
.
AS ALTERAÇÓNS CLIMÁTICAS (1)
Publicado o16/05/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

No relatório de 2021 do Painel Intergovernamental sobre as Alteraçóns Climáticas (PIAC), um grupo de 234 cientistas, oriundos de 66 países, concluiu “ser inequívoco que a influênça da espécie humana tem provocado o aquecimento da atmosfera, dos oceanos e dos solos. Têm acontecído alteraçóns xeneralizadas, e a um ritmo acelerado, na atmosfera, nos oceanos e na biosfera”. As emissóns de gases com efeito de estufa – entre os quais o dióxido de carbono, o metano, o óxido nitroso e os gases fluorados – resultantes das actividades humanas aumentaram para concentraçóns atmosféricas sem precedentes em milhóns de anos, desde unha época em que o Polo Sul ficou revestido de árbores e o nível do mar subíu vinte metros. De acordo com unha estimativa do PIAC, no início de 2020, com um orçamento de carbono de 400 xigatoneladas, a probabilidade de limitarmos o aquecimento a 1,5 ºC sería de 67%. À taxa actual de emissóns, esgotaremos este orçamento de carbono antes de 2030. Em 2015, quase todos os países do mundo – um total de 195 – assinaram o Acordo de París, cuxo obxectivo era limitar o aquecimento global a um nível bastante inferior a 2ºC, idealmente abaixo de 1,5ºC, em comparaçón com os níveis pré-industriais. O mundo non está no caminho certo para atinxir estes obxectivos. Existe unha enorme disparidade entre as promessas feitas polos governos e as medidas tomádas. Grande parte das emissóns – como as provenientes do transporte terrestre e marítimo internacional, bem como muitas das associadas às Forças Armadas – non está a ser rexistada nem contabilizada.

GRETA THUNBERG
.
AS ALTERAÇÓNS CLIMÁTICAS (2)
Publicado o11/07/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

A crise climática e ecolóxica é a maior ameaça que a humanidade xá enfrentou. Non há dúvida de que este problema irá definir e moldar, como nenhum outro, a nossa vida quotidiana futura. Isto é dolorosamente claro. Nos últimos anos, começámos a assistir a unha mudança no modo como vemos e falamos sobre a crise. No entanto, como desperdiçámos tantas décadas a ignorar e a minimizar esta emerxência crescente, as nossas sociedades ainda se encontram em estado de negaçón. Para todos os efeitos, estamos na era da comunicaçón, na qual o que dizemos pode facilmente sobrepor-se ao que fazemos. É assim que se explica o facto de termos um número tán avultado de grandes países que, produzindo combustíbeis fósseis – e tendo elevados níveis de emissóns -, se autodenominam líderes climáticos, apesar de non terem em vigor qualquer política de mitigaçón das alteraçóns climáticas. Vivemos na era do branqueamento ecolóxico a todos os níveis. Na vida non há problemas que non sexam ambíguos. Non há respostas categóricas. Tudo é tema de debate e compromisso sem fim. Este é um dos princípios fundamentais da sociedade em que vivemos. Unha sociedade que, no que toca à substentabilidade, tem muitas culpas no cartório. Porque esse princípio fundamental está errado. Existem alguns problemas que non som ambíguos. Na verdade, a nível planetário e social há fronteiras que non debem ser transpostas. Por exemplo, achamos que as nossas sociedades podem ser um pouco mais ou menos substentábeis. A longo prazo, porém, non podemos ser um pouco menos substentábeis: ou somos substentábeis ou insubstentábeis. É como caminharmos por cima de unha fina camada de xelo – ou aguenta connosco ou non aguanta. Ou conseguimos chegar à costa, ou caímos nas águas profundas, escuras e frias. E, se isso nos acontecer, non haberá um planeta próximo que nos possa valer. Estamos, por nossa conta.
GRETA THUNBERG
.
FRIEDRICH NIETZSCHE (O ANTI-CHRISTO)
Publicado o30/07/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

É necessário dizer a quem considerámos como nosso contraste: -aos theologos e a todo aquelle que tem sangue de theologo nas veias- a toda a nossa philosophia… É preciso ter visto de perto este destino, ou melhor ainda é necessario tê-lo vivido, é preciso ter estado a ponto de morrer por isso, para non admitir mais burla n’este caso -(o libre-pensamento dos nossos senhores homes de sciência, dos nossos physiólogos, é, a meus olhos, unha burla, falta-lhes a paixón n’estas questóns, falta-lhes o soffrimento por ellas). Este envenenamento vai muito mais lonxe do que se xulga: encontrei de novo o instinto theoloxico do “orgulho” onde quer que se sintam hoxe “idealistas”, onde quer que, gráças a unha orixe mais elevada, se arroxam o direito de olhar para a realidade lá do alto e como se nos fôra estranha… O idealista, como o sacerdote, tem todas as grandes ideias na mán (e non só na mán!), pon-n’as em xogo com um desdem benevolo contra a “razón”, os “sentidos”, as “honras”, o “bem estar”, a “sciência”, vê tais cousas a seus pés, como se fossem forças perniciosas e seductoras, por cima das quais fluctúa “o espirito”, n’unha abstracçón pura: como se a humildade, a castidade, a pobreza, a santidade n’unha palabra, non tivessem feito até agora, muito mais perxuízo á vida do que qualquer cousa terríbel, do que qualquer vicio… O espirito puro é a mentira pura! Emquanto o sacerdote passar por unha clásse “superior”, o sacerdote, esse negador, esse calumniador, esse envenenador da vida por “officio”, non haberá resposta à pergunta: ¿o que é a verdade? A verdade voltou-se de pernas para o ar, se o consagrado adbogado do nada e da negaçón, passa por ser o representante da verdade…
FRIEDRICH NIETZSCHE
.
NICOLAUS MACHIAVELLI (A SEGUNDA CHANCELARIA)
Publicado o03/08/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Com a queda deste primeiro rexíme popular de inspiraçón savonaroliana em 1498, o governo florentino remodela-se de novo e profundamente. A consequente depuraçón dos partidários do dominicano nos lugares de responsabilidade, constituíu a grande oportunidade para o nosso protagonista, que se tinha mostrado abertamente contrário ao monxe destituído. E um dos lugares que tinha ficado vacío, fora o de secretário (responsábel máximo) da Segunda Chancelaria, cuxa xurisdiçón era a administraçón dos próprios territórios florentinos, baixo a direcçón da Primeira Chancelaria. Non deixa de surprehender que se começasse a falar no nome de Machiavelli, para ocupar tán elevada posiçón, sobretudo porque era practicamente um desconhecido, a sua família non era aristocrática e acabava de completar vintinove anos. Porém, contra todos os prognósticos, Machiavelli consegue finalmente o tal lugar, sem dúvida com a axuda do primeiro secretário de Florença, Virgilio Adriani, que fora seu professor na universidade. Quando em 1502 se decidíu tornar vitalício o cargo de “gonfaloniero” (à semelhança do “dux veneziano” ou “doge”), a pessoa escolhida foi Piero Soderini que, por sua vez, fixo de Nicolaus o seu mais próximo colaborador. Foi este político florentino que servíu de modelo a Machiavelli, de boa pessoa, mas, de mau gobernante, unha condiçón que o leva a colocar duas questóns centrais na sua obra: em primeiro lugar, como é possíbel que se dê tal contradiçón e, em segundo lugar, o que é preferíbel em termos do bem comum para o Estado: ¿que o governante entre no reino dos céus ou que a cidade terrena viva com o máximo explendor, ordem e bem-estar para os seus cidadáns?
IGNACIO ITURRALDE BLANCO
.
ADEUS, RÍO MIÑO
Publicado o06/08/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Predin as catástrofes coa mesma facilidade que as provocan. Non lles chega que a lei conceda o dereito á libre empresa, ao comércio, á plusvalia, queren exercer tudo isto en propriedades alleas, públicas, universais.
HOMES DE GRAVA E AREA
Quince anos custoulles destruir o que a Natureza atesourou durante millóns. Silandeiros portadores de maletins mouros, cotiás ocupantes de antesás brancas de despachos, cobizosos mercadores de maquinárias ruidosas espallaron os seus tentáculos de pás, chuponas, barcazas, deterioro e beneficio no que antes era chamado río Miño. Ninguén reclamou a sua preséncia. O mesmo río que vira cun surpresa a vikingos e romanos na percura de tesouros, ficou abraiado ao comprobar os propósitos dos novos invasores: destruilo!
CARLOS ALONSO (PUBLICADO EM “A PENEIRA” – ANO I, 1984)
.
O BOM, O MAU E O FEIO DO EMPIRISMO
Publicado o12/08/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Vexámos, agora o bom, o feio e o mau do empirismo inglês (naturalmente, entendendo o título do filme de Sergio Leone no mais metafórico dos sentidos e referído à percepçón mais berkeliana possíbel que se tem de Locke, Berkeley e Hume na maioría das vezes). John Locke (1632-1704) está considerado o rosto amábel do empirismo, o fundador da corrente que equacionou o problema do conhecimento de unha perspectiva crítica, em virtude da qual antes de conhecer as cousas é preciso analisar os limites do nosso entendimento. Do racionalismo cartesiano assume a proposta de que conhecer é ter ideias e de que as ideias incluiem tudo o que a mente contém, quer sexa um sabor, unha dúvida ou unha alegria, contudo, ao contrário de Descartes, propóm que as ideias procedem unicamente da experiência e que a mente humana é como um “papel em branco” no qual a experiência escrebe. A sua tese central é que non existem ideias inactas na nossa mente e que, portanto, é falsa a doutrina que sustenta a existência de caracteres orixinários impressos na mente desde o primeiro momento do seu ser. No “Ensaio sobre o Entendimento Humano, Locke propón estudar as possibilidades e os limites do entendimento, para o qual assume unha perspectiva crítica da teoría do conhecimento: Se me for permitido importunar-te com a história deste Ensaio, dir-te-ei que, encontrando-nos cinco ou seis amigos num quarto, a discutir sobre um tema muito distante, nos sentimos em apuros por causa das dificuldades que surxiam. Depois de as tentarmos resolver, pensei que tinhamos enveredado por um caminho erróneo e que, antes de fazer qualquer investigaçón, era necessário examinar a nossa capacidade e ver com que obxectos a nossa mente estaba em condiçóns de tratar.
LUIS ALFONSO IGLESIAS HUELGA
.
JOHN RAWLS (O FRACASSO DA IGUALDADE DE OPORTUNIDADES)
Publicado o19/08/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

As expectativas mais elevadas de quem está mais bem situado serán xustas se (e apenas se) funcionarem como parte de um modelo que melhora as expectativas dos membros menos favorecidos da sociedade. O “princípio de diferença” tem, assim, a funçón de resgatar os que perdem imerecidamente na competiçón social debido ao fracasso da “igualdade de oportunidades”. Mas non o faz com unha vocaçón puramente compassiva, apesar de ser o princípio que – dos três – melhor combina com a ideia de fraternidade, como o próprio Rawls reconhece, respeitando assim a antiga herança revolucionária de “liberté” (princípio de igual liberdade), “égalité” (princípio de igualdade de oportunidades) e “fraternité” (princípio de diferênça), visto que representa o culminar do ideal politicamente igualitário da reciprocidade. Segundo Rawls, “o princípio de diferênça parece corresponder ao significado natural da fraternidade: a saber, à ideia de non querer ter maiores vantaxens a non ser que isto sexa em benefício de quem está nunha pior situaçón”. Porém, non fica claro se aqui Rawls interpreta a fraternidade como unha virtude das instituiçóns, procurada por si própria, como a liberdade e a igualdade, ou enquanto consequência involuntária, mas desexábel, do “princípio de diferença”. A unión inseparábel entre a “igualdade de oportunidades” e o “princípio de diferênça” impede que se defenda que a teoria de Rawls está ao serviço da “meritocracia”. A teoria de Rawls non significa meritocracia, mas sim igualitarismo. A igualdade estructura toda a teoria, podendo os seus traços mais característicos ser vistos em três dos seus aspectos constitutivos: a aplicaçón dos princípios de xustiça à estructura básica da sociedade, o ideal de igual cidadania que os princípios servem, e a ideia de reciprocidade, sem a qual non se concebe unha sociedade xusta.
ÁNGEL PUYOL
.
JÜRGEN HABERMAS (O INCESSANTE RONRONEAR DE RÁDIOS E TELEVISÓNS)
Publicado o21/08/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

A pergunta-chave é como o modelo de individualidade firme e autónoma que a Modernidade oferecia se transformou nunha personalidade autoritária cuxo carácter distintivo consiste nunha submissón extrema ao líder, como as ideias de liberdade e igualdade som substituídas por recursos à hierarquia e à dependência. Abandona-se assim o indivíduo a unha esfera pública “desnaturada” que passa a identificar-se com a propaganda e a manipulaçón informativa. A sociedade de massas aniquila o núcleo iluminista da esfera pública. Tudo isto explica o auxe histórico do nazismo e de outras manifestaçóns do autoritarismo. O lazer, o consumo promovido polas novas indústrias culturais, a publicidade comercial e os meios de comunicaçón transformam-nos de público culto em público consumidor de cultura de massas. A consequência é que da esfera privada xá non brota unha publicidade criticamente informada, pois as distâncias foram abolidas e o privado – terreno necessário para o surximento do indivíduo que pensa por si mesmo – foi invadido polo ronronear incessante, primeiro da rádio e depois do televisor e das novas tecnoloxias. A saída que se vislumbra para esta situaçón é que “as pessoas venham a tomar nas suas máns as condiçóns da sua existência privada, servindo-se da mediaçón de unha esfera pública politicamente activa”. Habermas volta à carga defendendo o momento burgués iluminista: “A cultura burguesa non era mera ideoloxia, xá que o raciocínio das pessoas privadas nos salóns, clubes ou sociedades de leitura non estavam directamente submetidos ao ciclo da produçón e consumo, aos dictames das necessidades existenciais; visto que antes estaba na posse de um carácter “político” emancipado ( no sentido grego ) das necessidades existenciais também na sua simples forma literária (na autocomprehensón com relaçón às novas experiências da subxectividade), podia constituir-se nunha ideia que depois dexeneraria em ideoloxia, a saber, a ideia de “Humanität”.” Ocorre depois unha “refeudalizaçón” da esfera pública, regressam os estilos ostentatórios da realeza consubstanciados no cesarismo dos novos líderes. Ao raciocínio e ao debate sucedem-se, com a axuda dos meios de comunicaçón e de propaganda, os usos aclamatórios. O carisma do líder ofusca o espaço das argumentaçóns racionais. As campanhas eleitorais, com as suas ladainhas de “slogans” e os seus argumentários fechados, som um insulto à intelixência dos cidadáns. Habermas, polo contrário, defende um espaço público discursivo e um tecido político associacionista – unha democracia participativa e radical -, mais além do sistema dos partidos de massas. O “partido da integraçón (…) captava temporariamente os eleitores e motivava-os para a aclamaçón sem remover a sua menoridade política”
MARÍA JOSÉ GUERRA PALMERO
.
¿QUE É AQUILO QUE FAI O OPERÁRIO SER OPERÁRIO?
Publicado o31/08/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

“Conhecer é recordar”, cantam sabiamente os poetas, diz Sócrates a Ménon quando, depois de várias tentativas falhadas, este parece desistir de dar resposta à pergunta sobre o que é a virtude. E, de facto, também o Parlamento britânico “recorda”, entón, certos aspectos deveras imprescindíbeis. Non há capital sem unha oferta de mán de obra assalariada, non há capital sem operários; mas de nada vale meter num barco os operários se non se meter também “aquilo que os faz ser operários”. Non se trata de exportar operários, mas de exportar “a operariedade”, “aquilo que faz o operário ser operário”, “aquilo em que consiste ser operário”. Todos os indivíduos sabem o que é um operário. Alguns sabem-no por experiência própria; outros, pola experiência de lidar com eles. Algo muito grave debe haber ocurrido nas colónias para que, de repente, todo este maciço de evidências se desfixésse e o Parlamento britânico se apercebesse de que se tinha esquecido do que era um operário. “Esquecemo-nos do que é um operário? Que alguém baixe à rua e nos traiga um!”, podería ter-se exclamado. Um operário é unha pessoa que assina um contracto de trabalho em troca de um salário. E, em Manchester non resulta difícil encontrar um. Basta possuir capital, dinheiro, meios de produçón e um pouco de espírito empresarial, ou simplesmente vontade de xogar na Bolsa, para que toda unha série de pessoas alinhe no xogo, tomando a decisón de serem voluntariamente operários. Um operário diria o filósofo Jean-Paul Sartre, é unha pessoa que toma a cada momento a decisón de se comportar como um operário, desde o momento em que toca o despertador e aceita levantar-se da cama para se dirixir ao seu posto de trabalho. Também o filósofo Michel Foucault asseguraria que um operário é unha espécie de mistura de xestos, órganos e desexos, convenientemente disciplinada, vixiáda e castigada, para se mover como os operários o fazem. No entanto, o Parlamento britânico non concluíu que o senhor Peel debería ter levado para o río Swan o panótico de Bentham (isto é, aquele imenso dispositivo de vixilância e controlo disciplinar exaustivo de que nos fala Foucault), nem se lhe ocorreu enviar directores de consciência que fixéssem as liberdades de lá mudar de parecer relativamente ao som do despertador. Um operário indisciplinado que, polo menos em Manchester, atira o despertador pola xanela e decide continuar a dormir, non deixa por isso de ser um operário. Transforma-se, simplesmente, num operário no desemprego. Em Manchester, non se deixa de ser operário assim tán facilmente: nem à força de liberdade nem à força da indisciplina. Desta maneira, o Parlamento britânico non se tornou nem sartriano nem foucaultiano, mas teve quase unha espécie de revelaçón “platónica” ou, se quiser-mos, estructuralista: em vez de exportar a “mauvaise foi” sartriana ou a microfísica das disciplinas foucaultianas, pôs-se a pensar em como xerar materialmente certas “condiçóns estructurais” que, sem necessidade de pôr em xogo unha intervençón continuada de exercícios de poder, fossem capazes de fazer o operário ser operário.
CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA
.
ANTONIO GRAMSCI (A GUERRA DE POSIÇÓNS E A GUERRA DE MOVIMENTOS)
Publicado o02/09/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

