Arquivos mensuais: Abril 2017

XA SE MUDA A DEVESA

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Xa se muda a devesa en brisa palpitante

alí onde os dedos piden clarexar

ángulos, sombras, nomes, fantasías.

Xa pousan o seu po de día rutineiro

nos poros anhelantes de luz íntima

porque os corpos reclaman o tremor

que pervive no tempo máis inmóbil.

Raudo medra o desexo e busca cego

en verde entraña branco sol de infancia.

Sobe un silencio ilícito ata os labios,

un fervor. Esta fronte xa non pensa:

só hai lampos acurtados polo olvido,

lampos e un canto breve coma a morte.

 

!Como cantan os grilos!

 

Brilla tamén a sombra. Pero escoita:

neste abandono limpo en que xacemos

quizais nos queden voces imprevistas:

paxaros azuis, chuvia, bosque antigo.

 

FRANCISCO XOSÉ CANDEIRA

SIGMUND FREUD (A PSICANÁLISE)

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               A psicanálise foi, claramente, uma criaçao de Sigmund Freud.  De facto, pode-se inclusivamente datar com exactidao a primeira vez que o nosso autor se referiu á sua recém-criada técnica com o nome de psicanálise: foi num artigo publicado a trinta de março de 1896.  Escusado será dizer que, naquela ocasiao, o seu método de análise da alma – é o que significa etimologicamente o neologismo – nao estava ainda suficientemente desenvolvido.  Freud vislumbrava unicamente um horizonte muito prometedor.  E podemos afirmar que o tempo acabou por lhe dar razao.  Mas como chegou Freud a formular esta revolucionária teoria sobre a psique humana?  Antes de começar a detalhar o périplo que levou Freud á descoberta da psicanálise, é importante esclarecer que aquí só analisaremos a psicanálise tal como a concebeu e practicou Sigmund Freud durante toda a sua vida.  De facto, ainda no tempo de Freud, a escola psicanalítica diversificou-se notávelmente.  Autores que num primeiro momento se situaram ao abrigo das ideias freudianas, começaram a separar-se do mestre e a propor novos princípios e formulaçoes.  Em sentido estricto, falar da psicanálise actualmente seria falar das diversas escolas psicanalíticas existentes.  Porém, o nosso objectivo incidirá apenas na compreensao desta primeira e mais genuína versao da psicanálise, a freudiana, que, como em breve descobriremos, foi concebida como método inteiramente terapêutico  para tratar doentes de neurose e, pouco a pouco, foi evoluindo até se converter em toda uma filosofia do sujeito e da cultura.

 

marc pepiol martí

 

TOCCATA E FUGA

 

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I

Tódalas palabras que solicitan ser ave teñen o meu amor:

só o silencio do voo pode falar da cobizada Eternidade

e penetrar no íntimo coma un libro ou unha mulher amada.

 

II

Abrirlle as portas ó sono coa chave chuventa do silencio

deixarse durmir coma un príncipe desleixado ou un aedo feliz

e soñar, cada noite que arde soñar un soño improbable.

 

III

Vivir e amar nunha casa de pedra, beirada de musgos e nogueiras

vivir así (recolleito): sen auto, sen televexo, sen canción urbana

e estar namorado do silencio, en homenaxe, ata o derradeiro intre

 

FRANCISCO XOSÉ CANDEIRA

 

SIGMUND FREUD (OS ESCRITOS)

