IKEA

.

          Ikea, em Amsterdam.  Um sem-fim de metros quadrados de móveis e pertences caseiros, o público engenhosamente obrigado a caminhar num labirinto de voltas para que, com o cansaço da caminhada, se lhe abaixe a resistência á tentaçao e ás compras impulsivas.

          Num dia como hoje andan ali milhares de pessoas. Uma ou outra apressada e decidida, a maioria em estado de transe, o olhar mortiço, a arrastar os pés, acarneirada, silenciosa.  Multidao de tal modo fascinante que, ás tantas, adio o que lá me levou e, acarneirado também, vou com ela, passo dos sofás ás cozinhas, das camas aos quartos de banho, das toalhas aos talheres.  

          Para que os pais nao tenham de dividir a sua atençao entre o desejo de comprar e a obrigaçao de atender os filhos, estes podem ser deixados num espaço á entrada, “O Paraíso Infantil”, onde os xogos, os brinquedos e o carinho profissional das raparigas que lá trabalham ajudam a passar o tempo.

          De súbito, naquel ambiente de passos lentos e conversas sussurradas, ouve-se dos alto-falantes uma voz sonora: “Atençao, por favor!  Jeannette, Carolin e Peter pedem aos pais que os venham tirar do Paraíso Infantil.”

          É absurdo, é cómico, e contudo ninguém sorri.

J. RENTES DE CARVALHO

Deixar un comentario