O pensamento gramsciano actual diagnostica que nos encontramos nunha “crise orgânica” (Errejón, “Power is Power, Política y Guerra”). Com esse termo, Gramsci refería-se a unha situaçón em que “as grandes massas non acreditam xá no que antes acreditavam” (Gramsci, Cadernos do Cárcere). Trata-se de um interregno no qual “o velho morre e o novo non acaba de nascer”. Neste tipo de momentos históricos, os poderosos perderam o seu controlo hexemónico e non têm outro remédio senón recorrer à ameaça e à coerçón. Som momentos nos quais é necessário recordar quem tem a faca e o queixo na mán. Isso pode ir da ameaça de deslocalizar empresas, no caso de perxudicárem sindical ou lexislativamente os seus interesses, a medidas lexislativas de excepçón (como as que foram decretadas em nome da luta antiterrorista, como a legalizaçón da tortura nos Estados Unidos ou a “Lei da Mordaça” em Espanha) ou, chegando a esse caso, directamente da ameaça de um golpe de Estado (militar, financeiro ou xudicial), como tantas vezes aconteceu na História, sempre que o resultado das eleiçóns non convinha aos poderes. Nestes casos de “crise”, a correlaçón de forças entre os diferêntes interesses contrapostos é, sem dúvida, crucial. Mas ao mesmo tempo que se medem as forças efectivas, isto é, a capacidade de ganhar a batalha sobre o tabuleiro de xogo, está a decidir-se também o tipo de tabuleiro em que se vai xogar. Nas palabras do politólogo espanhol Íñigo Errejón, non só cabe a possibilidade de ganhar ou perder a partida, como também é possíbel modificar “a configuraçón actual do tabuleiro” ou, inclusive, “dar um pontapé no próprio tabuleiro” (Errejón, “Power is Power, Política y Guerra”).
CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA
.
DAVID HUME (CRÍTICA AOS ARGUMENTOS TRADICIONAIS A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS)
Publicado o06/09/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Perante a dificuldade anterior, e face à existência de unha grande variedade de doutrinas relixiosas, non resulta estranho que se procurasse refúxio naquilo a que, no século XVIII, se gostaba de denominar como “relixión natural”, um conxunto de doutrinas básicas que todas as relixións partilhavam. Este foi um tema de grande importância no mundo intelectual dos séculos XVII e XVIII, algo perfeitamente compreensível se nos ativermos ao cansaço das sociedades causado polas guerras de relixión que tinham assolado a Europa. A seguinte pergunta parecia cada vez mais razoábel: porquê, em vez de discutir dogmas muitas vezes inintelixíveis, non nos centramos naquilo que é verdadeiramente importânte, naquilo que une os crentes em vez de separá-los? Por exemplo, na existência de unha divindade, na imortalidade da alma e na possibilidade de essa divindade premiar, nunha outra vida, o comportamento moral. Mas, ao mesmo tempo, pode demonstrar-se que esta modalidade de relixión também carece de qualquer tipo de apoio na razón e na experiência. Os argumentos a favor da existência de Deus que tradicionalmente foram apresentados non som válidos para Hume. Quanto à nossa existência depois da morte do corpo, nada (além do desexo, mas este non parece um fundamento lexítimo de assentimento) nos autoriza a esperá-la. Um primeiro argumento a favor da existência de Deus que Hume resolve de unha maneira sucinta é o que ele denomina como o “argumento a priori”, mas que hoxe chamaríamos “cosmolóxico” ou “da causa primeira”. Este argumento sustém que tudo o que existe debe ter unha causa ou razón da sua existência e, portanto, ao ascender dos efeitos às causas temos de recorrer finalmente a unha causa última que sexa necessariamente existênte, a um “Ser” que tenha em si mesmo a razón da sua existência, e que non há possibilidade de supor que non existe, sem se cair nunha contradiçón expressa. Ora bem, non é verdade que tudo o que existe deba ter unha causa ou razón para a sua existência? Certamente, e como questón de facto, todas as cousas que vemos à nossa volta têm sempre unha causa, mas isto non implica que debam tê-la por necessidade. Recorde-se que a experiência non nos fala de relaçóns necessárias, mas de meras conxunçóns constântes que criam expectativas na nossa mente. Para expressá-lo de outra maneira: como na natureza non descobrimos algo ao qual possamos chamar “necessidade” e que estabeleça o nexo entre unha cousa e outra, tudo o que podemos conceber claramente é possíbel. E acaso non podemos conceber claramente que qualquer cousa – ou o universo no seu conxunto, que é o que aquí nos interessa – tenha surxido do nada, sem unha causa antecedente? Talvez aqui mereça a pena fazer unha digressón mínima e observar que, para Kant, o princípio de causalidade é unha lei universal e necessária. Poderíamos dizer que quando um cientista non encontra a causa de um acontecimento non debe declarar que esta non existe, mas que, metodoloxicamente, nunca debe renunciar à possibilidade de a encontrar. Isso si, Hume poderia responder que tal como a possibilidade de unha causa de momento desconhecida non pode ser excluída, também non podemos excluir que algo (o universo, por exemplo) tenha surxido do nada. Como poderíamos saber que non foi isso o que realmente aconteceu? Como também non se pode excluir a possibilidade de o universo ser eterno, non tendo assim unha causa primeira, mas que o regresso dos efeitos às causas podería prosseguir indefinidamente, pois trata-se de algo que podemos conceber com a mesma facilidade. Diríamos que, como nós non estávamos, non temos unha experiência que nos indique se o universo surxíu do nada, se tivo um criador ou se sempre existíu. Que sentido tem, entón, afirmar que debemos recorrer finalmente a unha causa última? Além disso, o que é isso de um Ser “que non há possibilidade de supor que non existe sem cair nunha contradiçón expressa”? O certo é que, a respeito de qualquer ser, podemos conceber tán facilmente a sua existência como a sua non-existência. Como escrebe Hume: “Tudo o que é pode non ser. Nenhuma negaçón de um facto pode envolver unha contradiçón. A non-existência de qualquer ser, sem excepçón, é unha ideia tán clara e distinta como a sua existência. A proposiçón que afirma que non é, embora sexa falsa, non é menos concebível e intelixíbel do que aquela que afirma que é. (…) que César, ou o anxo Gabriel ou qualquer ser nunca existiram pode ser unha proposiçón falsa, mas, no entanto, é perfeitamente concebível e non implica qualquer contradiçón”.
GERARDO LÓPEZ SASTRE
.
AS ALTERAÇÓNS CLIMÁTICAS (3)
Publicado o07/09/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

A minha convicçón é que a única maneira de conseguirmos evitar as piores consequências desta crise existencial emerxente é criando unha massa crítica de pessoas que esixam as mudanças necessárias. Para que isso aconteça é reforçar a tomada de consciência, porque as pessoas, de unha maneira xeral, ainda non tenhem o conhecimento básico necessário para comprehender a terríbel situaçón na qual nos encontramos. O meu desexo é fazer parte do esforço que permita alterar esta situaçón. Decidi usar a minha plataforma para criar um libro baseado na melhor ciência disponíbel actualmente: um libro que aborde de unha forma holística a crise climática, ecolóxica e de substentabilidade. Porque a crise climática é, como resulta evidente, apenas um síntoma de unha crise de substentabilidade muito mais abranxente. Tenho esperança de que este libro possa constituir unha fonte de conhecimento para entendermos estas crises diferêntes e entre as quais existe unha estreita ligaçón. Em 2021, convidei um grande número de cientistas, especialistas, activistas, escritores e contadores de histórias, todos eles de referência, para contribuirem com os respectivos conhecimentos. Este libro é o resultado do seu trabalho: unha recolha abranxente de factos, histórias, gráficos e fotografias que mostram algunhas das várias facetas da crise de substentabilidade, com particular destaque para o clima e a ecoloxía. Abranxe todos os temas (desde as plataformas de xelo que están a derreter à economia, da “fast fashion” à extinçón das espécies, das pandemias ao desaparecimento de ilhas, da desflorestaçón à perda de solos férteis, da escassez de água à soberania indíxena, da futura produçón de alimentos aos orçamentos de carbono) e expón as acçóns dos responsábeis e os fracassos de quem xá debia ter partilhado essa informaçón com os cidadáns do mundo. Ainda estaremos a tempo de evitar as piores consequências? Ainda há esperança? Mas non, se continuarmos como até agora! Para resolvermos este problema, primeiro temos de o comprehender, e o facto de que o problema em si é, por definiçón, unha série de problemas interligados, non vai facilitar. Teremos de expor os factos tal como eles som. A ciência é unha ferramenta, e todos precisamos de aprender a usá-la.
GRETA THUNBERG
.
BERTRAND RUSSELL (SOBRE A MORAL DO TRABALHO)
Publicado o14/09/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Ao longo da sua vida foi um fustigador perseverante da hipocrisia da moral victoriana. As suas razóns nascem da convicçón de que a repressón das paixóns só produz infelicidade e tirania. Aquilo a que chamamos moral victoriana refére-se ao puritanismo que imperou no Reino Unido durante o século XIX e que abranxeu todos os aspectos da vida, mas, em especial, a moral do trabalho e a sexual. Russell conhecia-a bem, pois foi a regra imposta pola sua avó na sua educaçón, até que a sua entrada na universidade o libertou desta autoridade. Apesar de ter escrito inúmeros textos contra a repressón na educaçón e na vida quotidiana, algúns destacam-se polo sarcasmo subtil e pola perspicácia. Sobre a moral do trabalho, é mais que recomendábel ler também o seu “O Eloxio ao Ócio”, escrito em 1932: “A ideia de que o pobre debe dispor de tempo libre, sempre foi escandalosa para os ricos. Em Inglaterra, no início do século XIX, a xornada normal de trabalho de um home era de quinze horas; por vezes, as crianças faziam tanto tempo como os adultos, mas, em xeral, trabalhavam doze horas por dia. Quando os intrometidos fizeram notar que talvez esse número de horas fosse excessivo, responderom que o trabalho afasta os adultos da bebida e as crianças do mal. Quando eu era criança, pouco depois de os trabalhadores urbanos terem conquistado o direito de voto, forom estabelecidas por lei algunhas festividades públicas, para grande indignaçón das clásses altas. Lembro-me de ter ouvido unha duquesa idosa dizer: “Para que querem os pobres os feriados? Deviam era trabalhar.” Hoxe as pessoas som menos francas, mas o sentimento persiste, e é fonte de grande parte da nossa confussón económica.”
FERNANDO BRONCANO
.
VIAGEM (CHECOSLOVÁQUIA – U.R.S.S.)
Publicado o24/10/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Depois de exame rigoroso nas bagagens, deixámos Praga de oito para nove horas, num avión militar. E logo aí notei particularidades. Non habia letreiro luminoso a esixir que amarrássemos os cintos e esquecéssemos algum tempo o cigarro. Buscando a correia para prender-me, obediente à esixência cristán, non achei prisón: polo menos nesse ponto via-me libre de amarras. O aparelho tinha-se erguido com rapidez incríbel sem que déssemos por isso. Olhando para fora, percebi a terra lonxe, a cem ou duzentos metros. Cêrca de onze horas estábamos em Minsk, no restaurante do aeródromo, travando relaçóns com o caviar e o vodka. À tarde chegámos a Moscou. E pensei no meu soturno desembarque em Praga, dias antes. Éramos agora unhas trinta pessoas. Descendo a escadinha, fomos detidos por unha onda rumorosa de fotógrafos e repórteres. Moças ofereceram ramilhetes às mulheres que nos acompanhavam. Entre as pessoas atarefadas nessa recepçón imprevista, duas sobressairam: um homem grave, que mais tarde me disseram chamar-se Constantino Tchugunov, e um rapaz alto, vigoroso, o ôlho vivo, o rosto aberto num sorriso largo e os cabelos inteiramente brancos. Essa mocidade forte e encanecida levou três de nós a um automóvel, conduziu-nos à cidade, e usando um português razoábel, que um lixeiro pigarro atrapalha quando surxe algunha dificuldade na sintaxe, entrou em camaradaxem rápida, cheia de pacientes informaçóns. Jorge Kaluguin viveu dous anos no Rio, onde foi correspondente da axência Tass; hoxe é redactor-chefe da secçón latino-americana de Tempos Novos, unha grande revista. Com exuberância foi-nos indicando lugares famosos, aqui e ali. A universidade nova, enorme: os corredores têm dezoito quilômetros de extensón. O Kremlin, a praça Vermelha, a catedral de San Basílio. Unha frase burlesca interrompe a seriedade que êsses pontos ilustres impôem: lá estaba o hotel Pina. E, como nos espantássemos, veio a explicaçón: naquele prédio viveu o Gomalina, criatura fogosa que levantou os meios oficiais brasileiros contra a Unión Soviética. O tinteiro com que ele agrediu o xerente da casa guarda-se como preciosidade. Fomos deixar as nossas bagaxens no hotel Savoy, onde non descobri nenhum dos operários vindos connosco de Praga: hóspedes dos sindicatos, afastavam-se de nós. O apartamento que me destinarom no Savoy, de três peças amplas, era luxuoso demais. O banheiro me tranquilizou, pois na Europa é comum arrumarem a xente em quartos sem banho. No alto da escada que nos levou ao refeitório um terríbel urso empalhado erguia-se em dous pés, alargava a bocarra ameaçadora. De volta à rua, vi perto do salón a estatueta que um oficial americano pretendeu furtar. É unha Vênus de oitenta centímetros, e como arte non representa grande cousa, mas tem a vantaxem de ser de metal amarelo, côr de ouro, e isto nos mostra a causa da tentaçón. Fomos andar nas linhas subterrâneas, vasto formigueiro que se desenvolve em três planos e serviu de abrigo anti-aéreo durante a guerra. A primeira estaçón surprehendeu-me, mas Kaluguin me esfriou o entusiasmo: aquela, a mais antiga, inaugurada em 1934, era de facto bem modesta. Embarcámos, desembarcámos noutra, enorme construçón de colunas e tecto cobertos de esculturas, luz intensa a derramar-se no chán brilhante como espelho. Inadvertidamente, acendi um cigarro — e no mesmo instante um guarda se chegou, disse-me com palabras, depois com gestos, que era proïbido fumar. Atrapalhado, xoguei o cigarro na pedra luminosa, mas como isso era também proïbido, tive de apanhá-lo, cheio de vergonha. Kaluguin aumentou-me a confusón dizendo, franco e rude, que salas tán suntuosas non eram feitas para que nós as suxássemos com cinza. Atirei o desgraçado corpo de delito abaixo da plataforma. De dois em dois minutos passa um trem. Mais de unha hora estivemos a entrar, a sair de carros, a subir, a descer largas escadas movediças, onde fervilhaba a multidón apressada. A franqueza do xornalista non me deixou nenhum ressentimento: êle tinha razón. Pouco depois estávamos a tratar-nos com familiaridade, como se fôssemos amigos velhos. Nos vagóns repletos numerosos militares nos exibiam as condecoraçóns ganhas penosamente na guerra, mas non me era possíbel determinar a significaçón dêles. Ésse tipo que está aí na frente é um oficial, non é verdade, Kaluguin ? — Sim, maior de aviaçón. Ésse rótulo oficial reduziu-me um pouco o valor do homem, largamente condecorado. Unha velha magra, cartilaxinosa, entrou rebocando um menino chorón. Os lugares estavam ocupados, mas é impossíbel unha criança viaxar em pé, e num instante essa gritaba no colo da avó, sem dúvida avó, com esixências estrídulas. Os vizinhos tentavam acalmá-la, em ván. Súbito um homem duro, de garras compridas e nodosas, levantou-se, pôs na mán do garôto unha pêra. O pranto findou, um resto de lágrimas xuntou-se ao surco da fruta mordida. A mulher, cuidadosa, xuntava sementes e pedaços de casca, arrecadava tudo no lenço e na bôlsa. Era o que eu devia ter feito pouco antes, se me houvessem dado a educaçón necessária. Cometida a infracçón, resignar-me-ia a esconder o infeliz cigarro numa caixa de fósforos.
GRACILIANO RAMOS
.
EM VIAXEM (A SOBERBA ANTILHA FRANCESA)
Publicado o04/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

De um lado da bahía, o velho forte Real, grave ainda com o equívoco reflexo da sua importância passada. Pois, raras vezes conseguíu deter os desembarcos inglesês. Do outro lado, imensos depósitos de carbón. Atrás, montanhas áridas e tristes. Logo, do outro lado da ilha, nas terras altas, onde se voltam a ver os extensos cafetais e as chairas verdexantes pola robusta cana do azúcar. Alí, a natureza resulta tán bela como fecunda, que sustenta a reputaçón admirábel da soberba Antilha francesa. Os pasaxeiros com destino às Guayanas, xá nos deixárom, e estamos em completa liberdade, para baixar ou non à terra. Perguntamos se há febre, desexando secretamente unha resposta negativa; mas, apesar de cerciorar-nos de que a enfermidade fatal reina em Fort-de-France, resolvemos baixar, persuadidos de que o buque, inmóbil e pegado a terra, baixo um calor de 37º, non sería refúxio muito seguro para evitar o contáxio. O novo gobernador tinha baixado pomposamente duas horas antes. Nunca esqueceréi o aspecto da praça, “la sabane”, como alí lhe chamam, no momento que penetramos nela, depois de ascender unha lixeira costa. Toda a povoaçón baixa, o soberano povo, estaba reunído, com motivo da recepçón ao gobernador, que neste momento passaba num landó, vestido de toda etiqueta, com um funcionário negro como as penas, ao seu lado, e outro non mais ruibo à frente. ¡¡Cómo comprehendí aquela mirada que me dirixíu, aquel saúdo cortês, mas tán impregnádo de profunda desolaçón!! Saquei o chapéu e saudéi com respeito aquel mártir, que saía dos salóns de París, para reinar sobre a ilha tropical. As fantasias mais atrevidas de Goya, as audácias coloristas de Fortuny ou de Díaz, non poderíam dar unha ideia daquel curiossíssimo quadro. O xovem pintor venezolano, que iba comigo, cubría-se com frequência os olhos e afirmaba, que non podería recuperar por muito tempo a percepçón do “rapporti”, isto é, das meias tintas e das gradaçóns insenssíbeis da luz, polo deslumbramento daquela brutal crudeza. Había sobre a praça unhas quinhentas negras, quase todas novas, vestidas com tráxes de percal de todas as côres mais abigarradas: roxos, rosados, brancos. Todas escotadas e com robustos brazos descobertos; os tráxes fixados debaixo das axilas e oprimindo os destacados peitos, recordabam o aspecto das “merveuilleuses” do Directório. A cabeza, coberta com um pano de seda, cuxas duas pontas, sobre a frente (à curuxa), formabam como dous pequenos cornos. Esses panos eram precisamente os que feriam os olhos; todos eram de diversas côres, mas predominando sempre aquel roxo lacre, ardente, mais intenso aínda que o chamado em Europa, lava do Vesubio; também, um amarelo ruxente, um violeta tornasolado, ¡¡Que sei eu!! Nas orelhas, unhas grossas arracadas de ouro, em forma de tubos de órgano, que colgam até à mitade da cara. Os vestidos, de largo rabo, mas curtos por diante, deixando ver os pés… sempre descalzos. Podo assegurar que, a pesar da distância que separa este tipo do nosso ideal estéctico, non podía menos que determe por momentos a contemplar a elegância nativa, o andar airoso e selváxem das negras martiniquenhas. Mas, quando verdadeiramente afloram estas condiçóns, é quando, se as mira despoxadas dos seus luxos e cubertas com o curto e humilde tráxe de trabalho, balançândo-se sobre a tábua que une o barco a terra, baixo o peso da enorme canasta de carbón que portam à cabeça…
MIGUEL CANÉ (EN VIAJE, 1881-1882)
.
BENEDICTUS DE ESPINOSA (TRATADO TEOLÓXICO POLÍTICO)
Publicado o07/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