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               A obra escrita de Freud é, sem dúvida, muito considerável.  Há que salientar que a sua produçao científica e filosófica, traduzida para castelhano, abarca um total de vintitrês grossos volumes.  Além disso, teriamos de acrescentar a sua importante e muito significativa actividade epistolar.  Sem dúvida que Freud foi um escritor consciencioso e muito prolífico…  Contudo, é habitual classificar tematicamente a obra escrita de Freud em quatro grandes blocos.  Um primeiro grupo corresponderia ás obras em que Freud estabelece as bases do seu modelo psicanalítico;  a célebre “A Interpretaçao dos Sonhos” (1900) ou “Psicopatologia da Vida Quotidiana” (1901) serian as mais significativas.  Um segundo grupo incídiria nos contributos de Freud em relaçao á importante teoria da sexualidade humana e da líbido;  neste sentido, merecem ser citados os polémicos “Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade” (1905).  Os textos a partir dos quais se estabelece a segunda tópica, isto é, o último modelo teórico da psique humana com o qual Freud trabalhou, ocupariam um terceiro bloco; nele destacaria “Para Além do Princípio do Prazer” (1920) e “O Eu e o Id” (1923).  Finalmente, Freud consagrou grandes esforços a reflectir sobre a sociedade e a cultura; neste grupo inclui-se “Totem e Tabu” (1913) ou o impressionante “O Mal-Estar na Civilizaçao” (1930).  Apesar da necessária distância crítica e objectiva que Freud queria manter, os seus textos denotan, pelo menos, três aspectos muito pessoais a destacar.  O primeiro é a sua honestidade científica, isto é, a sua retidao e honestidade intelectual; o segundo, a sua grande erudiçao, e, finalmente, o seu olhar crítico sobre os factos e a própria obra, uma actitude que fez dele um pensador sempre em construçao, em processo…  Além disso – é importante destacá-lo – Freud nunca se amedrontou perante o possíbilidade de as suas escandalosas teorias lhe pesarem a nível social ou profissional.  Temos um bom indício desta actitude noutro dos fragmentos de  “O Futuro de uma Ilusao”…

 

MARC PEPIOL MARTÍ

 

TERTULIA

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                       Aos meus amigos de Guillade

Fora dono do casco de Plutón pra tornarme invisible

(descasí, non de todo): estar cos ollos ben abertos

na voz un gromo de silencio

-bufa a curuxa fóra-

 

estar aí na Taberna do Alén, a carón dese lume

entre rostros amigos, voces, espiritoso viño

e ver e comprender

                             Giordano Bruno

queimado en Roma

 

por ter pensado acerca do Universo, do Infinito e dos Mundos

e saber que hai un viaxeiro a piques de baixar do tren

en Compostela e que non dará chegado

onda nosoutros

 

porque esqueceu unha contraseña exacta

porque non trae a Palabra que nos faría felices

a Palabra perdida polos homes todos

hai tanto tempo.

 

FRANCISCO XOSÉ CANDEIRA

 

SIGMUND FREUD (VIDA)

