OS PROSTÍBULOS DA BAHÍA

100

         “Ficavam os dous em prossa animada, de conteúdo invariável, a vida dos prostíbulos da Bahía, tema apaixonante para Justiniano Duarte da Rosa.  Dan conquistara-lhe a confiança, juntos haviam  ido á  pensao de Gabi beber cerveja e ver as mulheres.  Enquanto, encostado ao balcao do armazém, faz uma análise crítica da alta prostituiçao local.   Daniel, nas barbas do implacável capitao, arrasta a asa á Tereza, na muda linguagem dos olhares e sorrisos carregados de sentido, prepara o terreno.  -Material de terceira capitao; o da nossa Gabi.  Francamente mediocre.   -Nao me diga que nao apreciou aquela garota, nao tem nem trés meses na vida.  -Grande coisa nao era.  Quando o capitao aparecer na Bahía vou-lhe servir de cicerone, vou lhe mostrar o que é mulher.  Nao me diga de novo que conhece a Bahía muito bem, quem nao frequentou o castelo de Zeferina nem esteve na casa de Lisete, nao conhece a Bahía.  E nao me venha de polaca de Aracaju porque loura de verdade,  platinium-blonde de facto e nao de cabelo pintado, vou lhe mostrar, e que classe!  Me diga uma coisa, capitao; já lhe fizeram alguma vez o buchë árabe?  -Buchê, milhares, sou apreciador, mulher que deita comigo tem de manejar a língua.  Mas esse tal de árabe nao sei como seja.  Sempre ouvi dizer que buchê é coisa francesa.  -Pois nao sabe o que é bom.  Essa loira que vou lhe apresentar é especialista, é uma argentina de barulho.  Rosália Varela, canta tangos.  Prefiro na cama, cantando nao é lá essas coisas.  Mas, para chupar, nao tem rival.

No buchê árabe, entao, é sensacional.  -Afinal, como é esse negócio?  -Nao conto porque se contar perde a graça, mas, despois de provar, o capitao nao vai querer outra coisa.  Só que Rosália exige o vice-versa.  -Que história é essa do Vice-versa?  -O nome está dizendo: vice-versa, toma lá, dá cá, ou seja o conhecido sessenta-e-nove.  -Ah! Isso nunca.  Eu, chupar mulher?   Uma que me propôs, uma vagabunda que apareceu por aqui lendo sorte de cartas, quebrei a cara da filha da puta, para nao ousar outra vez.,  Mulher chupar homem, está certo, é lei natural, mas homem, que chupa mulher, nao é homem, é cachorro de francesa; me desculpe se lhe ofendo, mas é isso mesmo lulu de francesa.   -Aprendera a expressao com Veneranda, repetia com orgulho.  -Capitao, o amigo é um atrasadao, mas quero lhe ver nas maos de Rosália fazendo tudo que ela quiser, lhe digo mais de joelhos, pedindo para fazer.  -Quem?  Eu, Justiniano Duarte da Rosa, o capitao Justo?  Nunca.  -Quando vai á Bahía, capitao?  Marque a data e eu aposto em Rosália a dez por um.  Se ela falhar, a festa nada lhe custa, é de graça.  -Só que eu vou á Bahía por esses dias, logo despois das festas.  Recebi um convite do governador para a festa do Dois de Julho, a recepçao no Palácio.  Foi um amigo meu que é da polícia quem arranjou.  – Demora por lá?  Quem sabe, ainda lhe alcanço.  -Nem eu sei, depende tudo do juiz, tenho uma pendência no forum, Aproveito para ver os amigos nas secretarias, gente do governo,  conheço muita gente na Bahía e os assuntos daquí, abaixo dos Guedes, quem resolve sou eu. Vou demorar bem uns quince dias.  Para mim é ponto de honra.  Mas façamos o seguinte, eu lhe dou uma carta para Rosália, o amigo a procura em meu nome no Tabaris.  -No cabaré Tabaris?  Conheço, já estive.  -Pois ela canta lá todas as noites.  -Entao está certo, me dê a apresentaçao e vou conhecer esse tal buchê árabe.  Mas avise a ela  para me respeitar, é ela em mim,  e acabou-se se nao quiser apanhar.  -Homem macho nao se rebaixa a isso.  Escreva para essa dona, diga que pago a ela direito mas que me respeite, nao debique de mim.  Quando me zango, nao queira saber.  Tanta fama de mau, um bobo alegre, concluía Daniel.  Que outra coisa pensar de um tipo que pendura no pescoço um colar com argolas de ouro a lembrar cabaços de pobres roceiras?  Arrotando macheza enquanto em sua casa Daniel seducia Tereza.  Seducia Tereza.  Sem querer, sem saber porque, á rebelia da sua vontade,  Tereza responde os olhares – que olhos mais tristes, mais azuis e funestos, a boca vermelha, os anéis do cabelo, anjo caído do céu.  Quando se foram rua afora, conversa de non acabar, Tereza escondeu no peito a flor trazida por ele.  Nas costas do capitao, Daniel lhe mostrara a rosa fanada e tendo-a beijado, no balcao a pousou.  Para ela a colhera e beijara, no seboso balcao uma rosa vermelha, um beijo de amor,”.   

JORGE AMADO

                   Claro que ésta história vai acabar mal, porque entran em xogo os ciúmes, a traiçao e a morte.   Mas por outro lado acaba bem, porque triunfan a liberdade e a xustiça.   Tereza e Daniel fan-se amantes, na própria casa do capitao Justiniano Duarte da Rosa, durante a sua viáxem de prazer á Bahía de todos os santos.   Mas as futuras pretendentes do nosso descarriado Daniel, atentas e despeitadas escrevem unha anonimamente venenosa carta ó antedito chifrudo.   Este, enviste furibundo contra o pobre rapaz, e quer obriga-lo a facer-lhe um tal “Buchê” em plena praza pública, diante de toda a xente.    Mas quando todos semi-tapavan os olhos perante tan indecoroso espectáculo,  aparece Tereza Baptista com a faca da carne seca, e trincha definitivamente a vida de Justiniano Duarte da Rosa, mais conhecido como o porco.

léria cultural

Deixar un comentario