O que Espinosa estaba a escreber em 1665, enquanto a Inglaterra e a Suécia atacabam os Países Baixos, era o Tratado Teolóxico Político. Se, na parte referênte a Rijnsburg, tivemos a ocasión de relembrar a demasiado ignorada actividade científica de Espinosa, este é o momento ideal para eliminar a ideia de que Espinosa era um pensador alheio às circunstâncias políticas e históricas do seu tempo. Bem polo contrário, tentou participar no decorrer dos acontecimentos públicos, com o rigor intelectual próprio dele. Há dous desexos que impulsionam a reflexón política espinosista: estabelecer a paz civil e proporcionar a libre circulaçón de ideias. Foi por eles que Espinosa dedicou cinco anos ao estudo profundo da esexése bíblica e da história e língua hebraicas. Xulgaba que para derrotar a hierarquia eclesiástica -na sua opinión, a culpada polo fanatismo e a intolerância- era preciso demonstrar que a sua interpretaçón dos textos sagrados era falsa e interesseira. O clero, que non tinha parado de recomendar o príncipe de Orange às massas e de instigá-las contra De Witt e a causa republicana, era o principal ponto de apoio do imobilismo monárquico, ao qual atribuía a sua suposta infalibilidade. Espinosa percebeu que, para minar a posiçón do clero calvinista neerlandés, era necessário pôr em evidência a sua leitura tendenciosa e ilexítima da Bíblia. O resultado que obteve, o Tratado, é considerado o primeiro estudo bíblico moderno. Restrinxindo-se ao Antigo Testamento, elabora um estudo filolóxico para demonstrar que os seus diversos libros forom escritos em momentos diferêntes, e submete a unha profunda crítica as profecias e os milagres, ao mesmo tempo que afirma que, à marxem das virtudes éticas, a Bíblia non contém qualquer conxunto de doutrinas coherente, e conclui que a falta de unha mensaxem unitária invalida qualquer pretensón de autoridade eclesiástica em questóns políticas. Assim, Espinosa nega que a Igrexa possa imiscuir-se nas questóns de Estado. O Tratado é um libro de unha radicalidade e contundência assombrosas, que denuncia os enganos e as estratéxias do poder estabelecido e propôn alternativas ao erro com o obxectivo de libertarem o home e a sociedade. Foi a apoloxia da liberdade de consciência, a afirmaçón de que cada um tem um direito inalienábel para escolher a sua própria relixión ou para non ter nenhuma (cousas que naquele tempo eram escandalosas) o que inquietou ainda mais as autoridades, que viam nelas unha incitaçón à anarquia. Provavelmente, tinham motivos suficientes para rexeitar aquela contundente alegaçón a favor da tolerância e do secularismo.
JOAN SOLÉ
.
FRIEDRICH NIETZSCHE (CONTRA DEUS E CONTRA O NADA)
Publicado o13/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Por outro lado, o seu individualismo radical coloca a questón da articulaçón social. A natureza aristocrática do “super home” é tán extrema que se torna difícil imaxiná-lo noutro estado que non sexa a solidón. Unha hipotéctica sociedade composta por “super-homes” seria unha mera soma de individualidades solitárias. A única norma comum consistiria na obrigaçón de lutar contra todas as manifestaçóns (cristáns, pessimistas, ascéticas, etc…) que demonstrem menosprezo face à vida terrena. Além disso, Nietzsche non proporciona regras de convivência. Dir-se-ia que ele deixa esse trabalho para os próprios “super-homes” e para a sua ilimitada capacidade de invençón. Apesar de todas as questóns que desperta, o relevante é que o “super-home” encarna a soluçón ao problema que temos vindo a esmiuçar neste capítulo, a saber, o “enorme acontecimento” da morte de Deus e do nihilismo que essa morte traz consigo. A grandeza do “super-home” consiste em ser ao mesmo tempo um “anticristo e um antinihilista”, um espírito que derrota “Deus e também o Nada”. Recuperemos a pergunta que nos fizemos unhas páxinas atrás: ¿o que nos falta para estar à altura do “enorme acontecimento” ? Agora podemos reformulá-la do seguinte modo: ¿quán lonxe estamos nós do “super-home”?
TONI LLÁCER
.
JOHN RAWLS (UNHA REALIDADE SOCIAL INTRINSECAMENTE INXUSTA)
Publicado o15/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Rawls non se cansa de repetir que os princípios de xustiça debem ser aplicados à estructura básica da sociedade e non a casos particulares. Defende-o porque vê a xustiça mais como unha virtude das instituiçóns do que dos indivíduos, e porque a sua teoria é política e non metafísica, ou sexa, non está comprometida com nenhuma teoria particular do bem, mas com as normas sociais de convivência, debido a um “pluralismo razoábel”. Por outro lado, Rawls está convencido de que as inxustiças sociais derivam de unha deficiente normalizaçón das relaçóns sociais. O que é inxusto non é ter nascido pobre ou com deficiências físicas. Inxusto é que a sociedade nada faga para impedir que essas continxências moralmente imerecidas perxudiquem socialmente os indivíduos. Essa inxustiça pertence ao coraçón da sociedade, à sua estructura, non é meramente fruto de determinados comportamentos individuais. Por isso, Rawls xulga que a forma mais eficaz de lutar contra as inxustiças sociais é transformar as instituiçóns sociais, tornando-as mais xustas. Podíamos pensar que seria preferíbel transformar directamente a sociedade, como propônhem Marx e os marxistas. Podíamos pensar que, por exemplo, enquanto existirem o capitalismo e a propriedade privada dos meios de produçón, os princípios de xustiça serán sempre avassalados pola força de unha realidade social intrinsecamente inxusta.
ÁNGEL PUYOL
.
JÜRGEN HABERMAS (SHOW)
Publicado o17/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

O Parlamento, por outro lado, foi “rebaixado a mero comité de facçóns” em que as decisóns xá están previamente tomadas. O debate parlamentar transforma-se em “show”. A esfera pública xá non funciona como “princípio organizativo do ordenamento estatal”. A participaçón política xenuína foi arruinada. Resta o vazio do indivíduo que perdeu tanto o público como o privado e que se “preenche” através dos “mass media”. A idiotizaçón produzida pola televisón e a propaganda inhabilita o indivíduo para o exercício da crítica racional. Nas novas condiçóns criadas pola incorporaçón da clásse trabalhadora e das mulheres, Habermas concede que também cambaleia, a base do público constituída polas pessoas ilustradas raciocinantes. Admite que a homoxeneidade cooperava com a procura do interesse xeral, apesar de colixir as críticas marxistas ao interesse de clásse. Os interesses dos grupos enfrentados e a pluralidade expressada em termos de heteroxeneidade contribuem para arruinar o idealizado modelo habermasiano da esfera pública burguesa. Torna-se evidente que a inclusón de um maior número de pessoas, non significou unha maior democratizaçón, mas antes que, em correlaçón com os processos económicos e sociais que conduziam ao capitalismo monopolista governado por grandes organizaçóns, arruinou a qualidade da esfera pública liberal. A grande contradiçón do alargamento quantitativo da democracia é, que non trouxo um aumento qualitativo, mas, unha “perda de liberdade”. As vidas dos cidadáns, som cada vez mais controladas por “forças anónimas abstractas”. O consenso fabrica-se através de “opinion-molding services” –a opinión modela-se– e de prestíxio pessoal segundo o modelo publicitário. Habermas lamenta a degradaçón da “qualidade” da democracia. O referênte histórico do espaço público burguês foi drenado. Non obstânte, convenientemente tratada em termos comunicativos, a esfera pública deliberativa converter-se-á no referente utópìco do pensamento habermasiano e num elemento crucial na sua aposta pola democracia.
MARÍA JOSÉ GUERRA PALMERO
.
AS ALTERAÇÓNS CLIMÁTICAS (4)
Publicado o18/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Também precisamos de responder a algunhas questóns fundamentais. Como o que queremos, ao certo, resolver em primeiro lugar? Qual é o nosso obxectivo? É reduzir as emissóns ou poder continuar a viver do mesmo modo? O nosso obxectivo é salvaguardar as condiçóns de vida presentes e futuras, ou manter um estilo de vida pautado polo consumismo? O crescimento verde existe? E podemos ter crescimento económico eterno num planeta finito? Neste momento, muitos de nós precisamos de esperança. Mas o que é a esperança? E esperança para quem? Para aqueles de nós que criámos o problema, ou para os que xá están a sofrer as suas consequências? E o nosso desexo de proporcionar essa esperança pode estorvar a tomada de medidas e, portanto, acabar por se revelar mais perxudicial do que benéfico? Os mais ricos, que som 1% da populaçón mundial, som responsábeis por mais do dobro da poluiçón por carbono em comparaçón com as pessoas que perfazem a metade mais pobre da humanidade. Se o leitor é um dos 19 milhóns de cidadáns dos Estados Unidos ou dos quatro milhóns de cidadáns da China, que pertencem a esse 1% da populaçón –tal como todas as outras pessoas que têm um património líquido igual ou superior a 1.055.337 dólares–, entón talvez a esperança non sexa a sua maior necessidade. Polo menos, non nunha perspectiva obxectiva. É claro que ouvimos dizer que têm sido feitos alguns progressos. Alguns países e rexións dán conta de reducçóns bastante surpreendentes nas emissóns de CO2, ou polo menos desde que o mundo começou a negociar o enquadramento para xerirmos as nossas estatísticas. Mas qual é a sustentaçón de todas estas reduçóns se incluirmos as nossas emissóns totais em vez de estatísticas territoriais cuidadosamente xeridas? Por outras palabras, todas essas emissóns que negociámos com tanto sucesso com base nesses números. Por exemplo, transferir fábricas para locais remotos do planeta e negociar emissóns da aviaçón internacional e do transporte marítimo fora das nossas estatísticas –o que significa que, além de fabricarmos os nossos productos recorrendo a mán-de-obra barata e explorando as pessoas, também nos livramos das respectivas emissóns, as quais, na realidade, aumentarom. Isto é progresso? Para nos mantermos alinhados com as nossas metas climáticas internacionais precisamos de reducir as emissóns “per capita” para um valor de cerca de unha tonelada de dióxido de carbono por ano. Na Suécia, este valor cifra-se actualmente em perto de nove toneladas se incluírmos o consumo de bens importados. Nos Estados Unidos é de 17,1 toneladas. Se acrescentarmos as emissóns bioxénicas –como as emissóns provenientes da combustón de madeira e de massa vexetal–, em muitos casos esses números podem ser ainda mais elevados. E nos países com grandes áreas florestais, como a Suécia e o Canadá, significativamente superiores.
GRETA THUNBERG
.
BLAISE PASCAL (MAIS ALÁ DE EPICTETO)
Publicado o19/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Neste fragmento, podemos observar que Pascal estava de acordo com Epicteto no seu apelo a submetermo-nos à vontade de Deus de unha forma absolucta. Unha submissón que debe nascer de algo que os homes non conseguem esquecer: somos seres continxentes, a nossa existência non depende de nós, pois foi-nos dada, e a qualquer momento podemos perdê-la. Fomos postos no mundo por alguém, e as nossas vidas non som mais do que o fruto da sua vontade, e é a ela, única soberana, que nos debemos entregar. Somos, definitivamente meros actores de unha comédia cuxo enredo desconhecemos e só podemos aceitar humildemente o nosso destino. Este mundo non é mais do que um lugar de passaxem, e a nossa verdadeira identidade e o sentido da nossa existência só podem ser encontrados em Deus; tudo o resto, as cousas do mundo, non som mais do que um cenário por cuxas frestas se infiltra a ardente escuridón do nada. Além disso, Epicteto atribui um lugar privilexiado à morte na sua filosofia: considera a um acontecimento que o home nunca debe esquecer, que debe acariciar diariamente, pois essa certeza faz-nos estar atentos ao cumprimento do nosso único deber, que é aceitar a vontade de Deus, confiar nesse “dono de xustiça e sabedoria infinita”. Em suma, o que atraía fundamentalmente Pascal no filósofo estoico era a combinaçón desses três conceitos que também foram decisivos para ele: para ele: a necessidade de se submeter à vontade de Deus, a constante presença da morte como permanente possibilidade e o deber de nunca esquecer estas duas afirmaçóns para poder orientar a vida de forma correcta. Mas se Epicteto acertou ao dizer que o home só tem um deber, que é honrar a Deus, enganou-se, na opinión de Pascal, ao postular que era capaz de se aproximar do seu Criador polas próprias forças. Se caiu neste erro, diz Pascal, foi porque non deu importância suficiente ao pecado orixinal, se esqueceu de que a natureza do home está corrompida e de que, portanto, somos incapazes de chegar a Deus através dos nossos próprios meios. Relembremos que Pascal recorreu à interpretaçón dramática do pecado orixinal que os jansenistas faziam: a culpa do primeiro home afastou-nos de Deus, criou um abismo entre Ele e nós, e só a Ele compete, através do dom da graça, aproximar-nos de novo. A afirmaçón de Epicteto sobre o que o home podia em relaçón a Deus arrastou-o e fê-lo, segundo Pascal, continuar a cometer erros, defendendo ideias que o nosso filósofo considerou inadmissíbeis, como aquela que refere que a alma é unha porçón de substância divina, ou que o home pode acabar com a sua vida se o considerar oportuno.
GONZALO MUÑOZ BARALLOBRE
.
LOUIS ALTHUSSER (QUEIMAR OS BANANAIS)
Publicado o21/11/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Para isso era preciso, como vimos anteriormente, expropriar a populaçón indíxena das suas condiçóns de existência, separar os artesáns e os camponeses independentes dos seus meios de produçón. A Coroa inglesa non decidiu, portanto, funcionar como um microcapataz foucaultiano; à sua maneira, decidiu simplesmente “queimar os bananais”, destruir as condiçóns de existência da populaçón, desencaixar as peças dos seus modos de produçón e provocar unha “fame artificial” para o conxunto da populaçón. O proletariado do senhor Peel surxiria do exército de mendigos xerado por esta intervençón pontual e inusitadamente violenta, que teria criado para a história unha “estructura” capaz de xerar o “efeito-operário”. O senhor Peel tinha tentado transportar unha estructura transportando os seus elementos. E a estructura, loxicamente, non os tinha acompanhado. É por isso que se pode afirmar, como fai Marx, que Peel tinha exportado todos os elementos da produçón capitalista e esquecera-se, precisamente, “do capital”. Há um famoso texto de Marx que o expressa muito graficamente: “Um negro é um negro, apenas sob determinadas condiçóns se transforma em escravo; unha máquina de fiar algodón é unha máquina de fiar algodón, apenas sob determinadas condiçóns se transforma em capital”. Os operários som operários em determinadas condiçóns estructurais. Se estas faltam, deixam de o ser como por maxia. Sem se aperceber disso, a economia política e o conxunto da clásse política inglesa estavam, assim, “a recordar” os procedimentos polos quais se tinha constituído o próprio proletariado britânico. Marx, no penúltimo capítulo do Libro I, “A chamada acumulaçón orixinária”, fai a esse respeito um “esboço histórico” incríbel. Os romances de Dickens podem valer-nos também de unha ilustraçón muito exacta. O capitalismo em Inglaterra, também se tinha erguido sobre unha imensa fame criada na ponta da baioneta. O proletariado inglês surxíu de unha interminábel multidón de mendigos. Era preciso, sim, “recordá-la”… Forom dous séculos de expropriaçóns na ponta da baioneta que esvaziarom o campo britânico e escocês de camponeses. No referido capítulo, Marx faz um relato aterrador desta história pola qual em Inglaterra se fez, no seu momento, exactamente o mesmo que vimos fazer nas colónias: criar unha fame artificial para o conxunto da populaçón, de modo a que as pessoas, finalmente, se vissem levadas a acorrer ao mercado de trabalho.
CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA
.
ADEUS, RÍO MINHO (MOZOS DE ILUSIÓNS)
Publicado o14/12/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Predin as catástrofes coa mesma facilidade que as provocan. Non lles chega que a lei conceda o dereito á libre empresa, ao comércio, á plusvalia, queren exercer tudo isto en propriedades alleas, públicas, universais.
MOZOS DE ILUSIÓNS
Mozos, pero ben afeitos no lume da adversidade, paseáramos a nosa raiba polas ruas de Tui. Aquel homiño de ollos lutantes apertouse a preguntar: –Oia, contra qué protestan? —Contra as chuponas dos chupóns. —Cómo di? —O río para quén o traballa e non para quén o escaralla. Marchou sen entender nada, ao mesmo que nós ficamos sabendo que aquilo serviria de pouco. Queixas, protestas, demandas na percura de resposta foron estrellándose contra o balo de burocrácia e a un vénlle á memória aquilo de que “a verdade nunca está nos escritos do poder, ás veces atópase na letra pequena a pé de páxina e normalmente escrébena á marxe os povos, os homes, as loitas”.
CARLOS ALONSO — PUBLICADO EM “A PENEIRA” (ANO I-1984)
.
BERTRAND RUSSELL (A MORAL SEXUAL)
Publicado o17/12/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

O texto deixa claro que o seu olhar é tán político como filosófico. De facto, o assunto dá o título ao libro em que aparece e que contém textos políticos de natureza diversa: a universalidade da educaçón, a emancipaçón da mulher, o socialismo… A moral sexual puritano-cristán foi, ainda com mais intensidade, obxecto dos seus ataques. O seu libro mais conhecido e escandaloso é “Casamento e Moral” (1929), influenciádo polas descobertas etnográficas de Malinowski nas ilhas Trobriand e as de Margaret Mead em Samoa, onde imperavam costûmes sexuais libres da repressón das sociedades occidentais. Neste libro, Russell defende que o que xustifica o casamento é o convénio para a criaçón e a educaçón dos filhos. Opôn-se à concepçón pauliana-cristán de que sexa um remédio para a concupiscência, ou um mal menor. Claro que também pode ser o lugar de um casal afectuoso que mantenha relaçóns amorosas e sexuais mutuamente satisfactórias e enriquecedoras, mas isso non obriga, defende Russell, a tornar o casamento unha forma de repressón dos cônxuges. Russell acha que nenhuma proibiçón debe impedir os casais de manterem relaçóns abertas. Na verdade, afirma que o casamento é o resultado de um cálculo quanto à felicidade das partes, xuntas ou separadas. A educaçón sexual non repressiva da xuventude constitui outro dos temas centrais do libro, em que lança um manifesto a favor do amor libre, anunciando com várias décadas de antecedência o que viria a ser a revoluçón sexual dos anos sessenta. Custou-lhe a sua segunda expulsón da universidade, quando, como xá vimos, um grupo de náis católicas se opúxo à sua contrataçón pola CCNY (City College of New York). Muito do que Russell descreve baseia-se no que se vivia à sua volta, sobretudo nos grupos culturalmente sofisticados da burguesia londrina. Em todas as biografias dos membros do grupo de Bloomsbury se destacam comportamentos de casal que correspondem aos costûmes sobre os quais Russell escrebe. No entanto, era preciso ser muito coraxoso para dizer em voz alta o que a moral hipócrita do tempo ocultava sob unha vida dupla, muito característica das sociedades sexualmente repressivas.
FERNANDO BRONCANO
FRIEDRICH NIETZSCHE (A VONTADE NIHILISTA ASPIRA AO PODER…)
Publicado o21/12/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

É a este instinto theolóxico que faço a guerra: encontrei vestixios seus por toda a parte. Todo aquelle em cuxas veias corre sangue de theólogo acha-se, desde o princípio, nunha falsa posiçón em frente de todas as cousas, nunha posiçón que carece de dignidade. O “pathos” que delle emana chama-se “fé”: fechamos os olhos unha vez para sempre ante nós mesmos, para non soffermos por causa do aspecto de unha falsidade incurábel. Desta óptica defeituosa fazemos em nós mesmos unha moral, unha virtude, unha santidade, a boa consciência alia-se com a “falsa visón”; esíxe-se que nenhuma outra espécie de óptica possua valor, depois de termos tornado sacrosanta a nossa própria com os nomes de “Deus”, “salvaçón”, “eternidade.” Por onde quer que andei, desenterrei o instinto theolóxico; é a forma mais extensa, a verdadeiramente “subterranea” da falsidade. O que um theólogo tem por verdadeiro debe ser falso, é este quasi um critério de verdade. O seu mais baixo instinto de conservaçón é o que lhe prohibe pôr a realidade a claro, ou conceder-lhe a palabra num ponto qualquer. Onde quer que alcança a influencia theolóxica, están transtornadas as “avaliaçóns” ou necessariamente invertidos os conceitos “verdadeiro” e “falso”: “verdadeiro” é, aquí, aquilo que é mais pernicioso para a vida; o que a eleva, a realça, a affirma, a xustifica e a faz triumphar, chama-se “falso”… Se succede os theólogos extenderem, por meio da “consciência” dos príncipes (ou dos povos), os meios para o poder, non duvidemos do que existe no fundo desse facto: a vontade do fim, a vontade “nihilista” aspira ao poder…
FRIEDRICH NIETZSCHE
.
KARL MARX (O OPERÁRIO É MAIS POBRE, QUANTO MAIS PRODUZIR)
Publicado o25/12/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