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               Muitas das fotografias que conservamos de Freud mostram-nos um homem de barba farta, geralmente grisalha, e de olhos penetrantes, por vezes delimitados por uns óculos circulares.  Também, quase sem excepçao, vemo-lo de testa franzida.  Este estricto porte poderia fazer-nos pensar num intelectual arrogante, soberbo e dogmático.  Mas nada mais longe da realidade.  Sigmund Freud era um homem acessível, sem nenhum tipo de afectaçao e nada altaneiro (de facto, com muita frequência dizia que nao estava dotado de grandes capacidades intelectuais!).  Rodeado das suas pessoas de confiança, Freud mostrava- se sempre jovial e exibia o seu sentido de humor.  Decididamente, na defesa das suas ideias, era tenaz, inclusive teimoso, mas em nenhum caso dogmático ou intransigente.  Por isso, o seu carácter tolerante e o seu íntrego amor pela verdade tornaram-no muito querido entre os seus amigos e muitos dos seus colaboradores…  Nasceu a seis de maio de 1856, em Freiberg, uma pequena cidade de maioria católica situada a uns duzentos quilometros a nordeste de Viena…  No que diz respeito ao seu pai (comerciante de lan, de origem xudáica), nao era o protótipo de pai dogmático e autoritário tao habitual nesse momento, muito pelo contrário.  Passado pouco tempo, a família de Freud sentia necessidade de abandonar Freiberg. A localidade atravessava uma crise económica – sobretudo, no sector da lan – e,…  Também um crescente antissemitismo,…  Assim, em 1859, aos três anos de idade, o pequeno Sigmund mudou-se com a família provisoriamente, para Leipzige, mais tarde, para Viena.  Os primeiros anos de Freud em Viena nao foram fáceis.  Porém o pequeno tinha bom carácter e era muito estudioso.  Com o tempo tornou-se um estudante brilhante, que se destacava sobre tudo no campo das línguas.  Curiosamente, quando foi o momento de decidir um curso, Freud nao mostrou uma grande predileçao pela medicina…  a sua vocaçao era a de indagar os mistérios do homem e da natureza, uma inclinaçao filosófica que o acompanhou em toda a sua história de vida.  Apesar de ter obtido o título de doutor em 1881 com excelentes notas, a medicina continuava a nao lhe inspirar demasiada paixao.  Para além das fronteiras da conservadora e intransigente Viena, os seus estudos também começavam a suscitar certo interesse e alguns debates.  A estas primeiras associaçoes, revistas e simpósios seguiram-se muitas outras por todo o mundo.  Contudo a psicanálise ainda estava muito longe de ser profusamente reconhecida.  E, entao, chegou a guerra, a Primeira Guerra Mundial.  Foram tempos muito duros para Freud: á escassez de alimentos e recursos básicos, como luz e aquecimento, era necessário sumar as preocupaçoes pela vida dos seus filhos…   E a sua lúcida mente ainda foi capaz de dar luz a importantes teses e livros, se bem que já marcados por um carácter decididamente mais filosófico.  É assombroso pensar que um homem de 70 anos, submetido a constantes operaçoes traumáticas para atenuar um cancro dolorosíssimo, obrigado a trabalhar entre cinco e seis horas diárias como terapeuta para se sustentar económicamente, pudesse prosseguir o seu trabalho de investigador, agora já quase plenamente filosófico.  Entretanto, a progressao do cancro e as suas consequentes dores nao seriam o único motivo de preocupaçao para Freud nos anos vindouros.  Fruto da perseguiçao nazi, Freud viu-se obrigado a abandonar Viena para se refugiar na sua bem-amada Londres.  De facto, respondeu com ironia á notícia de que os seus livros e os de outros psícanalistas tinham sido queimados publicamente em Berlim;   “Quanto progredimos!”  – exclamou-  “Na Idade Média ter-me-iam queimado a mim;  agora conformam-se em queimar os meus livros”.

 

marc pepiol martí

        

PORQUE NON HAI OLVIDO

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           “Kalimera, pensó absurdamente”

           J. Cortázar, en “La isla a mediodia”

 

             “Si tivésemos todos

             unha palabra esacta, unha somente”

             C. E. Ferreiro

                         I

Un devora delirios, insomnios infernais

verdadeiras mentiras, ruídos e noticias.

Un nunca cruza a ponte que vai ata o Silencio:

quédase sempre a medio camiño, sobre a ponte

porque un ten medo, medo.

E se chegamos á outra banda aínda nos queda

o eco dos nosos pasos na memoria

porque non hai Olvido

porque non hai Olvido.

 

 

                        II

Por unha palabra escondida

que tal vez non coñecerás xamais

avantas por barrancos, pasas freitas

que che dan os camiños coma ós lobos.

 

Por unha palabra que inda non hai

unha palabra exacta

correrías congostras, e por ela

ferverían os ollos cansos

de xa naceren tanto.

 

(Por moi certa palabra palpitante

que ha nacer un día para tódolos homes

e que non será a Morte).

