
Puntualidade portenha.
O professor Katzenmayer estivo com nós o domingo pola tarde e prometeu-nos com teutónica solemnidade voltar o dia seguinte. Mas transcurridas segunda, terça e quarta feira, do ilustre antropólogo e folklorista xermano-arxentino non tivemos notícias; parecia um aviador sudamericano em pleno “raid” continental. Por fim onte, o professor Katzenmayer fixo-nos passar a sua tarxeta, unha tarxeta de sete por quatorce centímetros que qpenas alcança a conter a mitade dos seus títulos académicos. -Non puiden assistir puntualmente ó meu encontro -dixo-nos a guisa de disculpa -porque estiven estudando a question da puntualidade portenha. Asombre-se você: descubrin que os portenhos son tan puntuais como os ingleses. Non se lhes nota: mas son-no. O que passa é que o portenho non acredita na puntualidade dos demais; enton, por cortesia, chega unha hora ou duas mais tarde. Apresentar-se á hora convida seria obrigar a outra pessoa a oferecer escusas humilhantes. A sua delicadeza obriga-o assim a retrassar-se. Os portenhos bem educados son de unha cortesia somente comparábel á dos xaponeses. Y de essa combinacion entre a cortesia nipona e a puntualidade britânica resulta a aparente informalidade arxentina.
O portenho na rua
– Você cré ser aparente a nossa clássica impuntualidade? Sim, senhor. É o resultado d’unha suxestion colectiva. Todos acreditamos que os demais non concurrirán á hora e, em consequência, non nos apressamos, para non deixá-los em descuberto. -Observe Você Doutor Katzenmayer, que está falando em primeira pessoa do plural ó referir-se aos portenhos. -É que eu sou xermano-arxentino. Sinto-me alemán pelas minhas qualidades e portenho pelos meus defeitos. -Muitas graças. -Non há de qué. É a maneira como nos naturalizamos os extranxeiros. Mas non me arraste você, ó vício arxentino da divagacion. Estabamos falando da puntualidade. O portenho é puntual. mas é um homem que cede fácilmente ás tentacions. Quando sai á rua está decidido a chegar onde se propon; mas a rua está pragada de amigos que o palmeian e o detenhen a conversar. Um, dous, tres amigos no espaço de poucas quadras. Ó quarto amigo, o homem que vai a este encontro perdeu quince minutos e recibiu quatro versions diferentes do último chisme político e outros tantos datos contradictorios para as carreiras. Xá perdeu todo entusiasmo por chegar a tempo: detem-se ante as vidreiras e deixa ir os seus olhos e a sua imaxinacion detrás das mulheres. Por sua parte, ó outro concurrente á entrevista tamém lhe passou o mesmo. E quando por fim, os dous se encontran, unha hora e meia despois do convido, trocan um saúdo e unha mentira. O portenho é puntual por natureza, mas non acredita na puntualidade; assim como é demócrata por temperamento sem crer na democracia. De ahi que se retrase nos encontros, despois de importunar na sua casa a todo o mundo para non chegar tarde; e que falando de política todo o ano, deixe de votar quando chegan as eleicions. O portenho é um ser contradictorio, e eu como investigador, lamento muito que a sua raza se vá extinxindo. Porque non todos os habitantes de Buenos Aires son portenhos. Despois deste exordio, o doutor Katzenmayer entrou em matéria. Falou largamente sobre as abelhas selváticas da zona subtropical da República, sinalando o cronista a impossibilidade de extrair cera dos panais das lechiguanas. Mas como o doutor Katzenmayer fixo várias citas, e como por própria confession é portenho nos seus defeitos, por conseguinte as referencias equivocadas son um vício portenho, necessário será ratificar os seus datos antes de dar-lhes publicidade.
ARTURO CANCELA
Publicado en Uncategorized
Na minha sala de trabalho haverá cerca de cinco mil libros. Muitos deles poderiam ser atirados ao lixo e nao seria perda. Mas eu, que me sei sem espírito de coleccionador, nao consigo separar-me de libro nenhum. Alinhados nas estantes como campas num cemitério, corro-lhes as lombadas com os olhar e todos eles, bons ou maus, chamam uma recordaçao. Difícil é o nao entristecer com tantos autores geniais que nunca fui capaz de seguir nem apreciar – ó miséria das correntes, das escolas e das modas! – , mas a quem era devido prestar homenagem, e prudente, porque de boa política, copiar o exemplo dos seus nebulosos escritos. No essencial do mundo, pouco ou nada muda, razao por que as mais das veces o rei ainda vai nu, e continua a ser de bom aviso nao dizê-lo de modo que todos oiçam.
J RENTES DE CARVALHO
Publicado en Uncategorized