O trabalho assalariado revela a situaçón de dependência e subordinaçón do trabalhador relativamente ao patrón. Marx, que se quer afastar de unha representaçón das relaçóns sociais como efeitos continxentes de contraposiçón de vontades, procura a sua fonte em relaçóns técnicas mais primárias e fundamentais; mais concretamente, no processo de trabalho assalariado. É intuitivo aquilo que o trabalhador produz, gastando a sua vida, passa a ser riqueza que dá vida a outro; mas, sob esta apropriaçón, por parte do patrón, do producto do seu trabalho, que é o que mais lhe dói, há outra realidade oculta que é preciso mostrar, a saber: o “producto” do seu trabalho acaba por ter unha vida própria e por confrontá-lo a partir de fora, dictando-lhe como debe viver, esixindo-lhe submissón e reverência. E essa é unha forma de alienaçón. Marx constata que a miséria económica, antropolóxica e moral do operário cresce em funçón do aumento da sua capacidade productiva; este facto paradoxal mostra que “o trabalhador é rebaixado a mercadoria” e que as mercadorias valem menos quanto mais facilmente som produzidas. É unha tese central ao seu pensamento, embora non disponha ainda da teoria para a fundamentar. Por enquanto dirá: “O operário é mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais cresce a sua produçón em potência e em volûme. O trabalhador converte-se nunha mercadoria que é tanto mais barata quanto mais mercadoria produzir”. Intuiçón que a observaçón reforça, mas sem expressón num aparelho conceptual que nos permita pensar o xogo e a necessidade do paradoxo. Notemos a dimenssón tráxica do diagnóstico: o trabalho assalariado capitalista é assim e é-o por necessidade, non há forma de escapar à sua determinaçón, non é unha anomalia, nem unha continxência; só os sonhos utópicos permitem escapar a essa terrível realidade. O trabalhador, ao produzir, empobrece-se ontoloxicamente, torna-se mais e mais um mero trabalhador, um mero ser productivo, um mero instrumento de produçón, unha mera mercadoria que se move pelas suas próprias regras. Marx serve-se do vocabulário hegeliano, onde o “espírito subxectivo” (as ideias) sai de si e cria, produz o “espírito obxectivo” (os productos). A esse primeiro momento seguia-se o da reapropriaçón na forma de ideias renovadas que enriqueciam a subxectividade e, assim, avançava a história para a reconciliaçón final, para a libertaçón. É a imaxem do trabalho artesanal que proxecta na sua obra a sua sensibilidade, a sua imaxinaçón, o seu saber e, através dela, renova e aperfeiçoa as suas ideias e as suas criaçóns. Mas no trabalho assalariado é diferente. Neste caso, a produçón expressa unha situaçón tráxica, unha definitiva e irreverssíbel perda de si do trabalhador. Rompido o circuito dialéctico, pois à obxectivaçón non se segue a reapropriaçón, o processo torna-se negaçón de si do trabalhador. E non só porque o produzido non é para ele (empobrecimento económico), mas porque essa riqueza, exterior e alheia, acaba ditando-lhe leis, regulando a sua vida (empobrecimento ontolóxico). Hoxe costumamos dizer que “os mercados dominam a política”, dominam as nossas vidas, que nos devemos submeter a índices e gráficos.
JOSÉ MANUEL BERMUDO
.
O TEATRO BOLSHOI (1O/XUNHO/1952)
Publicado o27/12/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

O teatro Bolshoi é unha tradiçón admirábelmente conservada: lá están como no tempo do czarismo as columnas do pórtico, o hall enorme, as escadas brilhantes. Parece ter sido feito na véspera. As modificaçóns lá introduzidas nestes últimos trinta e cinco anos realizaram-se em obediência rigorosa ao que existiu num mundo morto, e assim temos a impressón de haber continuidade perfeita. Aparentemente nada se alterou. A mesma platéia, os mesmos camarotes, os mesmos lustres; nessa velha mocidade as cortinas e os móveis se conservaram miraculosamente. Onde estaba a tribuna do imperador? Seria aquela, xunto ao palco? Non, era outra, ao fundo, imponência tremenda. Antes de 1917 debia estar de ordinário envôlta na cobertura de veludo, inútil, pois sua maxestade morava em San Petersburgo e poucas vezes honraria o teatro com a sua presença. Agora estaba aberta, cheia, e as pessoas arrumadas nela non diferiam das existentes nas cadeiras lá em baixo. Som êsses indivíduos que marcam a diverxência entre o passado, vissíbel no ouro, no mármore, em pregas de tecido, em traços de escultura, e o presente, conservador dessas velharias preciosas e inofensivas. A arte e o luxo separam as classes, humilharam com dureza unha delas, mas isto é história velha –e non existem ressentimentos, é claro. A arte agora tem finalidade bem diferente da que lhe conferiam. Nos vestuários fervilha unha turba alegre que lá deixa agasalhos femininos, grossos capotes de home, e vai fumar no salón, exibindo as roupas mais diversas e maneiras diversas também. Três ou quatro senhoras exponhem com suficiência vestidos longos, rabudos e decotados, desviam-se do meio, comportam-se como duendes. Talvez sexam estranxeiras. O número exíguo dá-lhes aparência contrafeita. Non vemos unha casaca. A multidón invadiu a casa ilustre e aí se acha à vontade, como no trabalho ou na rua: ninguém teve a lembrança de modificar um pouco a indumentária. Blusas, vestimentas pesadas, sapatóns resistentes à friaxem. Fardas, condecoraçóns, as fitinhas e as medalhas vistas em toda a parte, vestíxios da guerra; unha pessoa arrimada à bengala, a claudicar, indica-nos estragos físicos. Mulheres gôrdas, vermelhas, de unhas escuras; Homes rixos, ásperos, afeitos ao calor das máquinas e ao frio da cidade, a obrigaçón diária a exibir-se nos músculos e nos calos. Fora das luvas, as máns apareciam grandes e nodosas. Isentas de cerimônia, essas criaturas mexiam-se, falavam alto, comiam laranxas e maçáns, xogando cascas e resíduos nos cinzeiros amarelos situados nos cantos da sala. Num têrço de século tinham-se diluído hábitos, convençóns, e a rotina, a imobilidade, ali se representavam por três ou quatro figuras magras de peitos descobertos. No burburinho e no movimento, duas surprêsas me chegavam: pessoas rudes, vazias na aparência, tinham recurso para ir ali mastigar frutos, pisar com botas grosseiras os tapêtes destinados ao burguês e ao nobre; como ninguém as obrigava a passar algunhas horas entregues à dança e ao canto, era necessário admitir que sentiam prazer nisto. Há na Unión Soviética unha feroz dictadura: a afirmaçón, no correr do tempo, entrou nos olhos e nos ouvidos como crávos. A ferocidade singular rouba o sono do operário, dando-lhe unha educaçón dispendiosa em excesso.
GRACILIANO RAMOS
.
DAVID HUME (DA SUPERSTIÇÓN E DO ENTUSIASMO)
Publicado o27/12/2024por fontedopazo | Deixar un comentario

Difícil será enfatizar suficientemente a importância de tudo isto para Hume. O seu anticlericalismo encontra-se expresso, por vezes de forma muito vehemente, em vários textos. Por exemplo, em “Da Superstiçón e do Entusiasmo” e na “História de Inglaterra”, onde descrebe as consequências perniciosas da relixión popular para a conducta humana e para a sociedade; ou em “Dos Caracteres Nacionais”, em que ataca de forma extremamente mordaz o carácter profissional dos sacerdotes, dos clérigos e dos padres. Na Parte XII dos Diálogos, Hume enumera mais unha vez as consequências nefastas da relixión. Tumultos, guerras civis, perseguiçóns, opressón, escravatura, finximento, falsidade, hipocrisia e fanatismo som apenas algunhas das consequências para a vida política e para a conduta humana, que Hume apresenta para xustificar a necessidade de separar a moral da relixión; e é claro que ele entende que esta pretensón é reforçada polo facto de a crença em Deus non ter xustificaçón racional.
DAVID HUME (DIÁLOGOS SOBRE A RELIXIÓN NATURAL)
.
AS ANTILHAS FRANCESAS (1881-1882)
Publicado o01/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Unha noite das que permanecemos em Fort-de-France, encontrei o meu leito no hotel, tán inhabitábel ou tán habitádo, que me vestí em silêncio, ganhei a rua e a risco de perderme, puxem-me a caminho do vapor. Afirmo que há que resistir menos assaltos desde a porta Saint-Martín até à Avenida da Opera, às onze da noite nos bulevares de París ou de onze a doze na vereda do Critérium em Londres, que em aquela marcha incerta baixo unha noite obscura. As huris africanas sucediam-se unhas às outras, e em um francês impossíbel, grotesco, combidavam a passar a ponte do Sirat; basta, para non sucumbir, recordar o procedimento de Ulises e tapar, non xá os ouvídos, senón as ventas, o qual sería mais eficaz. Pululam, aparecem de todas partes, até ter que apartálas de mala maneira. Por fim, cheguei a bordo, guiádo por unha luz eléctrica, colocada sobre o ponte… Assim que subí, o oficial de guarda chamou-me e mostrou-me o quadro mais orixinal que era possíbel conceber. A pé de buque e sobre a ribeira, formigueába unha multidón confusa e negra, iluminada polas ondas do fanal eléctrico. Eram mulheres que cargábam carbón a bordo, trepando sobre unha prancha inclináda de madeira. As que vinham cargádas, depositábam o carbón e descendíam por outra tábua contígua, como essas interminábeis filas de formigas que se cruzam em silêncio. Mas aquí todas cantabam o mesmo canto dolente, áspro, de melodia entrecortada. Em terra, sentado sobre um monte de carbón, um negro velho, sobre cuxo rostro em éxtase caia um raio de luz, movia a cabeza como num deleite indecíbel, mentras batía, com ambas máns e de unha maneira vertixinosa, o tambor que oprimia entre as pernas colocadas horizontalmente. Era um redobro permanente, monótono, idêntico, a cuxo compás se trabalhaba. Aquel home; retorcía-se de prazer, insenssíbel ao cansaço, parecía louco. “Era simplesmente um empregado da companhia, pago como todos nós” –afirmou o oficial– “Fai quatro horas que está a tocar e tocará até ao amanhecer, com brevíssimos momentos de repouso”. “Quixérom suprimilo; mas quando chegou o fim do dia, a producçón baixou para metade”. “Por outra parte, vai advertí-lo”. Chamou um marinheiro, e deu-lhe unha ordem e este baixou na direcçón do negro do tambor. “Vê o movimento, o entusiásmo com que todas essas negras trabalham? Mire aquela especialmente; tem dezoito anos e passa, non só por unha das mais belas, senón das mais altivas e pendencieiras. Vexa-a mover as ancas lascivamente mentras sobe; bebeu um pouco de “cacholi”, mas o que mais as embriága é o proprio canto, ao compás do eterno retumbar.” Nisto, tudo quedou em silêncio; as negras todas se mirarom unhas a outras, os cantos começarom a morrer nos lábios, algunhas parábam, colocando o canastro em terra, sentábam-se sobre el cruzando as suas pernas, inclinabam a cabeça como perdidas nunha melancolía nostálxica. As formigas que viaxabam sobre as tábuas, estabam raras, o movimento cessaba em terra. Quando, por um dos buracos da coberta apareceu a cara suáda e enegrecída do contramêstre, quem, levantando em alto um candil, gritou com voz de tempestade: “¡Du charbon, sang-Dieu! ¡Et toi, cré nom d’un fainéant. fais done rouler tot machin!” O oficial sonríu, o tambor fíxo-se ouvir de novo e o trabalho começou a recuperar a sua animaçón anterior.
MIGUEL CANÉ (EN VIAJE, 1881 – 1882)
–
VOLTAIRE (CARTAS FILOSÓFICAS)
Publicado o04/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Provavelmente, durante a sua estada em Inglaterra, debe ter enchido muitos quadernos de notas para hipotécticos futuros escritos de carácter satírico, embora, certamente, os fosse redixindo ao regressar a França. A experiência inglesa non era suficiente por si só e era preciso confrontá-la de novo com a realidade francesa, xá que as “Cartas Filosóficas” non pretendem ser unha crónica da sua viaxem, mas têm como missón destacar quán absurdos e anacrónicos som muitos dos princípios imperantes na sociedade francesa do seu tempo. Sem ir mais lonxe, tal como sublinha o filósofo analítico A. J. Ayer, o grande mérito da Igrexa de Inglaterra era ter ficado subordinada ao Estado. Os seus bispos podiam sentar-se na Câmara dos Lordes, mas eram claramente ultrapassados em número polos membros seculares. Além disso, o clero anglicano formava-se em Oxford e em Cambridge, lonxe da dissolucta Londres, que só frequentavam ao chegarem a cargos nunha idade avançada, quando as paixóns se encontram mais exaustas, excepçón feita à avareza. Por acréscimo, por serem casados costumavam ser monógamos, sem terem qualquer semelhança com esse híbrido de eclesiástico e laico que era o “abbé” em França, frequentemente um sibarita devasso, que costumava prosperar utilizando intrigas femininas. As primeiras sete cartas abordam questóns relixiosas de diversas perspectivas, como, por exemplo, a pureza dos costûmes. As quatro primeiras versam sobre os quacres, a quem Voltaire eloxía non tanto polo entusiasmo mas porque a simplicidade dos seus costûmes, a sua sinceridade, pacifismo e desinteresse lhe permitem fazer referência à ausência de todas essas virtudes noutras congregaçóns eclesiásticas. Anglicanos e católicos atraem crentes interessados no seu crescimento pessoal, mostram-se igualmente intolerantes com quem non abraça a sua relixión, som vaidosos e déspotas. A mundanidade do clero francês é obxecto de sátira. Mas os presbiterianos também non ficam muito bem retratados. Se repudiam o luxo dos prelados católicos é simplesmente por non poderem usufruir dele. Presbiterianos e anglicanos repudiam-se mutuamente. Como resulta evidente, “se em Inglaterra houbesse unha única relixión, era preciso ter medo do despotismo; se houbesse duas, degolar-se-iam mutuamente; como há trinta, vivem em paz”. Lemos nas Cartas: “O único lugar de Londres onde as confissóns relixiosas podem conviver sem confronto é na Bolsa!
ROBERTO R. ARAMAYO
.
PLOTINO (A SINGULARIDADE DO SÉCULO III, OU O ORIENTE “ENCAIXA” NA GRÉCIA)
Publicado o08/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Relatamos a vida de Plotino e a consonância do seu carácter com o ritmo xeral do seu tempo, mas o que dizer do seu proxecto filosófico? Como se reflecte esta consonância ao nível dos conceitos? Para o explicar necessitamos de mergulhar um pouco mais cuidadosamente no momento filosófico que representa o século III da nossa era. Neste capítulo, ocupar-nos-emos a delinear, em traços xerais, os desafios e os problemas a que a filosofia plotiniana responde, que consistem fundamentalmente nunha “emenda” a Platón. Perante unha filosofia temos sempre que perguntar o que leva à cena que antes non existisse. Se a história da filosofia fosse um teatro de marionetas, Plotino seria unha personáxe completamente nova. Antes dele tínhamos o filósofo grego (fosse académico, cínico, estoico…) e o practicante de relixións orientais (bramanismo, zoroastrismo, gnosticismo…). Mas Plotino é algo diferente, algo que está a acontecer no Exípto e na sua capital cultural, Alexandria: representa um terreno a meio caminho entre as duas figuras anteriores e que nega ambas por igual. Trata-se de unha fusón, mas era necessário talento para a levar a cabo; non bastaba “misturar”. Em Plotino, pode dizer-se que o Oriente volta à Grécia e “encaixa” nela. O que resulta daí é algo a que xá non se pode chamar exactamente “filosofia” no sentido clássico, e que, no entanto, se xulga decididamente inspirado nela; também non é ainda relixión no sentido medieval e cristán, embora contenha elementos que antecipam muito dessa concepçón do mundo.
ANTONIO DOPAZO GALLEGO
.
NICOLAUS MACHIAVELLI (TECNOCRACIA)
Publicado o12/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Na Florença do Resurximento, esperáva-se que os aspirantes aos cargos de alto funcionário fossem técnicos competentes nas “disciplinas humanas”, mais concretamente, em latím, retórica, história antiga e filosofia moral. Precisamente, Machiavelli tinha-se destacado, de entre todos os xovens da sua xeraçón, pola excelente formaçón humanista. Poucas semanas depois da sua primeira nomeaçón, também foi escolhido para secretário de outro órgan importante, os “Dez da Guerra e da Liberdade”, o comité responsábel polas relaçóns diplomáticas e dos assuntos militares de Florença. Nicolaus Machiavelli, sem ter completado os trinta anos, tornava-se, assim, ministro dos Assuntos Externos e da Defesa de unha Florença cobiçada por potências estranxeiras, e em disputa com o resto dos Estados italianos. O facto de o xovem Machiavelli acceder ao governo florentino demonstra a estreita relaçón que habia na cidade renascentista entre formaçón humanística e política, um pouco ao estilo dos tecnocratas actuais, que ocupam presidências e ministérios, na sequência da “crise” económica do dous mil oito. A notábel e nada desprezíbel diferença entre âmbos os tipos de tecnocrácia reside em que, entón, as disciplinas mais valorizadas para a vida pública, eram as Humanidades –um conceito, diga-se de passaxem, criado no Resurximento– e non a economia ou a administraçón, como acontece na actualidade. Daí que o título deste capítulo sexa “O diplomata tecnocrata”, também porque, como indica o dicionário, o tecnocrata é aquele: “estadista ou alto funcionário, que busca apenas soluçóns técnicas ou racionais para os problemas, sem levar em conta aspectos humanos e sociais”, unha questón que assenta como unha luva, tanto ao próprio Machiavelli, como à teoria que desenvolveu sobre o governo eficaz, de que falaremos depois.
IGNACIO ITURRALDE BLANCO
.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (“VOZ DO POBO, VOZ DE DEUS”)
Publicado o15/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