 

FRANCISCO XOSÉ CANDEIRA

SIGMUND FREUD (CONTEXTO)

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               Para compreender a filosofia de um autor com todos os seus matizes, é imprescindível analisar a sua vida, bem como o contexto social e histórico no qual desenvolveu o pensamento.  No caso de Freud, esta exigência conduz-nos directamente á  necessidade de reflectir sobre a cidade que viu nascer as suas ideias médicas e filosóficas, Viena.   Na verdade, Freud nasceu em Freiberg ( cidade que, no seu tempo, pertencia á Morávia, uma parte do Império austríaco, e, actualmente, pertence á República Checa), e nao em Viena, mas foi nesta cidade que estudou e se doutorou, onde também desenvolveu toda a sua práctica terapêutica e formulou as suas teorias sobre a estructura do psiquismo humano.   Assim, Viena é um lugar incontornável se quisermos compreender o pensamento de Freud.   Como em breve descobriremos, a esplêndida Viena de fim de século fez todo o possível por dissimular, sob um manto de luxo e de refinadas convençoes sociais, uma crua realidade:  a sexualidade.  E foi precisamente a ânsia de revelar e compreender esta realidade oculta – mas muito real! – que estimulou, em grande medida, o pensamento de Freud.   No imaginário popular, Viena associa-se de imediato ao ritmo das alegres valsas de Johann Strauss – sobre tudo, o filho (1825-1899) -, com os refinados cafés e a magnificência da corte dos Habsburgo.   Assim, a monumental Viena apresenta-se-nos com frequência como o paradigma de uma cidade requintada e entregue ao gozo de viver.  Por tudo isso, é surpreendente comprovar até que ponto os sempre educados e sensíveis vienenses resistiram com firmeza, e a maioria das vezes com insolência, ás teses do nosso autor.   Até mesmo no momento em que o mundo começou a acolher as revolucionárias ideias de Freud, Viena respondeu com uma eloquente indiferença.   Talvez este repúdio fosse motivado pelo facto de Freud, como diriamos coloquialmente, ter ousado meter o dedo na ferida?   Sem dúvida, a ostentaçao e o hedonismo da Viena de finais de século encobriam uma sociedade bastante fracturada e repleta de penosas contradiçoes.   Viena era a capital do grande Império austríaco, resultante da dissoluçao do antigo Sacro Império Romano-Germânico, em cujo seio convivian as diversas nacionalidades que povoavam o vale do Danúbio.   Porem, as recorrentes reivindicaçoes nacionalistas da Hungra,… propiciarao po fim, ja no ano 1867, o Compromisso (Ausgleich) que deu origem ao Império austro-húngaro.   Este novo Império foi, de facto, uma monarquia dual:  compunha-se em dois reinos, Austria e Hungria, com os seus respectivos parlamentos, códigos e línguas, dispostos sob uma mesma bandeira e um mesmo monarca.   O imperador Francisco José I, da casa dos Habsburgo, que já dirigia o Império austríaco desde 1848, assumiu o governo do Império austro-húngaro, e fortaleceu a sua posiçao ao casar-se, em 1854, com Isabel da Baviera, a famosa imperatriz Sissi.   Viena foi a sua residência oficial e a capital teve de responder dignamente a esse privilégio.  Por isso, sobretudo entre 1858 e 1888, a cidade foi reedificada practicamente por completo:  erigiram-se palácios, belos edifícios, monumentos e amplas avenidas.  Todavia este palco de sonho mal podia esconder as formas vazias de uma monarquia artrítica e anquilosada.   Nao por acaso, o escritor austríaco Robert Musil, autor da monumental obra “O Homem Sem Qualidades (1930), designou irónicamente o vasto Império dos Habsburgo como “Kakania”, alcunha que abrigava o duplo “K” que articulava o título nobiliário do Império. “Kaiserlich-Königlich”, isto é, Imperial-Real, mas que também aludia a um sentido escatológico.  