que afectam a sociedade, nao para de intervir e de fundamentar a sua intervençao numa impressionante proeza intelectual.
J. L. RODRIGUEZ GARCIA
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