O subtítulo do presente libro, “E a política fez o home” (tal como é), imita o título do famoso filme erótico dirixido por Roger Vadim em 1956, “E Deus Criou a Mulher”, com unha impressionante Brigitte Bardot, que na época era esposa do cineasta. Rousseau vem-nos dizer que a política compete a todos e que quase tudo vai depender directa ou indirectamente do bom governo. Isto será subscripto, sem paliativos, nada menos que por Immanuel Kant, representante máximo do Iluminismo europeio, que, nunha obra intitulada “O Conflícto das Faculdades”. dactada de 1798, nos diz o seguinte: “Os nossos políticos garantem que se debe tomar os homes tal como som e non como os sonhadores bem-intencionados imaxinam que eles devem ser, mas esse “como som” passa a significar, na realidade, o que um determinado tipo de política fez deles”. Jean-Jacques Rousseau também diz, com toda a contundência, que nenhuma voz “divina”, como, por exemplo a do Fundo Monetário Internacional, a da informaçón macroeconómica ou qualquer outra instância intanxível, pode vergar a vontade popular, pela simples razón de que “a voz do pobo é a voz de Deus”, tal como diz literalmente no seu artigo sobre economia política publicado na “Enciclopédia de Diderot. Embora, por outro lado, também diga, em “O Contracto Social”, que a democracia é um sistema demasiado excelso para os homes: “Se houbesse um povo de deuses, governar-se-ia democraticamente. Um governo tán perfeito non convém aos homes”. Porém, esse pessimismo antropolóxico non o levou a aceitar essa divisa que nos é tán familiar por se ter popularizado tanto entre os mais xovens debido à falta de horizontes e expectativas que se lhes oferecem. É preocupante que a xuventude non deixe de entoar a toda a hora: “É a vida…”, fazendo gala de um conformismo impróprio da sua idade. Pelo contrário, Rousseau achava que cada um podia contribuir para mudar as cousas e, por isso, enfatizou bastante algo tán elementar como a empatia, um factor básico para a sobrevivência da espécie, e a coesón social, magnífico antídoto contra esse individualismo competitivo que se impôs por causa de interesses ideolóxicos muito específicos.
ROBERTO R. ARAMAYO
.
AS CONCLUSÓNS MAIS IMPORTÂNTES AINDA ESTÁN POR TIRAR.
Publicado o15/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Manter as emissóns a um nível inferior a unha tonelada por pessoa e por ano, non constituirá um problema para a maior parte da populaçón mundial, unha vez que apenas precisa de fazer pequenas reducçóns –se é que algunhas– para viver dentro dos limites planetários. Em muitos casos, estas pessoas poderíam até aumentar substancialmente as suas emissóns. No entanto, a ideia de que países como a Alemanha, Itália, Suíça, Nova Zelândia, Noruega e outros serám capazes de alcançar, sem grandes transformaçóns sistémicas, reduçóns desta monta dentro de algunhas décadas, é inxénua. Apesar disso, é o que os líderes dos chamados países do Norte Global estám a suxerir que vai acontecer. Algunhas pessoas acreditam que, se aderissem ao movimento climático neste momento, seriam das últimas. Contudo, isso anda muito lonxe da verdade. Na realidade, se o leitor decidir axir agora, ainda será um pioneiro. A parte final deste libro centra-se nas soluçóns e medidas que podemos realmente adoptar para fazer a diferença, desde pequenos xestos individuais até unha mudança no sistema planetário. Este libro pretende ser democrático, porque a democracia é a nossa melhor ferramenta para resolver esta crise. Pode haber diverxências subtis entre os autores dos artigos que compônhem esta obra. Cada um dos colaboradores expônhem o seu ponto de vista e pode chegar a conclusóns diferentes. No entanto, precisamos de toda a sua sabedoria colectiva se queremos fazer a enorme pressón pública necessária para promover mudanças. E, em vez de termos um ou dous “especialistas de comunicaçón” ou outros tantos cientistas a tirarem conclusóns para o leitor, a ideia que subxaz a este libro é a de que o leitor, colixindo o conhecimento de cada um deles nas respectivas áreas de especializaçón, fique em condiçóns de começar a tirar as suas próprias ilaçóns. Polo menos, é esta a minha esperança. Porque acredito que as conclusóns mais importantes ainda están por tirar –e espero que sexa o leitor a tirá-las.
GRETA THUNBERG
.
HANNAH ARENDT (A CRIAÇÓN DE UM ANTIMUNDO)
Publicado o18/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Os campos de concentraçón representam o triunfo do domínio total como última aspiraçón do rexime totalitário. Antes de chegar a esse momento final, o caminho para o domínio total segue um processo que Hannah Arendt descrebe da seguinte forma e nas seguintes fases: O primeiro passo sería a morte da pessoa xurídica. Isso consegue-se colocando certas categorias de pessoas à marxem da lei. Como vimos, isto realizou-se com a privaçón do “direito a ter direitos” de grandes grupos populacionais durante o período entre as duas guerras. O que é importante destacar aqui é que este passo se pode dar (e, de facto, deu-se) dentro das democracias accidentais. Portanto, non é algo exclusivo do rexime totalitário, mas pode ser a antecâmara do seu triunfo. O segundo passo é a morte da pessoa moral. Implica acabar com todo tipo de solidariedade humana e conseguir unha sociedade na qual impere a cumplicidade organizada com a violência. Aqui, a ideia principal é que este passo implique a criaçón de condiçóns sob as quais a consciência deixa de ser a régua que mede as nossas actuaçóns, e fazer o bem, optar pelo bem torna-se quase impossíbel. Por último, produz-se a destruiçón da singularidade humana, a morte da individualidade. Os campos de extermínio têm aqui um papel fundamental, pois som “os laboratórios onde se ensaiaram com êxito as mudanças na natureza humana”. Som a verdadeira instituiçón central do poder totalitário. Arendt chama aos campos “fábricas da morte”, destacando com isso o seu carácter de produçón de corpos, de matéria inerme. Neles, os prisioneiros som reduzidos às reaçóns corporais mais elementares perante o frio, o calor ou a dor. O seu comportamento, como o do can de Pavlov, que respondia mecanicamente aos estímulos, torna-se previssíbel, controlábel e moldábel. Destruiu-se a pluralidade e a singularidade humana de cada indivíduo, a sua capacidade para a acçón espontânea, de tal maneira que os indivíduos até se podiam trocar entre si ao acaso. Cada prisioneiro transformou-se num número e deixou de ser um indivíduo com unha história atrás de si. No campo de extermínio, os internos som tratados como se xá non existissem, como se estivessem mortos. O espaço do campo constitui um “esquecimento organizado” para os prisioneiros e para as suas famílias e amigos, pois tanto a dor como a recordaçón estám prohibidas. A morte é anónima, “arrebatando ao indivíduo a sua própria morte. A sua morte pôn simplesmente um carimbo sobre um assunto que, na verdade, nunca existiu”. A descripçón que Arendt faz do universo concentracionário foi corroborada pelos relatos dos sobreviventes, que sublinham muitos dos aspectos de que ela fala: a criaçón de um “antimundo” isolado do mundo exterior, que contribui para o sentimento de irrealidade.
CRISTINA SÁNCHEZ
.
O “INFINITO” IRRACIONAL (TON ALOGON).
Publicado o20/01/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

De um elemento primordial xeram-se as cousas, começando polo resto dos elementos, diz-nos Tales. No entanto, a certeza desta hierarquia entre os elementos non se impôn. Pode perguntar-se: porquê a água, e non o fogo, o ar ou a terra? E, de facto, a discussón, como veremos, non está encerrada a esse respeito (Anaxímenes preferirá o ar e, mais tarde, Heraclito decidir-se-á polo fogo). Ora bem, em vez de privilexiar um dos elementos, non se pode supor que têm orixem em algo que difere de todos eles? As cousas que nos rodeiam mostram-se como unha determinada composiçón de água, terra, fogo e ar. A diferença entre estes é a diferença última. Non confundir os elementos constitui o acto mais elementar de diferenciaçón. Mas entón aquilo ao qual os elementos se reduzem non pode ser “diferenciado”, carece de limite, térmo ou fim (peras) que o separe, é non-limitado ou in-finito (apeiros). A hipótese de que o fundamento tem de ser non-limitado, non finito, é a consequência directa da insatisfaçón que procura a tese de que um elemento concreto (a água, no caso de Tales) é a orixem dos restantes. De algunha maneira, trata-se do questionamento da hipótese do mestre que se pode esperar de um discípulo digno. A razón que procura precisamente um fundamento para o identificado e determinado acabaria assim por postular unha espécie de caos em que tudo se encontraria confundido. Aristóteles, que, como xá disse, é a fonte principal de informaçón sobre estes autores e um dos pensadores da história mais radicalmente opostos à afirmaçón do infinito, fará a esta tese unha crítica radical. Aristóteles concorda com Anaximandro ao defender que o infinito, ou carece de termo ou de limite, é certamente inapreenssíbel aos sentidos, mas difere deste ao sustentar que também non pode ser aprehendido polo intelecto; “infinito” é, assim, unha palabra para designar o irracional, o que non tem “logos”, isto é, razón ou conceito (ton alogon).
VÍCTOR GÓMEZ PIN
.
ADEUS, RÍO MIÑO (DEMAGOXIA) (4)
Publicado o14/02/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Predin as catástrofes coa mesma facilidade que as provocan. Non lles chega que a lei conceda o dereito á libre empresa, ao comércio, á plusvalia, queren exercer todo isto en propriedades alleas, públicas, universais.
DEMAGOXIA
Agora non valen as demagóxias, non se pode dicer que se vai paralizar a construcción por falta de matérias primas do rio. Segundo esa teoría, Madrid non existiria; non se pode argumentar que se perderon quarenta postos de traballo cando se tiñan destruido mil; non se pode admitir que o beneficio que deixaron de perceber dez familias sexa unha catástrofe, porque o producido pola pesca, por parte de ser meirande, estaba distribuido en setecentas. A realidade máis palpábel é o grave deterioro sofrido no habitat do Miño que agardamos non sexa irreversibel.
CARLOS ALONSO
.
LOUIS ALTHUSSER (O EÎDOS OU ESTRUCTURA DO CAPITAL)
Publicado o15/02/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

É preciso, contudo, reparar com atençón num assunto importânte: aqui non se trata de recordar aquilo que fez o capital ser capital, mas aquilo que faz o capital ser capital. Non se trata de recordar unha história, mas de que essa história nos permita “recordar”, num sentido inequivocamente platónico, unha “estructura”. Non se trata de unha investigaçón sobre as orixens históricas, mas sobre as “condiçóns” sem as quais non há modo capitalista de produçón. Non se trata de como “se formou” o modo de produçón capitalista mas de “em que consiste” este modo de produçón. A pergunta continua a ser estrictamente socrática: “o que é…?” Non que entre os parlamentares ingleses tenha xerminado um repentino interesse pola história da Inglaterra, mas que experiências como as do senhor Peel fixéram com que se apercebessem de que, apesar de toda a sua “experiência” a esse respeito, non se sabe “o que é o capital”, xá que non se consegue perceber o que é que tinha ficado “esquecido” em Inglaterra. Tal como xá tinha previsto Platón, o “eîdos”, a “estructura”, permanece sempre oculto, esquecido, na nossa vida quotidiana, no mundo da nossa experiência. Assim, Marx non empreendeu unha investigaçón do “passado”, mas, pelo contrário, deitou máns à obra para revelar a “essência do presente”. Unha “essência” que, misteriosamente, aparecia como invissíbel e impossíbel de experimentar ali onde o que habia era, precisamente, capitalismo. “Algo”, portanto, que estivera “ausente” em toda a sua análise do capitalismo, e que, no entanto, era a “condiçón” que conferia a cada peça a sua “definiçón” e a sua “realidade”. Assim, por exemplo, os operários non eram operários por levarem unha vida como tal (deambulando por Manchester ou viaxando num barco rumo a Nova Holanda): eram-no porque ocupavam um “lugar estructural” que os definia como operários, independentemente do que fizessem ou deixassem de fazer após o toque do despertador. Se se comportavam como operários era porque viviam sob unha condiçón: a de “carecer de meios de produçón”, a de “terem sido expropriados das suas condiçóns de existência”. Esta “condiçón estructural” é aquela que permite dizer que esses suxeitos que se comportam como operários, além de se comportarem como se o fossem, eles “som-no”. E continuaram a ser operários enquanto non mudarem essas “condiçóns”, independentemente do que façam ou deixem de fazer ao ouvir o despertador. Xá o comentámos: um operário que decide fazer ouvidos de mercador ao despertador non deixa por isso de ser operário, apenas se transforma num operário no desemprego.
CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA
.
DAVID HUME (OS PRINCÍPIOS DA MORAL)
Publicado o22/02/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

A existência de unha consciência moral é um facto inegábel. Em qualquer lugar estamos sempre rodeados de xuízos morais emitidos pelos outros ou por nós próprios, tais como “isso non se faz”, “bem feito” e outros parecidos. Entón, em que se baseia a moralidade? E tornando a nossa pergunta ainda mais concreta: como lhe dar resposta, se estamos cada vez mais cientes da diversidade de crenças morais que os homens foram mantendo em diferentes momentos ao longo da história, em diferentes culturas ou até dentro de unha mesma sociedade? O confronto com essa variedade pode muito bem levar-nos a renunciar à tarefa de fundamentar a moral, pois é possíbel que nos possa convencer que, através dos xuízos morais com suposta validade universal, os seres humanos non apresentem mais do que os seus gostos, os resultados da sua cultura e educaçón, que, em suma, do ponto de vista daqueles que os ouvem, pode muito bem parecer unha mera escolha pessoal, um costume ou unha moda, senón mesmo um preconceito. Xá Montaigne escrevera no seu ensaio “Dos Canibais” que “cada qual considerará bárbaro aquilo que non pertence aos seus costumes”. Neste caso, o filósofo moral experimentará a tentaçón do cepticismo, reduzindo a sua abordaxem à de um sociólogo ou psicólogo da moral. Contudo, se xulgássemos que Hume seria um céptico a esse respeito –um relativista, como diríamos hoxe–, estaríamos completamente errados. Para o filósofo escocês, encontrar a orixem da moral e defender abertamente alguns princípios de validade universal era exactamente a mesma cousa. Quando às diferenças de costumes que observamos em diferentes sociedades, é bem possíbel que estas non passem de algo muito superficial, manifestaçóns forçosamente convencionais de princípios que som, no fundo, idênticos. Hume debruçou-se sobre este problema ao lembrar que: (…) “muitas das formas que adoptam as boas maneiras acabam por ser arbitrárias e informais; mas aquilo que expressam é sempre o mesmo. Um espanhol sairá da própria casa à frente do seu hóspede, para demonstrar-lhe que passa a ser também dono dela. Noutros países, porém, o proprietário será sempre o último a sair, como sinal natural de certa deferência e consideraçón. É facilmente observábel aqui que a mesma deferência (o mesmo significado, diríamos) é evidenciada usando formas contrapostas. Por trás da diversidade pode muitas vezes encontrar-se a uniformidade.
GERARDO LÓPEZ SASTRE
.
VIAXEM (CHECOSLOVÁQUIA-U.R.S.S.)
Publicado o23/02/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

A cidade estaba cheia de retratos de Stalín —e isto provocou a observaçón indiscreta de um dos nossos companheiros: a demonstraçón de solidariedade irrestricta non impressionava bem o exterior. A senhora Nikolskaya ouviu com paciência a crítica azêda, xulgou-a, cortêsmente, leviana e absurda: nenhum russo admitia que as cousas se passassem de outra maneira. Essa réplica isenta de motivos era, no meu xuízo, superior a um longo discurso esteado em razóns. Estávamos diante de um facto, e condená-lo à pressa, ao cabo de alguns passeios na rua, parecia-me inxenuidade. Com certeza êle era necessário, e devíamos, antes de arriscar opinión, investigar-lhe a causa. Realmente non compreendemos, homes do ocidente, o apoio incondicional ao dirixente político; sería ridículo tributarmos veneraçón a um presidente de república na América do Sul. Non temos em xeral nenhum respeito a êsses indivíduos. Pelo contrário: a massa experimenta prazer em atacá-los, os xornais da oposiçón encarniçam-se em apontar-lhes as mazelas, reais ou imaxinárias. O amor a um poder, na verdade bem precário, faz que essas criaturas se resignem a tomar diàriamente um banho de lama. Verdades e calúmnias confundem-se. Hoxe em cima, em baixo amanhá, prêso a interêsses inconfessábeis, obrigando a mendigar o voto, alargando-se em promessas num instante esquecidas, o home público é um ser mesquinho. Habituamo-nos a xulgá-lo trapaceiro e venal; as suas palabras em tempo de eleiçón, ôcas e abundantes, som para nós desgraçadas mentiras. Bem. Trazemos no espírito a lembrança dessa figura triste, non a podemos afastar de chofre —e, chegados aqui, somos levados a compará-la ao estadista que passou a vida a trabalhar para o povo, nunca o enganou. Non podería enganá-lo. Esforçou-se por vencer o explorador, viu-o morto —e sería idiota supor que, alcançada a victória, desexasse a ressurreiçón dêle. É, desde a xuventude, um defensor da clásse trabalhadora. Esta expressón, razoábel há trinta e cinco anos, tornou-se desarrazoada, pois aqui xá non existem clásses. Dedica-se ao trabalhador, e efectivamente non há, nos tempos que correm, grande mérito nisto. Difícil foi tomar o partido dos pobres no princípio do século, quando a teimosa resistência o levou à Sibéria e à tortura. Hoxe a dificuldade sería escolher alguém a serviço dos patróns. Essa xente esvaíu-se na Unión Soviética, e a pessoa desexosa de servi-la necessitaria procurá-la no exterior. Se examinarmos as cousas com os olhos do capitalismo, chegaremos à conclusón de que o traidor sería unha espécie de herói. Non precisamos intelixência para compreender esta cousa simples: lá fora, onde a luta de clásses cada vez mais se acirra, o político, um boneco nas máns do proprietário, non tem meio de rebelar-se ou ficar neutro, pois isto lhe ocasionaría a derrota; neste país, libre da questón milenária, o suxeito recebe um mandato e fica na dura continxência de ser honesto. Se admitimos ésse infalíbel procedimento num deputado quirguiz ou siberiano, como pôr em dúvida o home que, em mais de cinquenta anos de prodixiosa labuta, se transformou num símbolo nacional? No começo foram os perigos, a vida subterrânea, o cárcere, o degrêdo, horríbeis sofrimentos e a certeza de conseguir viver bem afastando-se dêles; em seguida a tarefa xigantesca, sem pausa, a construçón dêste mundo novo que visitamos com assombro.
GRACILIANO RAMOS
.
EN VIAJE (1881 – 1882)
Publicado o28/02/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Os negros! Hé ahí o mal terribel da Martinica. Explorada polos valorosos prantadores do passado, non tardou, como todas as Antilhas, como as duas Américas, em ser um dos principais mercados para o comercio de ébano animal; as costas da Senegambia, da Guinea e do Cabo, subministravam escravos em abundância aos atrevidos corsários das interminábeis guerras dos séculos XVI, XVII, e XVIII. Estes, quando as presas faltabam, punham rumo à África e tornabam com as bodegas cheias da negra mercadoria… Recordo, que unha noite, a bordo do “Ville-de-Brest”, conversaba com um médico que se dirixía a Panamá, contratado para o serviço sanitário dos trabalhos do canal. Era um escéptico absolucto, um home de teorías feitas e intransixentes. Falamos da escravatura, e sem ascender à rexión suprema da moral, manifestei simplesmente a repugnância estéctica que me causaba a exploraçón do home polo home. A sua réplica foi característica: começou declarándome que, se xulgaba a questón desde o ponto de vista da filosofia relixiosa, nada tería que obxectarme, porque tudo sería inútil. Mas que se, polo contrário, eu era um positivista convencido, acreditando na constante evoluçón e, polo tanto, no encadenamento dos seres organizados, tería que ser lóxico, admitíndo que o negro, como o cabalo, como o touro ou as aves, se encontrabam a um níbel bem inferior ao nosso e podíamos, em consequência, utilizá-los lexitimamente para a satisfaçón das nossas necessidades. —Mas a este passo, aceitaría até a práctica do canivalismo! —Non, porque a carne de vaca é melhor, e as vacas non podem cortar “caña” nem recolher o tabaco! —Aquel home era um socialista em absolucto, e non caian dos seus lábios, senón pláns de reforma com vistas à felicidade humana sobre a Terra!…
MIGUEL CANÉ
.
BERTRAND RUSSELL (COMO SE IMPEDÍU QUE ENSINASSE NO COLLEGE OF THE CITY OF NEW YORK)
Publicado o05/03/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