Em todo o caso, a longa linhagem dos Habsburgo exaltava esta sociedade plural.  A monarquia estava muito presente na vida social vienense, embora quase como se fosse uma realidade mítica.  A sua existência concebia-se como uma espécie de Olímpo atemporal.  Na práctica, eram os valores bastante puritanos da burguesia que realmente regiam a sociedade vienense.  Em Viena, apenas importavam a estabilidade do conjunto e as aparências formais.  A ordem, uma rígida hierarquia totalmente imóvel e a nao estravagância foram, durante muitos anos, um credo tácito e inquestionável.  Este formalismo burguês tao petrificado fazia de Viena uma sociedade aparentemente plácida;  daí  que Stefan Zweig, na sua obra “O Mundo de Ontem – Recordaçoes de um Europeu” – um extraordinário retrato da sociedade vienense do virar do século -, definisse a Viena anterior á Primeira Guerre Mundial como  “o mundo da segurança”.  Curiosamente, o escritor austríaco valorizava este facto a partir de um ponto de vista positivo e, ao mesmo tempo, negativo.  Por um lado, os valores burgueses que guiavam a sociedade eram claros, sólidos e imutáveis.  O caminho que um indivíduo tinha de percorrer para conseguir um certo reconhecimento social estava bem traçado, só tinha de ter a paciência de o percorrer.  Por outro lado, esta sociedade evitava qualquer acçao ou decisao que pudesse conduzir a alguma mudança.  A novidade podia pôr em causa ou romper esse equilíbrio tao conveniente…   Certamente, por esta razao, a juventude vienense e os seus novos talentos encontraram-se imediatamente sob suspeita, já que o seu ímpeto podia ser a semente da transgressao e, finalmente, da temida desagregaçao social.  Viena fazia o possível para serenar os ânimos dos jovens.  A constriçao era tao forte que os jovens se viam forçados a esconder a sua verdadeira idade e a fazer o máximo possível para parecerem mais velhos;  por exemplo, deixavam crescer longas barbas, vestian casacas e moviam-se com sobriedade.  De facto, até a instituiçao escolar vienense estava firmemente concebida para consolidar este rígido “statu quo” e conducir ao conformismo da juventude;  imperavam a autoridade, o dogmatismo cego. a dureza, a apatia e a pouca humanidade.  A pior parte desta grande  dissimulaçao programada com tanta paciência recaiu sobre a condiçao feminina.  A mulher foi forçada a representar um ideal impossível:  o da mais absoluta inocência e pureza espirituais.  Por essa razao, os vestidos das mulheres estavam concebidos para esconder todas as formas femininas.  Por dentro, estas indumentárias eram uma esécie de armaçao ou couraça que oferecia um belo e sempre asséptico aspecto exterior.  Tinham uma infinidade de espartilhos e anáguas, um facto que obrigava as mulheres a mover-se de maneira totalmente artificial e a adoptar posturas forçadas.  Por exemplo, uma mulher educada nunca podia cruzar as pernas em sociedade, por medo de que num descuido, pudessem ver-lhe o tornozelo.  É evidente que a repressao sexual, como qualquer tipo de repressao, acentuou ainda mais o desejo.  Assim, a sociedade vienense, ao evitar o sexo por todos os meios possíveis, tornou-o ainda mais presente.  A força desse “eros” reprimido deixava-se sentir por todo o lado, e com uma força, se possível, muito maior.  Nao em vao, como veremos, Freud começou a sua carreira trabalhando com jovenzinhas burguesas que apresentavam síntomas muito agressivos de histeria, uma doença que a ciência, em “petit comité”, reconhecia como de origem sexual, embora nunca o dissesse oficialmente.  De facto, esse grande enredo de silêncio em relaçao ao sexo chegava inclusive á esfera científica, antes de Freud ter conseguido fazer mossa nesse alto e sólido muro…

