Arquivos diarios: 05/04/2017

TERTULIA

.

                       Aos meus amigos de Guillade

Fora dono do casco de Plutón pra tornarme invisible

(descasí, non de todo): estar cos ollos ben abertos

na voz un gromo de silencio

-bufa a curuxa fóra-

 

estar aí na Taberna do Alén, a carón dese lume

entre rostros amigos, voces, espiritoso viño

e ver e comprender

                             Giordano Bruno

queimado en Roma

 

por ter pensado acerca do Universo, do Infinito e dos Mundos

e saber que hai un viaxeiro a piques de baixar do tren

en Compostela e que non dará chegado

onda nosoutros

 

porque esqueceu unha contraseña exacta

porque non trae a Palabra que nos faría felices

a Palabra perdida polos homes todos

hai tanto tempo.

 

FRANCISCO XOSÉ CANDEIRA

 

SIGMUND FREUD (VIDA)

.

               Muitas das fotografias que conservamos de Freud mostram-nos um homem de barba farta, geralmente grisalha, e de olhos penetrantes, por vezes delimitados por uns óculos circulares.  Também, quase sem excepçao, vemo-lo de testa franzida.  Este estricto porte poderia fazer-nos pensar num intelectual arrogante, soberbo e dogmático.  Mas nada mais longe da realidade.  Sigmund Freud era um homem acessível, sem nenhum tipo de afectaçao e nada altaneiro (de facto, com muita frequência dizia que nao estava dotado de grandes capacidades intelectuais!).  Rodeado das suas pessoas de confiança, Freud mostrava- se sempre jovial e exibia o seu sentido de humor.  Decididamente, na defesa das suas ideias, era tenaz, inclusive teimoso, mas em nenhum caso dogmático ou intransigente.  Por isso, o seu carácter tolerante e o seu íntrego amor pela verdade tornaram-no muito querido entre os seus amigos e muitos dos seus colaboradores…  Nasceu a seis de maio de 1856, em Freiberg, uma pequena cidade de maioria católica situada a uns duzentos quilometros a nordeste de Viena…  No que diz respeito ao seu pai (comerciante de lan, de origem xudáica), nao era o protótipo de pai dogmático e autoritário tao habitual nesse momento, muito pelo contrário.  Passado pouco tempo, a família de Freud sentia necessidade de abandonar Freiberg. A localidade atravessava uma crise económica – sobretudo, no sector da lan – e,…  Também um crescente antissemitismo,…  Assim, em 1859, aos três anos de idade, o pequeno Sigmund mudou-se com a família provisoriamente, para Leipzige, mais tarde, para Viena.  Os primeiros anos de Freud em Viena nao foram fáceis.  Porém o pequeno tinha bom carácter e era muito estudioso.  Com o tempo tornou-se um estudante brilhante, que se destacava sobre tudo no campo das línguas.  Curiosamente, quando foi o momento de decidir um curso, Freud nao mostrou uma grande predileçao pela medicina…  a sua vocaçao era a de indagar os mistérios do homem e da natureza, uma inclinaçao filosófica que o acompanhou em toda a sua história de vida.  Apesar de ter obtido o título de doutor em 1881 com excelentes notas, a medicina continuava a nao lhe inspirar demasiada paixao.  Para além das fronteiras da conservadora e intransigente Viena, os seus estudos também começavam a suscitar certo interesse e alguns debates.  A estas primeiras associaçoes, revistas e simpósios seguiram-se muitas outras por todo o mundo.  Contudo a psicanálise ainda estava muito longe de ser profusamente reconhecida.  E, entao, chegou a guerra, a Primeira Guerra Mundial.  Foram tempos muito duros para Freud: á escassez de alimentos e recursos básicos, como luz e aquecimento, era necessário sumar as preocupaçoes pela vida dos seus filhos…   E a sua lúcida mente ainda foi capaz de dar luz a importantes teses e livros, se bem que já marcados por um carácter decididamente mais filosófico.  É assombroso pensar que um homem de 70 anos, submetido a constantes operaçoes traumáticas para atenuar um cancro dolorosíssimo, obrigado a trabalhar entre cinco e seis horas diárias como terapeuta para se sustentar económicamente, pudesse prosseguir o seu trabalho de investigador, agora já quase plenamente filosófico.  Entretanto, a progressao do cancro e as suas consequentes dores nao seriam o único motivo de preocupaçao para Freud nos anos vindouros.  Fruto da perseguiçao nazi, Freud viu-se obrigado a abandonar Viena para se refugiar na sua bem-amada Londres.  De facto, respondeu com ironia á notícia de que os seus livros e os de outros psícanalistas tinham sido queimados publicamente em Berlim;   “Quanto progredimos!”  – exclamou-  “Na Idade Média ter-me-iam queimado a mim;  agora conformam-se em queimar os meus livros”.

 

marc pepiol martí