A senhora Kay (Jean Kay) era representada por um advogado chamado Joseph Goldstein, que, sob a administraçón Tammany, que antecedeu La Guardia na presidência da Câmara de New York, tinha sido maxistrado da cidade. No seu discurso, descreveu as obras de Russell como “lascivas, libidinosas, luxuriosas, venéreas, erotomaníacas, afrodisíacas, irreverentes, mentalmente estreitas, infiéis à verdade e carentes de fibra moral”. Mas non era tudo. Segundo Goldstein, “Russell dirixíu unha colónia nudista em Inglaterra. Os seus filhos apareceram nus. Ele e a esposa apareceram nus em público. Este home, que tem agora setenta anos, gosta de poesia procaz. Russell pisca o olho à homossexualidade. Iría mais lonxe e diria que a aproba.” Como se fosse pouco, Goldstein, que passara o seu escasso tempo a estudar filosofia, concluía com um veredicto sobre a qualidade da obra de Russell. O veredicto ruinoso diz o seguinte: “Non é um filósofo na principal acepçón da palabra; non é um amante da sabedoria; non é um pesquisador de sabedoria; non é um explorador desta ciência universal que aspira à explicaçón de todos os fenómenos do universo polas suas causas últimas; na opinión deste depoênte e de muitas outras pessoas, é um sofista; practica o sofisma; por ardis, truques e astúcias e por puras insignificâncias propôn argumentos falaciosos e argumentos que non se apoiam em raciocínios correctos; e extrai consequências que non se deduzem propriamente de premissas correctas. Todas estas alegadas doutrinas a que chama filosofia, non passam de fetiches e proposiçóns baratas, ordinárias, gastas e requentadas, orientadas polo propósito de confundir as pessoas.”
(PAUL EDWARDS, “APÊNDICE. COMO SE IMPEDIU QUE BERTRAND RUSSELL ENSINASSE NO COLLEGE OF THE CITY OF NEW YORK”, EM PORQUE NON SOU CRISTÁN.)
.
A LONGA HISTÓRIA DO DIÓXIDO DE CARBONO
Publicado o15/03/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Qualquer forma de vida tem orixem no CO2. Este é o truque máxico orixinal, que precede tudo o resto no mundo vivo. À superfície da Terra, este gás transforma-se em matéria viva através da fotossíntese, um processo que apenas precisa de luz solar e água, dando orixem à libertaçón de osixénio. Este carbono vexetal flui entón através de corpos e ecossistemas animais e regressa aos oceanos e à atmosfera sob a forma de CO2. No entanto, parte do carbono escapa por completo ao bulício do mundo da superfície e passa para o interior da Terra, sob a forma de calcário ou de lodo rico em carbono, adormecido nas profundezas da crosta do planeta durante centenas de milhóns de anos. Se non for enterrado, este material vexetal é submetido a unha rápida combustón à superfície da Terra, na caldeira do metabolismo, por acçón dos animais, fungos e bactérias. Deste modo, os seres vivos consomem 99,99 % do osixénio produzido pola fotossíntese, e esgotá-lo- iam caso non existisse essa infiltraçón infinitesimal de matéria vexetal nas rochas. Contudo, foi a partir desta infiltraçón nas rochas que o planeta recebeu o seu estranho excedente de osixénio. Por outras palabras, a atmosfera respirábel da Terra non é o legado de florestas e remoinhos de plâncton ainda activos, mas do CO2 obtido polos seres vivos ao longo de toda a história do planeta e confiado à crosta terrestre sob a forma de combustíbeis fósseis. Se a história terminasse aquí, e se o CO2 fosse apenas o substracto fundamental de todos os seres vivos na Terra e a fonte indirecta do osixénio que sustenta a vida, isso seria bastante interessante. Mas o que se passa é que esta molécula despretenciosa também modula de unha forma crucial a temperatura de todo o planeta e a química dos oceanos. Quando a química do carbono dá para o torto, o mundo vivo entra em colapso, o termostacto rebenta, os oceanos acidificam-se e os seres vivos morrem. Esta surprehendente importância do dióxido de carbono para todos os componentes do sistema terrestre é o motivo polo qual non o podemos encarar como apenas mais um poluente industrial nocivo que é necessário regular, como os clorofluorcarbonetos ou o chumbo. É antes, como o oceanógrafo Roger Revelle descrebeu em 1985, “a substância mais importante da biosfera”.
PETER BRANNEN
.
KARL MARX (A ALIENAÇÓN NO TRABALHO ASSALARIADO)
Publicado o16/03/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Non é estranho que assim sexa. A alienaçón no trabalho assalariado é atravessada polo paradoxo de todos os tipos de alienaçón: quanto mais poderoso é o obxecto (afinal, trabalho seu), sexa este Deus, o Estado ou a Mercadoria, mais insignificante e miserábel é o ser humano, maior é a sua servidón e submissón. Nelas o home perde a subxectividade, alienada em criaçóns-obxectos que se tornam seus senhores; nelas perde-se como suxeito e reaparece como servo. E a chave desse mecanismo, diz-nos Marx, é que as suas próprias criaçóns se tornam seres “estranhos” a ele, estranhos e inimigos: “Todas essas consequências decorrem do facto de o trabalhador ser relacionado com o “producto do seu trabalho” como com um obxecto “estranho”. Está claro que, baseado nesta premissa, quanto mais o trabalhador se desgasta no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo de obxectos por ele criado relativamente a ele próprio, tanto mais pobre se torna a sua vida interior, e tanto menos ele pertence a si próprio. Quanto mais de si mesmo o home atribui a Deus, tanto menos lhe resta”. Mas a alienaçón relacionada com o producto non é a única figura da alienaçón no trabalho assalariado. Outra non menos relevante é a “alienaçón da actividade”, a alienaçón do trabalhador no “processo productivo”. Efectivamente, ao contrário do artesán, para o assalariado a sua própria actividade resulta-lhe alheia; deixa de vivê-la como criaçón própria, como oficio, para a viver como acçón dirixida e controlada por um poder exterior. Este poder exterior costuma identificar-se com o patrón, mas Marx aponta mais fundo: o patrón só representa esse poder, é a sua máscara, personifica-o. O verdadeiro poder é a “máquina”, non como instrumento mas como sistema: o trabalhador assalariado faz parte de um sistema-máquina no qual xá non pode criar, improvisar, deixar sair a sua alma, mas para o qual tem de contribuir só com esforço, movimentos do seu corpo pautados polo trabalho em cadeia. A Marx non interessa unicamente descrever os diversos efeitos antropolóxicos do trabalho alienado; o seu hegelianismo de fundo força-o a pensar a sua ordem, a sua dependência. À primeira vista, o mais relevante é a “alienaçón no producto”, o “estranhamento”; mas Marx procura a “ordem lóxica” e nesta investe o fundamento: “a alienaçón aparece non só como resultado, mas também como “processo de produçón”, dentro da própria “actividade productiva”. Como poderia o trabalhador ficar nunha relaçón alienada com o producto da sua actividade se non se alienasse a si mesmo no próprio acto da produçón? (…) A alienaçón do obxecto do trabalho simplesmente resume a alienaçón da própria actividade do trabalho”.
JOSÉ MANUEL BERMUDO
.
VOLTAIRE (A REPÚBLICA BURGUESA)
Publicado o21/03/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

O estímulo do interesse individual e a libre concorrência, som unha garantia de progresso e harmonia, como defendia Mandeville em “A Fábula das Abelhas”. A observaçón de Voltaire sobre a “tolerância relixiosa”, que implica o xogo da especulaçón, non deixa de ser inquietante, sempre que relembra a outra cara da actual globalizaçón, evidenciada na sua capacidade para dissolver pluralidades culturais e ideolóxicas. Em questóns de ordem política, compara o povo inglês com o romano, tendendo para este último, xá que “entre os romanos nunca de deu a horríbel loucura das guerras de relixión”. Na nona carta, rexeita enerxicamente a monarquia absolucta e o despotismo da nobreza, mas hesita quanto às formas de corrixir esses abusos. Dir-se-ia que sonha com unha espécie de “república burguesa”, definindo o povo como o conxunto “dos que estudam as leis e as ciências, dos negociantes e dos artesáns”. Como traduz Carlos Pujol para unha linguaxem actual: intelectuais, homes de negócios e classe média. Para Voltaire, o comerciante é o verdadeiro motor do mundo moderno e o seu papel é temido por unha nobreza ociosa, que só sabe adular sem nada contribuir para o bem comum ou para a felicidade do mundo. Sem dúvida, o patriarca de Ferney tinha vislumbrado o potencial revolucionário do burgués que, anos mais tarde, Marx identificará no “Manifesto do Partido Comunista”.
ROBERTO R. ARAMAYO
.
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (ALMA INCONSCIENTE DO MUNDO)
Publicado o22/03/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Vi Napoleón, essa alma do mundo, sair da cidade para ir passar revista às suas tropas; é efectivamente unha impressón extraordinária ver aquele home que, a cavalo, concentrado o seu olhar, abarca o mundo e o rege.
Carta de Hegel a Niethermayer
A sua vida foi o caminho de um semideus, de batalha em batalha e de victória em victória. Pode dizer-se que Napoleón se encontrava num estado perpéctuo de iluminaçón, daí que o seu destino fosse de unha luminosidade tal que o mundo nunca tinha visto nada parecido nem voltará talvez a vê-lo.
Carta de Goethe a Eckermann
VÍCTOR GÓMEZ PIN
.
JOSÉ ORTEGA Y GASSET (1)
Publicado o09/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

A carismática e multifacetada figura de José Ortega y Gasset (1883-1955) suscitou um grande número de opinións variadas e contrárias. Embora existisse quem non hesitasse em questionar a sua orixinalidade como pensador (como foi o caso de Nelson Orringer, ou do próprio Jorge Luis Borges, que atribuía ao espanhol unha carga estilística desnecessária), se há algo que distingue o nosso protagonista é o seu indubitábel esforço na procura do rigor próprio da filosofia no momento de pensar o nosso presente. Nas suas obras encontramos non só unha extensa e minuciosa análise das transformaçóns da Europa que teve que viver (a tán cheia de acontecimentos primeira metade do século XX), mas também a formulaçón de unha notábel metafísica. Ortega é, acima de tudo, um explorador das humanidades, que leva a cabo o seu estudo através de um vasto conhecimento e unha surprehendente cultura xeral. Grande parte do seu atractivo está na sua convicçón de que as questóns intelectuais também som, ao mesmo tempo, temas políticos. Para ser metafísico é preciso fazer de algunha forma “história”: a metafísica esconde um compromisso, quer se queira quer non, com unha determinada forma de observar o decurso histórico e o momento presente. Por este motivo, a filosofia esixe consciência de si e de tudo o que rodeia o suxeito pensante.
CARLOS JAVIER GONZÁLEZ SERRANO
.
¡¡ADEUS, RIO MIÑO!! (DESAGRADECIDOS)
Publicado o10/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Predin as catástrofes coa mesma facilidade que as provocan. Non lles chega que a lei conceda o dereito á libre empresa, ao comercio, á plusvalia, querem exercer todo isto en propriedades alleas, públicas, universais.
DESAGRADECIDOS
Pero o home é un ser inxusto e desagradecido, non entende as ventaxes do desenvolvimento, ignora que temos o río coas meirandes profundezas da península, o meirande volume de agua estancada, unha inmensa colonia de fermosas e cantareiras rás, engadíndolle nas ribeiras os esqueletes das máquinas destrutoras, os aparellos dos pescadores habilmente situados nas árbores caidas da ribeira e poderíamos dedicar todo para pasear turistas xaponeses, vestidos cunha cámara fotográfica ou retirádos ingleses, que anuncian a sua morte á familia cunha viaxe arredor do mundo. Como se toda a vida do río tivese escorregado ao mesmo tempo nunha carapa de plátano e caido ao fondo do abismo, só fica preguntar. –Cándo comezaremos a recuperar o perdido?
CARLOS ALONSO
.
JOHN LOCKE (ATRIBUIR A DEUS OS ERROS E MALDADES)
Publicado o13/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Unha diferênça evidente entre Locke e Descartes é que este empreendeu a sua investigaçón filosófica com o obxecto básico de “conhecer o conhecimento” para fundamentar a meditaçón, enquanto Locke, muito relixioso, condiciona o seu exame a um obxectivo moral: quer mostrar aos homes como debem viver neste mundo enquanto criaturas de Deus, oferecer-lhes, como diz no “Ensaio”, “unha obra moralmente útil”, ou sexa, segundo um estudioso, procura , mostrar como os homes podem usar as suas mentes para saberem o que precisam de saber e acreditar apenas no que debem acreditar. O conhecimento non se obtém por si só, mas para levar a cabo um aperfeiçoamento moral que abra as portas de unha vida melhor no próximo mundo. Locke está convencido de que algunhas crênças som censurábeis e que os homes som responsábeis polas suas crênças. Mas este carácter utilitarista na concepçón da epistemoloxia non implica de modo algum que o exame sexa menos rigoroso ou independente. Locke quer fornecer a ferramenta mais útil que for possíbel fabricar. Locke desexa prestar este serviço aos homes através de duas vias. Em primeiro lugar, mostrando como funciona o entendimento humano e quais som os seus limites, como pode alcançar crênças racionais e um conhecimento verdadeiro. Em segundo lugar, indicando as causas dos principais erros do entendimento na vida práctica. Os homes som os causadores dos seus próprios erros, non Deus, que com a sua bondade e o seu poder lhes proporcionou a razón para se rexerem, e liberdade para se emendarem e responsabilizarem polas suas próprias acçóns. Os seres humanos som libres e debem pensar e xulgar por si próprios, submeter as suas ideias e xuízos morais à razón. Infelizmente, na maioria dos homes, a falsidade e o erro predominam sobre a verdade e o conhecimento. A tarefa do filósofo consiste, entón, em afastá-los dos primeiros e indicar-lhes o caminho dos segundos. Repitamos: de acordo com Locke, os homes som libres (caso contrário, teríamos de atribuir a Deus todos os erros e maldades que cometem).
SERGI AGUILAR
.
O CICLO DO CARBONO (II)
Publicado o18/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

A substância mais importante na biosfera non é para tratar com sobranceria. O movimento do CO2 —quando flui dos vulcáns, axita-se na atmosfera e nos oceanos, xira através de remoinhos de vida e volta a mergulhar nas rochas— é o que faz daTerra a Terra. É aquilo a que se chama o “ciclo do carbono”, e a vida na Terra depende crucialmente deste ciclo global que mantém unha espécie de equilíbrio delicado, embora dinâmico. Enquanto o CO2 flui de um modo constante dos vulcáns (a um ritmo cem vezes inferior ao das emissóns humanas) e os seres vivos o trocam num frenesim incessante à superfície da Terra, ao mesmo tempo o planeta non para de o expulsar do sistema, evitando unha catástrofe climática. Os sistemas de retroalimentaçón que atraem o CO2 —desde a erosón de cadeias montanhosas enteiras até ao afundamento de catadupas de plâncton rico em carbono nos oceanos —, a maior parte das vezes servem para manter unha espécie de equilíbrio planetário. Vivemos num mundo improbábel e milagroso, o qual, de um modo imprudente, tomamos como garantido. Contudo, e de acordo com o rexistro xeolóxico, por vezes o planeta foi forçado a transpor um limite. O sistema terrestre pode vergar, assim como quebrar. E por vezes —em episódios demasiado raros e catastróficos, enterrados nas profundezas da história da Terra— o ciclo do carbono ficou completamente sobrecarregado, desfeito e descontrolado. E a consequência inevitábel foi a extinçón em massa. O que aconteceria se, digamos, vulcáns à escala continental, queimando calcário rico em carbono acumulado desde tempos imemoriais e inflamando enormes depósitos de carbón e gás natural no subsolo, inxectassem milhares de xigatoneladas de CO2 na atmosfera através da explosón de caldeiras e do derrame de lava basáltica fumegante e incandescente? Foi esta a situaçón com que os desventurados seres vivos de há duzentos cinquenta e um virgula nove milhóns de anos se depararom nos instantes que antecederom à maior extinçón em massa da história da vida na Terra. No final do período Permiano, o noventa por cento da vida, aprendeu o custo fatal de um ciclo do carbono completamente desequilibrado, debido à excessiva quantidade de dióxido de carbono.
PETER BRANNEN
.
KARL MARX (O HOMO FABER)
Publicado o19/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

