Arquivos diarios: 25/08/2016

PUNTUALIDADE E DEMOCRACIA

11

Puntualidade portenha.

                    O professor Katzenmayer estivo com nós o domingo pola tarde e prometeu-nos com teutónica solemnidade voltar o dia seguinte.   Mas transcurridas segunda, terça e quarta feira, do ilustre antropólogo e folklorista xermano-arxentino non tivemos notícias; parecia um aviador sudamericano em pleno “raid” continental.   Por fim onte, o professor Katzenmayer fixo-nos passar a sua tarxeta, unha tarxeta de sete por quatorce centímetros que qpenas alcança a conter a mitade dos seus títulos académicos.   -Non puiden assistir puntualmente ó meu encontro -dixo-nos a guisa de disculpa  -porque estiven estudando a question da puntualidade portenha.   Asombre-se você:   descubrin que os portenhos son tan puntuais como os ingleses.   Non se lhes nota:   mas son-no.   O que passa é que o portenho non acredita na puntualidade dos demais;   enton, por cortesia, chega unha hora ou duas mais tarde.   Apresentar-se á hora convida seria obrigar a outra pessoa a oferecer escusas humilhantes.   A sua delicadeza obriga-o assim a retrassar-se.   Os portenhos bem educados son de unha cortesia somente comparábel á dos xaponeses.   Y de essa combinacion entre a cortesia nipona e a puntualidade britânica resulta a aparente informalidade  arxentina.   

O portenho na rua

                    – Você cré ser aparente a nossa clássica impuntualidade?   Sim, senhor.   É o resultado d’unha suxestion colectiva.   Todos acreditamos que os demais non concurrirán á hora e,  em consequência, non nos apressamos, para non deixá-los em descuberto.   -Observe Você Doutor Katzenmayer, que está falando em primeira pessoa do plural ó referir-se aos portenhos.   -É que eu sou xermano-arxentino.   Sinto-me alemán pelas minhas qualidades e portenho pelos meus defeitos.   -Muitas graças.   -Non há de qué.   É a maneira como nos naturalizamos os extranxeiros.   Mas non me arraste você, ó vício arxentino da divagacion.   Estabamos falando da puntualidade.   O portenho é puntual. mas é um homem que cede fácilmente ás tentacions.   Quando  sai á rua está decidido a chegar onde se propon;   mas a rua está pragada de amigos que o palmeian e o detenhen a conversar.   Um, dous, tres amigos no espaço de poucas  quadras.   Ó quarto amigo, o homem que vai a este encontro perdeu quince minutos e recibiu quatro versions diferentes do último chisme político e outros tantos datos contradictorios para as carreiras.   Xá perdeu todo entusiasmo por chegar a tempo:   detem-se ante as vidreiras e deixa ir os seus olhos e a sua imaxinacion detrás das mulheres.   Por sua parte, ó outro concurrente á entrevista tamém lhe passou o mesmo.   E quando por fim, os dous se encontran, unha hora e meia despois do convido, trocan um saúdo e unha mentira.   O portenho é puntual por natureza, mas non acredita na puntualidade;   assim como é demócrata por temperamento sem crer na democracia.   De ahi que se retrase nos encontros, despois de importunar na sua casa a todo o mundo para non chegar tarde; e que falando de política todo o ano, deixe de votar quando chegan as eleicions.   O portenho é um ser contradictorio,  e eu como investigador, lamento muito que a sua raza se vá extinxindo.   Porque non todos os habitantes de Buenos Aires son portenhos.   Despois deste exordio, o doutor Katzenmayer entrou em matéria.   Falou largamente sobre as abelhas selváticas da zona subtropical da República, sinalando o cronista a impossibilidade de extrair cera dos panais das lechiguanas.   Mas como o doutor Katzenmayer fixo várias citas, e como por própria confession é portenho nos seus defeitos, por conseguinte as referencias equivocadas son um vício portenho, necessário será ratificar os seus datos antes de dar-lhes publicidade.

 

ARTURO CANCELA

OS LIBROS

                    Na minha sala de trabalho haverá cerca de cinco mil libros.   Muitos deles poderiam ser atirados ao lixo e nao seria perda.   Mas eu, que me sei sem espírito de coleccionador, nao consigo separar-me de libro nenhum.   Alinhados nas estantes como campas num cemitério, corro-lhes as lombadas com os olhar e todos eles, bons ou maus, chamam uma recordaçao.   Difícil é o nao entristecer com tantos autores geniais que nunca fui capaz de seguir nem apreciar – ó miséria das correntes, das escolas e das modas! – , mas a quem era devido prestar homenagem, e prudente, porque de boa política, copiar o exemplo dos seus nebulosos escritos.   No essencial do mundo, pouco ou nada muda, razao por que as mais das veces o rei ainda vai nu, e continua a ser de bom aviso nao dizê-lo de modo que todos  oiçam.

J RENTES DE CARVALHO