 

marc pepiol martí

 

EN VIGO UNHA CIDADÁ SOÑA CO BOSQUE

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Aínda que a cidade te retén

de certo fura as túas noites

un vougo corazón de lata e máquina

e xa non che abonda

esta música e ámbito de rock & roll

nin a presencia do mar presentido

 

porque sabes que hai alá no bosque,

onde un bris alixeira e eleva,

unha palabra cômplice que agarda

escondida nas cousas ínfimas, na araxe,

na silenciosa luz,

e tamén sabes

que nacen as cousas tantas veces

debido a un pulso telúrico

ou a un rumor de fronda;

 

sen embargo ti quedas aquí

afincada

cidadá a carón de tanta máquina

sempre lembrando

o silencio habitado dos piñeiros

e algún modo de Olvido.

 

FRANCISCO XOSÉ CANDEIRA

 

SIGMUND FREUD

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              Se é inegável a influência de Freud na compreensao de nós mesmos como sujeitos movidos por obscuros desejos inconscientes, também teremos de reconhecer que a sua influência nas artes visuais contemporâneas foi particularmente significativa e fecunda.   Em primeiro lugar, encontramos Freud na arte de vanguarda, concretamente no surrealismo, um movimento artístico que, em rigor, situaríamos entre os anos 1924 e 1945.   Se alguma coisa caracterizava os pintores e os escritores surrealista era a sua enérgica reivindicaçao da liberdade criativa.   Fizeram o possível por fugir do anquilosado modo de vida burguês e por conquistar outros mundos completamente inverosímeis a partir da estreita órbita da lógica racional.   A sua reivindicaçao era o ilógico, o original, o estranho, o desconexo.   De facto, nos seus escritos e pinturas respirava-se um mundo tao irracional, original, estranho e desconexo como o sonho.   Nao deve surpreender-nos, pois, que André Breton, conhecido como o pai do surrealismo, reivindicasse, em repetidas ocasioes, a figura de Freud como precursora ideológica do movimento.  “Quando chegará, senhores lógicos, a hora dos filósofos dormentes?”, perguntava-se, provocadoramente, o artista françês no Primeiro Manifesto do Surrealismo (1924).   Nos episódios oníricos, como Freud tinha revelado, manifestavam-se os apetites humanos mais obscuros e inconfessáveis:  assim, reconhecian os surrealistas, o sonho obscuro podia penetrar no verdadeiro eu de uma forma mais autêntica do que a razao clara.   Valham-nos as numerosas paisagens oníricas pintadas por Salvador Dalí – com quem, diga-se de passagem, Freud teve um breve encontro em julho de 1938 – ou a escrita automática praticada pelo mesmo Breton – uma técnica surrealista que reproduzca fielmente o método de associaçao livre, um procedimento inventado por Freud para ludibriar as defesas da razao e poder acceder a estractos mais profundos e genuínos da psique dos seus pacientes – como exemplos paradigmáticos desta herança freudiana.   Dalí conseguiu uma viragem favorável na opiniao de Freud sobre os surrealistas:  como este confessou a Stefan Zweig numa das suas cartas, antes de conhecer o pintor do Ampurdán, chegou a considerar os surrealistas uns “loucos absolutos”.   Além das artes, podemos constatar que Freud está muito presente no nosso dia a dia:  perante um “lapsus linguae” revelador dos nossos verdadeiros propósitos, sao poucos os que nao exclaman:  isto é freudiano!   E quem nao pensou em alguma ocasiao, em ir ao livro A Interpretaçao dos Sonhos, de Freud, para procurar o significado de um sonho que o inquieta? Porém,  o facto de Freud estar frequentemente na boca de todos torna-o víctima de muitas imprecisoes e de más interpretaçoes e, inclusivamente, converte-o em objecto de uma certa banalizaçao. Nesta breve monografia, pretendemos desfazer todas as confusoes que existem em relaçao á figura de Freud e elaborar uma leitura completa, embora rápida e accessível, das suas teorias sobre o homem e a cultura.

marc pepiol martí  

 

DE LÚAS E SILENCIO…

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De lúas e silencio tece un niño o meu insomnio

-aquel que guinda as tebras de tantísima noite

só de ollar o segredo do teu van-

un insomnio de outeiro aluarado, tamén papiro nu.

 

E se ela ve que penso:

 

Enlouquece este meu alento que trepa

que xa recrea séculos e séculos

de folgos magoados pra lembrarche

un canto da intrahistoria silenciada.

E se chove que chovan ceos leves

toxeiras nosas, fontes, utopías sen líderes

 

entonces ela entrégame o cerne do seu alento,

carballo e rio xuntamente, e lume.

 

FRANCISCO XOSÉ CANDEIRA