A preocupaçón de Marx em pôr as relaçóns técnicas debaixo das sociais, em estabelecer a ordem das determinaçóns, é a essência da sua filosofia, responde nada menos do que à sua ideia do entendimento dialéctico do mundo, isento de ónus moral. Espontaneamente, tendemos a pensar que se o capitalista se apropria como dono do producto é porque é o dono da empresa, dos meios de produçón e, por essa mesma razón, tem o poder de controlar o processo, impor o método e organizar os ritmos da produçón. Pois bem, Marx dirá que o senso comum nem sempre anda de máns dadas com a ciência e que aqui a ordem de determinaçón é a inversa. Segundo ele, temos de pensar que é proprietário apenas porque leva o producto e, se o leva, é porque controla os meios de produçón e, em suma, se os controla, é porque o trabalhador non os possui, foi privado deles. Por enquanto, é unha intuiçón, precisa de teoria, mas serve para questionar a crença de que a “base” do mal é a propriedade privada e para conceder esse “prémio” ao trabalho assalariado. O trabalho assalariado, trabalho alienado por excelência, tem efeitos inquietantes, além da miséria física. Dado que, na concepçón humanista e burguesa, o trabalho non é só um modo de sobreviver. mas o modo de sobreviver humano, o trabalho assalariado equivale à desumanizaçón do home, à negaçón da sua vida conforme a sua essência, a sua condenaçón a unha vida inautêntica. Toda a concepçón burguesa do mundo, montada sobre a mística da dignidade do “homo faber”, se desmorona; a constelaçón de valores, critérios, hierarquias, lexitimaçóns da modernidade tornam-se mistificaçóns aos olhos de Marx, que revela que o trabalho assalariado é a negaçón do “trabalho”, cuxo conceito permitia ao homem pensar-se libre e criador de si mesmo. O trabalho assalariado é um “trabalho forçado”, unha actividade non libre feita por homes encarcerados, colocados fora do seu lugar, alienados da comunidade. E esta realidade percebe-se: “Primeiramente, ser o trabalho “externo” ao trabalhador, non fazer parte da sua natureza e, por conseguinte, ele non se realizar no seu trabalho, mas negar-se a si mesmo, albergar um sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, non desenvolver libremente as suas enerxias mentais e físicas, mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido. O trabalhador, portanto, só se sente à vontade no seu tempo de folga, enquanto no trabalho se sente contrafeito. O seu trabalho non é voluntário, porém imposto, é “trabalho forçado”. O texto de Marx faz da descripçón unha força moral inapelábel, como ao dizer que o trabalhador “só se sente livremente activo nas suas funçóns animais —comer, beber, procriar”, enquanto no trabalho, verdadeira funçón humana, se sente como animal: “O animal torna-se humano e o humano torna-se animal.”
JOSÉ MANUEL BERMUDO
.
FRIEDRICH NIETZSCHE (O DESTINO DE ARANHA)
Publicado o25/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Unha palabra mais contra Kant como moralista. Unha virtude debe ser a “nossa” invençón, a “nossa” defesa e a nossa “necessidade” pessoais; tomada em qualquer outro sentido, non passa de um perigo. O que non é unha condiçón vital, é “nocivo” á vida; unha virtude que só existe por causa de um sentimento de respeito para com a ideia de “virtude” como Kant a queria, é perigosa. A “virtude”, o “deber”, o “bem em si”, o bem com o carácter da impessoalidade e da validez xeral; chiméras em que se expressa a dexeneraçón, o último debilitamento da vida, a subtileza de Koenigsberg. As leis mais profundas da conservaçón e do crescimento esixem o contrario: que cada qual invente a “sua” virtude, o “seu” imperativo categórico. Um povo perece quando confunde o “seu” deber com a concepçón xeral do Deber. Nada arruina mais profundamente, mais a fundo do que qualquer deber “impessoal”, qualquer sacrifício ante o deus Moloch da abstraçón. (Non se tem achado perigoso para a vida o imperativo categórico de Kant! … Só o espírito theolóxico o tomou debaixo da sua proteçón!) Uma acçón a que obriga o instinto da vida proba ser unha acçón “conveniente” polo prazer que a acompanha; e aquele nihilista de entranhas christiano-dogmáticas consideraba a alegria como unha obxeçón… O que é que destroi mais rapidamente do que trabalhar, pensar, sentir, sem necessidade interior, sem unha profunda eleiçón pessoal, sem “prazer”, como autómato do “deber”? É, em certo modo, a receita para a “décadence” e até para a imbecilidade… Kant tornou-se imbecil. E era ele contemporâneo de Goethe! Este “destino de aranha” era considerado como o philósofo alemán por excelência, e é-o ainda! … Abstenho-me de dizer o que penso dos alemáns… Non via Kant na revoluçón françêsa a passaxem da forma inorgânica do Estado à forma orgânica? Non habia ele perguntado a si mesmo um facto inexplicábel de outra maneira que non fosse por unha aptidón moral da humanidade, de modo que por ele “se demonstrava” d’unha vez para sempre “a tendência da humanidade para o bem”? Resposta de Kant: —“É a revoluçón”. “O instinto que se equivoca em todas as cousas, o contrario á natureza como instinto, a “décadence” alemán como philosophia”. Isso é Kant!
CARLOS JOSÉ DE MENEZES
.
NICOLAUS MACHIAVELLI (DIPLOMATA)
Publicado o27/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Embora anteriormente lhe tenham sido atribuídas missóns menores, em 1500, Machiavelli inicia o seu percurso na mais alta diplomacia, quando parte para a corte do impenetrábel Luís XII, sobrinho e sucesor de Carlos VIII. Na primeira de quatro visitas diplomáticas que fará a França, o seu obxectivo era convencer o monarca francês a apoiar militarmente Florença e a manter a palabra dada polo seu antecessor a respeito da colaboraçón na reconquista de Pisa. Só que o secretário principiante e patriótico rapidamente se dará conta de que é preciso ter poderio militar para fazer respeitar os acordos, pois a palabra apenas non chega. E, para seu desgosto, apercebe-se de que os franceses non levam Florença a sério, precisamente por carecer deste poderio; unha liçón semelhante à que aprendeu com a queda de Savonarola, o profeta indefeso. Para Machiavelli, a única forma de se fazer respeitar na negociaçón política entre naçóns é ter suficientes soldados e armas que apoiem a sua posiçón (apesar de ser só de forma implícita). Verifica, entón, que é o exército, a capacidade de defesa e ataque, a própria base do Estado. Non é por acaso que os soberanos estranxeiros só valorizam os principados que están bem armados, ou que têm muitos recursos para pôr em cima da mesa. E embora as alianças com outros Estados sexam fundamentais para as relaçóns internacionais, estas compram-se sobretudo com dinheiro. Nicolaus toma, entón, consciência de que, se for necessário para os seus próprios interesses, non há qualquer contradiçón em lisonxear e até aliar-se a um antigo inimigo, a um traidor ou, neste caso, a um invasor, se este continuar a ser mais poderoso do que nós próprios. Além do mais, o nosso florentino tem ocasión de comprovar que a diferentes tipos de organizaçón política correspondem diversos tipos de poder: a emerxente monarquia francesa parece-lhe um poderoso Estado nacional (um só rei, com poder absolucto e exército próprio), ao passo que a sua amada Florença é unha cidade-estado republicana, fráxil e vulnerábel polo seu tamanho e por depender de forças mercenárias para se defender, o exército mais habitual no Renascimento.
IGNACIO ITURRALDE BLANCO
.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (DESIGUALDADE, EDUCAÇÓN E POLÍTICA)
Publicado o30/04/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Um dos muitos clichês ou estereótipos que circulam sobre Rousseau fá-lo passar por um precursor do comunismo, ao querer abolir a propriedade, no encalço de Platón ou de Thomas More, quando na realidade a única cousa que Rousseau queria era reduzir o seu excesso, isto é, impedir a acumulaçón de propriedades que propicia os monopólios e os abusos por acumulaçón de tudo: “A minha ideia” –escrebe Rousseau– “non é destruir a propriedade privada, porque isso é impossíbel, mas trancá-la nos limites mais estreitos que for possíbel”. Para erradicar simultaneamente a opulência e a indixência, recomendaba tributar tudo quanto fosse luxuoso e limitar a indústria, ao mesmo tempo que se potenciava a agricultura. Isso é o que recomenda aos corsos quando redixe um “Proxecto de Constituiçón para a Córsega”, no qual adverte que tais medidas fá-los-án mais ricos que o próprio dinheiro, por ser o dinheiro algo que só incentiva o comércio internacional e o crescimento artificial. Efectivamente, o mais desexábel seria tender para a autossuficiência de que goza o senhor de Wolmar em “A Nova Heloísa” e privilexiar o comércio local. Isto que a primeira vista poderia parecer bastante inxénuo hoxe em dia, quando a especulaçón financeira asfixia a economia de mercado e a deslocalizaçón das empresas propicia severas desigualdades sociais, recupera unha actualidade desmedida si se prestar atençón ao que se passa, por exemplo, no nordeste dos Estados Unidos, onde o pequeno estado de Vermont reclama unha “secessón substentábel”, cuxas chaves para a independência som a autossuficiência alimentar e enerxética e o estabelecimento de unha banca pública. No mesmo sentido vai o programa Chiemgauer, que tenta promover unha moeda para fomentar o comércio local nunha pequena povoaçón da rexión alemán da Baviera. Ou o denominado “consumo colaborativo” (sharing economy) que propôn utilizar as novas tecnoloxias para facilitar o acesso a bens e serviços sem esixir a sua adquisiçón, algo que, de outra forma, se practica eficazmente na antiga Berlim Oriental desde a queda do Muro e sem necessidade de recorrer à tecnoloxia. Algunhas destas iniciativas enxenhosas dos cidadáns que tentam combater as graves inxustiças xeradas polo fenómeno da globalizaçón recordam facilmente o pensamento de Rousseau de forma non deliberada.
ROBERTO R. ARAMAYO
.
VIAXEM A CHECOSLOVÁQUIA E U.R.S.S.
Publicado o09/05/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Prometi a colaboraçón, despedi-me do português moreno e submeti-me à dificuldade séria de acompanhar a excelente mulher (Sra. Nikolskaya). Ainda me iludi com a esperança de entrar num carro. Viaxem curta: desnecessário o automóvel. A Sra. Nikolskaya move-se com extraordinária rapidez. Elegante, aprumada, insensível ao frio, non se fatiga; avança; afasta-se da xente; as pernas, vigorosas em demasia, ignoram a existência de pernas menos vigorosas. Um vendaval bem-educado, amável e risonho. Enfim, paciência. Mexi-me, andei bastante, em penoso reboque, evitei por milagre os vehículos e, deitando a alma pola bôca, entrei num estabelecimento, onde, por felicidade, habia cadeiras vagas. Tomei fôlego, aproximei-me do balcón. Algum tempo depois, num gabinete, olhando o quadro cheio de letras absurdas, confiava-me à perícia de unha velhinha magra e bicuda. —Mme. Nikolskaya, por favor, diga a essa doutora que som analfabeto. Assim, nivelado às crianças, reduzi-me a atentar em pequenos círculos, dizer se as aberturas ficavam em cima, em baixo, à direita, à esquerda. —Que língua é essa? perguntou a oculista no fim do exame. Nunca ouvi cousa parecida. E, ouvindo falar na minha terra, observou-me um instante, como se eu fôsse um bicho esquisito. Na sala, esperando a minha vez de ser atendido, percebi entre os numerosos fregueses um suxeito de farda e condecoraçóns. Leviano, dirixi-me a êle, falei na guerra, mas a tentativa de relacionar-me com a força vista de lonxe, a 1º de Maio, teve péssimo efeito. O home sobressaltou-se, fixou-me um olhar feroz, ruxíu unha sílaba e deu-me as costas. Êsse procedimento non me ofendeu. Reconhecia-me indiscreto —e usara a indiscriçón por deber de ofício. O meu desexo era omitir os discursos, as frases convenientes, as cortesias empregadas com exuberância polos nossos hospedeiros. Envolviam-nos, desde a chegada, afirmaçóns de paz, e algunhas pessoas vacilavam, perguntavam se elas eram realmente sinceras. Podiam ser doses de morfina aplicáveis ao estranxeiro. Ficaríamos entorpecidos, regressaríamos docemente embalados, e ao cabo de alguns meses os telegramas nos anunciariam a catástrofe. Sem dúvida o naufráxio do capitalismo: as consequèncias das últimas conflagraçóns firmavam-lhes esta idéia. Assim, na distante América, xulgavam incongruentes as manifestaçóns pacíficas expostas ao mundo ocidental. As palabras repetidas lá fora diverxiriam talvez das pronunciadas aqui. Nenhuma discordância percebiam, mas ainda estavam indecisas: os individuos que nos cercavam, nos automóveis e no hotel Savoy, escamoteavam possíbelmente a verdade, representariam de algunha forma a cortina de ferro tantas vezes mencionada nos xornais da burguesia. Non me importunavam tais reflexóns. Achava-me efectivamente certo de que a guerra abreviaria a ruína do proprietário. Mas, de qualquer xeito, êle estava perdido; hoxe ou amanhán se enterraria — e era doidice obter por elevado preço unha vitória infalível. Os patróns viveriam mais alguns anos, e entrariam suavemente na cova. Para que violências? Êste xuízo levava-me a aceitar sem dificuldade as opinións vixentes na superfície onde me colocavam. Mas o desexo me vinha de entender-me com figuras anônimas, tentar adivinhar-lhes o pensamento. Dilixenciaria fazer-me comprehender utilizando fragmentos de línguas estranxeiras —e um olhar, um xesto, me revelariam de chofre cousas íntimas. Que haveria nos miolos dos rixos militares vistos, a 1º de Maio, na praça Vermelha? A experiência me causou surprêsa. Ao interrogar um desconhecido, arriscava-me a non alcançar resposta. Considerando-me impertinente, com razón, o home levantaria os ombros, guardaria silêncio. Natural. Esperei isso, no pior dos casos. E a pergunta ocasionaba indignaçón e raiva. Esquisito. Non me referira a unha luta possíbel, mas ao conflicto passado, manifesto nas condecoraçóns expostas na farda vistosa do oficial. Oficial do exército, com certeza. A alusón inconsiderada ao facto que lhe trouxera as insígnias non lhe dava prexuízo. Afinal a minha inconveniência podia até significar o intuito de ser agradábel. Resumo: nariz torcido, cólera, violência interior. Non me feria nenhuma ofensa, claro. Resignava-me a ser mal recebido. Assustava-me, porém, aquela fúria rápida como um relâmpago. Necessário reflectir, arrumar discrepâncias. Por enquanto, espairecer, non me sobrecarregar com problemas difíceis. Como diabo um suxeito desenvolvido no quartel se zanga, porque falamos em barulho? Non é a profissón deles? Avizinhei-me do balcón, experimentei os óculos: —Mme. Nikolskaya, faça-me o obséquio de perguntar a essa xente se posso pagar com dinheiro francês ou brasileiro. Non tenho rublos. A óptima senhora, sem fazer a consulta, xogou-me a expressón xá bastante conhecida: —Vou resolver o assunto!
GRACILIANO RAMOS
.

EM VIAXEM, 1881- 1882
Publicado o13/05/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Foi em 1848, a favor da revoluçón de Febreiro e polos esforços de M. Schelder, director de colónias entón e actual senador permanente, quando os negros da Martinica e da Guadalupe se emancipárom. Mas o verdadeiro antagonismo, a luta terríbel entre os brancos, reducidos a um número insignificante, e a xente de côr, estalhou em 1870, quando a revoluçón do quatro de Septembro fixou o sufraxio universal como base do novo organismo polítido da França. Os brancos, descendentes dos senhores feudais do pasado, donos das capitais, dos senhores feudáis do passado, donos das capitais, da força inicial, da cultura, pretenderom, dirixir a masa obscura e tratá-la, pouco mais ou menos, como nas nossas pampas trata o “estanciero” aos gauchos, em tudo o que à política se refere. Mas, foi entón quando apareceu o grémio terríbel dos mulatos, zambos e quarterones, herdeiros dos maus instintos das duas razas que representam, e habendo bebido nas escolas o barniz de ilustraçón necessária para fundar xornais incendiários e proclamar nas praças públicas, diante de um auditório imbécil e fanático, o exterminio dos antigos senhores. Na actualidade, todos os diputados às Cámaras francesas por parte da Martinica, Guadalupe e a Guayana, son mulatos; mas a luta social circunscribíu-se à Martinica. É à morte: o branco non tem mais garantias que a guarniçón militar, enviada da metrópole, e o seu valor pessoal, que o fai respeitábel. Fai dez anos que os brancos, únicos proprietarios territoriais, únicos industriais, únicos homes de progreso na ilha, non se acercam às urnas. Non tenhem voz, nem voto, como durante vinte anos non o tivérom os homes honrados da circunscripçón de Nova York. Vingam-se com altivêz, com o seu orgulho desmedido. O xefe de um dos buques da estaçón naval das Antilhas, era um perfeito cabaleiro, estimado, intelixente e bravo, mas home de côr; xamais pisou um salón de Fort-de-France ou de Saint-Pierre. Ese mesmo oficial françés, encontrando-se em La Habana, foi expulsado, de um café, do lugar destinado exclusivamente aos brancos. Os seus oficiais fixérom própria a causa, e esteve a ponto de rebentar um deplorábel acontecimento…
MIGUEL CANÉ
.
JOSÉ BUENAVENTURA DURRUTI DUMANGE (3)
Publicado o19/05/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Quando Durruti recordou estes feitos, a sua irmán Rosa, debía ter presente as consequências que o mencionado conflicto tivo para a sua família. Até entón, e pese ao esíguo salário do seu pai, a sua situaçón económica podería considerar-se elevado com relaçón ao seu meio, graças à axuda que recebía do comercio de Lorenzo, Pedro e Ignácio. A partir de entón, a vida mudou para pior: Lorenzo tivo de pechar as portas da sua cantina; Ignácio, sem dar explicaçóns a ninguém, desapareceu de León, supondo-se que que emigrou para América; em quanto a Pedro Dumange, pai da mulher de Santiago, viu como a seu negócio, pouco a pouco se afundaba a causa de um explícito boicot do caciquismo local. A partir de entón, os plans da família em torno da educaçón dos filhos quedou forom modificados. Num princípio, o avô Pedro tinha o proxecto de que Buenaventura estudara, para que puidéra seguir à frente dos negócios de tecidos. Mais tarde, tivo que variar os seus plans, mas continuou com o propósito de que continuara os seus estudos, propósito que se frustrou polos escasos meios económicos com que a família contaba (o simples xornal de Santiago como carpinteiro). Com duas pesetas diarias, resultaba impossíbel sonhar com alimentar toda a prole e costear unha escola de pago. Polo qual o matrimónio decide enviar aos seus filhos a outro coléxio mais acorde com o seu nível social. A escola de Don Ricardo Fanjul. Neste segundo período escolar, Buenaventura non destacou precisamente polo seu rendimento. Non obstânte, o neno non parecía carecer de faculdades. Ao finalizar o curso, o mêstre Fanjul adxuntou à nota do seu alumno “Neno de intelixência desperta para as letras”. Quando cumpríu os quatorza anos, a família tivo que marcar o futuro do rapaz. O avô Pedro, que sentía especial carinho por Buenaventura, insistía em mandá-lo para Valladolid para que estudá-se, comprometendo-se costear os estudos. Mas, foi o xovem quem renunciou, descoraçoando o avô. Queria ser obreiro como o seu pai e aprender mecânica. No ano 1910 entrou de aprendiz de mecânico no talher do mêstre Melchor Martínez, quem tinha fama de furibundo revolucionário porque lía provocadoramente o xornal “El Socialista” nos bares. Para dizer verdade, o socialismo de Melchor Martínez, non estaba muito perfilado e a sua coherência deixaba muito que desexar. Tinha começado como militante obreiro em Bilbao e xá velho, cheio de admiraçón por Pablo Iglesias, tinha-se retirado para León. Alí montou um destartalado talher, que tinha mais de ferraría que de mecânica, no qual acostumabam a reunir-se uns quantos obreiros de tendências socialistas, para falar e discutir com o velho Melchor os avances e acçóns do Partido Socialista.

ABEL PAZ
.
¡¡ QUE NADA SE SABE !! (70)
Publicado o28/05/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Houbo alguns médicos segundo os quais, para ser perfeito, o médico debe padecer todas as enfermedades, antes de que poida emitir um xuízo perfeito sobre elas. E non parece de todo absurda a opinión (aínda que entón melhor sería non ser médico), pois ¿como vai pronunciar-se correctamente sobre a dor, quem nunca a sofreu? Diagnosticamos e curamos melhor, nos outros, as dores e doênças que xá experimentámos em nós mesmos. ¿Como entón, um cego ou alguém com defeitos de visón, vai dar um xuízo xusto sobre as côres, assím como alguém duro de ouvido sobre os ruídos, ou um paralítico sobre as qualidades tácteis? Por tanto, o que queira xulgar com perfeiçón, sobre as côres debe ver bem, e ouvir bem o que o faga sobre os sons, ter bem o tacto quem o faga sobre as qualidades tácteis, bem o gosto quem o faga sobre os sabores, mover-se bem quem sobre o movimento, dixerir bem quem sobre a dixestón, ter boa sensibilidade para a dôr quem sobre a dôr, imaxinar bem quem sobre a imaxinaçón, recordar bem quem sobre a memória, entender bem quem da intelecçón. De outro modo, como afirma Galeno, será navegante de libro, que, seguro, sentado num banco, pinta à perfeiçón portos, escolhos, promontorios, Escilas e Caribdis, e que, nunha palabra, goberna a nave com mêstria a través da cozinha ou encima da mesa, mas, se se fái ao mar e lhe confías o lême de unha trirreme, a espatelará contra as rochas, as Escilas e as Caribdis, que antes tán bem conhecía. Será como aquel que, na praça grita que perdeu o burro e o cán, descrebéndo-os com os seus sinais próprios, mas, se os tivéra diante, nos os reconhecería. E por esta razón se afirma que Cristo Nosso Senhor, quíxo sofrer as tribulaçóns humanas: para que se compadece-se mais, ao ter experimentado as nossas misérias. Pois do pobre se compadece melhor quem algunha vez foi pobre, do cautivo quem foi prisioneiro, nunha palabra, do desditádo quem foi desafortunádo, melhor que o pode fazer em tais casos quem nunca foi pobre, cautivo ou desafortunado.
FRANCISCO SÁNCHEZ
.
SIGMUND FREUD (UM OBSCURO EU, CHAMADO “CABALO NEGRO”)
Publicado o10/06/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Até Freud, a maioria dos filósofos concebia a natureza humana noutros termos, muito mais lisonxeiros, digamos. Freud, munido de razóns, atreveu-se a questionar perto de dous mil e quinhentos anos de reflexóns antropolóxicas positivas. Como é sabido, a grande tradiçón filosófica do Ocidente caracterizava o home como “animal racional”, isto é, como um ser dotado de um instrumento privilexiado, a razón, que o tornava capaz de compreender a realidade e a si próprio. Esta faculdade racional era, sem dúvida, unha capacidade ao serviço da verdade; bastaba ter a precauçón de orientá-la bem, com circunspeçón. Habia, sem dúbida, filósofos que valorizavam, com mais ou menos esperança, a possibilidade de atinxir a ansiada meta da verdade; mas, em todo o caso, neles apenas falhou a confiança de que seria a razón a marcar as etapas mais significativas deste longo caminho para a verdade. A razón, segundo a maior parte dos filósofos, tinha inclusivamente poder sobre a vontade e o desexo, de tal maneira que todo o home podia dirixir libremente as suas acçóns para o fim que considerasse mais conveniente. A liberdade humana era um facto practicamente inquestionábel. Em traços xerais, esta tradiçón filosófica tinha unha visón optimista do ser humano, mas que, em caso algúm, era ilusória; tinha, igualmente, consciência das “obscuras paixóns” que espreitam internamente o eu. Por exemplo, Platón, o grande mestre do pensamento ocidental, afirmaba no Fedro que a alma das pessoas possuía unha força concupiscíbel, sensual, exemplificada plasticamente na forma de um “cabalo negro”, que podia entorpecer o caminho da razón rumo ao conhecimento e à virtude. Xá na modernidade, o filósofo escocês David Hume mostrava que a razón era, a todo o momento, escrava das paixóns, e mesmo o filósofo mais iluminista, Immanuel Kant, refería a presença de “um obscuro eu” que preferia sempre o benefício egoísta à universalidade do deber.
MARC PEPIOL MARTÍ
.
MOSCOU, XUNHO DE 1952
Publicado o15/06/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

As irmáns Volia e Satva Brandao, residentes em Moscou, forom visitar-me, e, em paga, estive em casa delas, apartamento exíguo num sexto andar. Além das duas, vive lá Zarem, casado com Satva, Ésse rapaz embrenhou-se no português; para habituar-se à língua, iniciou a traduçón de um dos meus libros, com o auxílio da mulher. Achou, porém, dificuldades. Ao avistar-se comigo, apresentou-me um caderno onde rexistrou numerosas dúvidas. Satva pretendera esclarecê-lo; tinha-se embrulhado também, e ali no sofá, percebendo-lhe um érro, Zarem ria, asseverando loquaz haber acertado. Parece criança, unha robusta criança de vinte e poucos anos. Isto me aproximou dêle. Non o desiludi com a afirmaçón razoábel de que o libro non seria publicado. Zarem pensa de maneira diferente. Para convencer-se, dactilografou meia dúzia de capitulos, ofereceu-os a dez amigos, que representam a média dos leitores, e reuníu cuidadoso as opinións dêles. O resultado non foi desfavorábel. Apesar de algunhas críticas, intempestivas no meu xuízo, o traductor exibe optimismo. No sofá, aperreado com a sintaxe, buscando a significaçón exacta de unha palabra, escurecia-se às vezes, fazia-me consultas embaraçosas. Porque era que eu tinha escrito de unha forma e non de outra? Alguém non achava regular o comportamento de unha personáxem. Essas rabuxices de pessoas remotas, diversas da minha xente, alarmavam-me. Paciência. Tentando explicar-me, deixei provábelmente algunhas perguntas sem respostas. Que importavam essas cousas miúdas, casos vagos de unha rexión quase deserta do Brasil? Disfarcei a surprêsa e o enfado. Non me acostumei às esixências do público, embora, embora lhe reconheça o direito de recusar a mercadoria que exponho. Unha senhora magra e um perneta moço vinherom falar ao telefone, e abandonámos a literatura brasileira. —Estragos da guerra, murmurei quando êles se retiraram. Isso mesmo. Três rapazes da vizinhança. Um voltou sem braço, outro voltou sem perna, o terceiro morreu, e a nái, ao cabo de alguns meses, desapareceu também. O que ali estivera, arrimado à muleta, casara com a mulher magra, dançarina. Chocou-me o desaxustamento. Sumiu-se a alegria de Zarem, num instante a gravidade lhe deu aparência de velho. E as nuvens espalhadas nos rostos das minhas amigas acentuaram-se. Puxei a conversa para lembranças das misérias ainda recentes, mas fui importuno, sem dúvida: satisfizeram-me a curiosidade com palabras melancólicas e constranxidas. Esfôrço enorme, pessoas débeis a cavar trincheiras, gastar sangue e nervo em trabalhos horríbeis, e ausência de repouso. Frio, sono e fame. Um pedaço de pán negro e um pouco de água quente. Necessário afastar essas duras recordaçóns; deter-se alguém nelas é revolver chagas profundas. Cicatrizou à superfície, mas a carne se rasga às vêzes lá dentro, e desazados provocamos isso, excitamos dores apenas adormecidas. Vieram-me ao espírito o xesto, o olhar, a aspereza do oficial na casa da óptica. Chegamos curiosos, aludimos à terríbel carnaxem como se dezassete milhóns de víctimas non fôssem criaturas humanas. Desexamos na verdade, com a referência leviana, renovar a estupidez lá fora repetida em excesso: —“Están dispostos a fazer outra guerra?” Nem admitem que se fale na passada, querem de facto esquecê-la. Urxe desviar fantasmas, pensar noutras cousas. Satva pensou no trabalho que a esperava na rádio de Moscou e lá foi para a obrigaçón. À mesa, diante do café, a sombra do vizinho mutilado perseguia-me. Estavam ali bem vissíbeis a rudeza e a cólera do oficial visto na casa da óptica. Doidice imaxinar que as condecoraçóns tragam vaidade a quem saíu do inferno. E ainda queremos saber se alguém desexa tornar a êle. Ao cair da noite, no caminho do hotel, unha ideia renitente aflixiu-me: numerosas pessoas na multidón usavam membros artificiais. Busquei recompor-me dirixindo-me à toa à moça que me guiava no labirinto das ruas: —Volia, porque é que você non casa? Muito fácil: é bonita, instruída, recebe ordenado razoábel como professora de física. Ela, a irmán e o cunhado ganham cinco mil ou seis mil rublos por mês. E casa, luz, água e telefone custam-lhes apenas cem rublos. —Impossíbel, camarada, respondeu Volia triste. Poucos homes hoxe poderiam casar comigo. Os que existem som muito novos ou muito velhos para mim. A referência amarga ao sacrifício de unha xeraçón arrepiou-me: —Volia, você tem horror aos alemáns? A professora de física hesitou, conservou-se um minuto em silêncio: —Non, camarada. É preciso non responsabilizar toda a xente. —E que me diz você de um povo que admite um goberno como aquele? Suxeitos óptimos quando apanham, mas se están em cima, é o que se víu: fornos crematórios, câmaras de gases, vivissecçón em criaturas humanas. Afinal o xenocídio. Que acha? Andámos algum tempo, estacámos esperando unha abertura entre os carros vagarosos. De repente a minha amiga falou, desviando-se um pouco da pergunta desagradábel: —Non entendo bem a alma russa. Vivo neste país desde criança —e non chego a entendê-la. Assisti, depois da victória, ao desfile de prisioneiros. Bambos, doentes, os pés envolvidos em trapos, non me causavam pena. E mulheres velhas comoviam-se: —“Pobrezinhos”. Tinham esquecido as misérias recentes. Nem supunham que entre aquêles pobrezinhos estavam talvez os assassinos de seus filhos.
GRACILIANO RAMOS (24 – XUNHO – 1952)
.
EL DISCRETO
Publicado o19/06/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

É unha obra didáctica de Baltasar Gracián y Morales. Aparecerom duas edicçóns em Huesca, 1646, tais como “El Héroe y el Oráculo manual”, do mesmo autor. “El discreto”, é um libro para alcanzar unha vida virtuosa, nada mais ou nada menos. E, para colmo da perfeiçón, também para a “eudemía”, ou sexa a felicidade. À qual Gracián acredita que só se pode chegar a través do exercício da prudência da raposa. Há que passar o primeiro terço da vida na companhía dos mortos (é dizer, dos libros dos clássicos e dos demais finádos). A segunda parte com os vivos, conversando com os Villaroyas, viaxando e descobrindo as maravilhas do mundo e da natureza. E, por último com um mesmo. Dedicado a meditaçóns próprias. Há que saber esperar com paciência; ser todo para todos; nunca perder o control; e ser intelixente e amábel. Gracián, que escrebía como “Lorenzo Gracián”, toma o seu modelo de home prudente ou “impavidus” de Horacio e o “sabio” de Machiavelli.
LÉRIA CULTURAL
.
KARL MARX (A ALIENAÇÓN NO OBXECTO)
Publicado o22/06/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Esta é outra figura da alienaçón no trabalho, menos divulgada talvés, mas mais essêncial em Marx, que nos axudará a resolver unha pergunta obrigatória: dado que o home non pode escapar ao trabalho, poderá libertar-se da alienaçón? O que equivale a dizer: pode pensar-se num trabalho isento de alienaçón? Postulamos que o trabalho está unido à condiçón humana, à sua subsistência, que passa sempre pola “apropriaçón da natureza”. O home non pode viver sem a natureza na sua dupla determinaçón: como “ser biolóxico”, pois dela obtém os “víveres”, e como “ser humano”, cuxa essência se realiza actuando nela, obxectivando-se, ou simplesmente pensando-a. A natureza, portanto, non só é “fonte de víveres” como o “obxecto” em que o home actua, cria ou sonha. O trabalho, como relaçón peculiar com a natureza por mediaçón de instrumentos, tem essa dupla funçón; assegurar-lhe a “subsistência” e a “essência”, permite-lhe viver e levar unha “vida humana”, transformar a natureza e fazer-se a si mesmo. Portanto, diz-nos Marx, o trabalho é ao mesmo tempo unha apropriaçón da natureza (meio de subsistência do home) e “unha intervençón criadora” na mesma (meio de realizaçón humana). Non há trabalho sem acesso a esse obxecto exterior, se se cortar a relaçón directa do home com a natureza; em consequência, o acesso à natureza, o acesso aos meios naturais, é condiçón da possibilidade do trabalho. Se se rompe esse vínculo, o home fica desprovido tanto do seu “meio de subsistência” (de tal maneira que ficará subordinado a quem lhe facilite os ditos meios), como do “meio de realizaçón da sua essência” (o empobrecimento ontolóxico, unha vida inautêntica). Marx é radical na sua tese: sem o vínculo imediato do home com a natureza, non é possíbel unha “vida humana”. Ninguém se salva. O amo, enquanto amo, pode sobreviver sem relaçón imediata com a natureza, unha vez que se relaciona com ela de forma indirecta, através do servo, ao qual fica subordinado à sua maneira; pode sobreviver, pode levar unha existência de amo, mas non unha “vida humana”, pois, ao ter abandonado o vínculo imediato com a natureza, perdeu o meio de se realizar a sí mesmo. A dialéctica hegeliana do amo e do servo, continua viva em Marx.
JOSÉ MANUEL BERMUDO
.
NICOLAUS MACHIAVELLI (A NEUTRALIDADE É UNHA ILUSÓN)
Publicado o28/06/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Durante esta primeira missón, o nosso xovem protagonista observa, pessoalmente, como som –e como se negoceiam– os interesses entre Estados. Reflexo disso é o capítulo III de “O Príncipe” em que aborda cinco erros cometidos polo rei francês na sua campanha italiana, dos quais conclui que existe “unha regra xeral que nunca ou muito raramente falha; quem axuda outro a fortalecer-se, fá-lo em seu próprio desproveito”. Ou, dito por outras palabras (traduzindo): aumentar o poder dos seus inimigos equivale a cavar a sua própria sepultura. Como sucederá repetidas vezes durante a sua carreira como diplomata, também nesta primeira missón Machiavelli desespera com a indecisón do próprio governo. Na realidade, a política da república florentina caracterizou-se por “temporeggiare”, isto é, dilatar no tempo as decisóns, à espera de circunstâncias mais favorábeis, na esperança de que a situaçón se resolva por si e de forma própria. Mas Machiavelli discorda de que esta sexa a melhor alternativa. Como xá teve ocasión de observar no caso da expulsón dos Medici, non se ganha tempo permanecendo inactivo, nem mantendo-se neutro. Deixar que sexa a sorte a resolver os problemas do Estado é, na sua opinión, unha estratéxia destinada ao fracaso. Mais, demonstra fraxilidade e cobardia. Polo contrário, o intrépido secretário recomenda a antecipaçón às circunstâncias (atacar primeiro); é preciso adaptarmo-nos à conxuntura e sermos flexíbeis nos tempos de mudança, procurando a todo o momento que os acontecimentos non acabem por nos atropelar. Na alta política é preciso tomar decisóns rápidas e, unha vez tomadas, há que ser firmes na aplicaçón. Machiavelli parece sussurrar-nos ao ouvido: se és unha pessoa indecisa, ou teis medo de te enganar, é melhor dedicar-te a outro ofício; podes ter a certeza de que os teus rivais som homes de acçón, que te ván obrigar a reaxir aos seus movimentos. De facto, a neutralidade é unha ilusón. Mesmo quando nos mantemos imóveis para evitar tomar posiçón face a dous grupos em conflicto, estamos na realidade a optar pola pior das alternativas possíbeis: o vencedor non nos vai apoiar e o vencido, vai-nos recriminar e guardar rencor.
IGNACIO ITURRALDE BLANCO
.
UM MURAL EM PONTAREAS
Publicado o23/07/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Depois de estar meditando, tudo o acontecido, entrelazando os feitos do dia em que démos rédea solta à nossa imaxinaçón, elaborando um mural de significádo ecoloxista. Cheguei a escoxitar a maneira de dizer a certa xente que, quando se está elaborando algo criativo, pensa-se únicamente no que nesse momento tu gostas ou enxergas, independentemente da significaçón política que cada um lhe queira dar. Muitos dos que alí estábamos pintando, chegamos a sentir certo constranximento repressivo, debído a certas estructuras craniais de algúns vecinhos que transmitidas pola vía da infância, chegabam até nós. Frases despectivas como: “que vais a pintar aí comunistas”! Insultos do tipo ordinário, ou inclúso unha patada. Sabído é que a infância é a melhor idade para aprender, debido à faculdade da imitaçón. Quando se referíam a nós, non só falavam com as palabras mas também com as caras. As suas caras, deixabam constância do que eles tinham presenciádo. Non comprehendo, como albergabam a valentia de plasmar nas suas mentes obtusas, sentimentos que van alterar a normalidade das suas vidas. Eles, que por natureza só pensam em divertir-se, de que outra maneira poderíam receber unha obra, feita em pleno século XX à vista de todo o mundo. Esperemos, que quando prossigá-mos com o desenho, se nos trate como personas humanas.
G. PASCUAL (PUBLICADO EM “A PENEIRA” – ANO I 1984)
.
JOSÉ ORTEGA Y GASSET (UNHA CONSCIÊNCIA DE COMUNIDADE)
Publicado o11/08/2025por fontedopazo | Deixar un comentario
.

O que fazer entón, na e por aquela Espanha que se encontrava na cauda da Europa após o trambulhón nacional de 1898? Na opinión de Ortega, trata-se de desenvolver a perspectiva de cada um, de passar da terceira à primeira pessoa. Ao mesmo tempo, o que unha pessoa debe e pode fazer, debe ser feito com a sua xeraçón: é preciso dar um passo conxunto, criar unha consciência de comunidade. Definitivamente, trata-se de estabelecer unha nova sensibilidade de acordo com os problemas que cada sociedade enfrenta. É preciso racionalizar a actuaçón política, explicar porque Espanha é como é, com a convicçón de que a realidade pode ser melhorada se forem tomadas as medidas adequadas. Neste sentido. o conceito essêncial que Ortega utiliza é o de “ideoloxía”. O pensador denuncia a falta de intesse pola orientaçón práctica do pensamento: as pessoas, encaradas como “massa” descarnada, som pouco esixentes consigo próprias. Todos temos de rexer-nos por unha “ideoloxía” que nos oriente como indivíduos (Ortega falará detalhadamente sobre este assunto na sua aclamada obra “A Rebelión das Massas”, publicada em várias partes no xornal “El Sol”, a partir de 1929). Tem de existir unha vontade de incorporar no comportamento unha série de princípios: unha acçón possui um sentido autêntico quando deriva inteiramente de unha perspectiva assumida, particular, autónoma e própria. Ao mesmo tempo, o futuro apresenta-se como unha xanéla ineludíbel que é preciso enfrentar. Tal como escrebeu em “A Rebelión das Massas”: “quer se queira quer non, a vida humana é unha constante ocupaçón com algo futuro. Desde o instante actual ocupamo-nos do que acontece. Por isso, sempre, sempre, sem intervalo nem descanso, fazemos. (…) Nada faz sentido para o home a non ser em funçón do porvir”.
CARLOS JAVIER GONZÁLEZ SERRANO
.
SUPERSTIÇÓN
Publicado o13/08/2025por fontedopazo | Deixar un comentario
.

Há sábios que defendem que se debe deixar que o pobo tenha superstiçóns, tal como se deixa as crianças ter andarilhos, porque, desde sempre é admirador de prodíxios: dos que lêm a sina, da romaria e das charlotadas. Há outros sábios que dizem que nenhuma dessas superstiçóns trouxo qualquer benefício para a Humanidade, que muitas delas causarom grandes males e que, portanto, debem ser abolidas. O supersticioso está para o intruxón como o escravo para o tirano. O supersticioso deixa-se governar polo fanático e acaba também por sê-lo. Perguntar se pode existir um pobo que estexa libre de superstiçóns é o mesmo que perguntar se pode existir um pobo repleto de filósofos. Talvez non tenha existido um só tumulto, nem um só atentado relixioso de que, antigamente, a clásse média non tenha sido cúmplice, mas os avanços da civilizaçón tornarom-na mais ilustrada e suavizarom os seus costumes. Nunha palabra, quando há menos superstiçóns, há menos fanatismo e quando há menos fanatismo, há menos superstiçóns.
DO ARTÍGO “SUPERSTIÇÓN” DO DICIONÁRIO FILOSÓFICO
.
A DESTRUIÇÓN DOS HABITATS
Publicado o25/08/2025por fontedopazo | Deixar un comentario
.

O testemunho mais antigo da força evoluctiva da espécie humana remonta aos restos fósseis recuperados nos primeiros locais de ocupaçón nos continentes e ilhas do planeta. À medida que, há mais de cinquenta mil anos, os seres humanos dispersaram de África e se espalharom polo mundo, as comunidades às quais se xuntáram começarom a mudar. Espécies de animais, sobretudo de grande porte, entre os quais os vombates xigantes, rinocerontes lanosos e preguíças xigantes, começaram-se a extinguir. Os nossos antepassados eram predadores eficientes, armados com tecnoloxías exclusivamente humanas: ferramentas que aumentavam as probabilidades de unha caçada bem sucedida e melhoravam a capacidade de comunicar e de as aperfeiçoar depressa. A coincidência temporal das extinçóns da megafauna e do surximento de seres humanos está gravada nos rexistos fósseis de todos os continentes, excepto em África. Esta coincidência, porém, non proba necessariamente unha relaçón de causalidade. Na Europa, na Ásia e nas Américas, a chegada dos seres humanos e as extinçóns da megafauna local ocorreram durante períodos de axitaçón climática, o que levou a décadas de debate acerca da relativa culpabilidade dessas duas forças nas extinçóns da megafauna. A proba da nossa culpabilidade provém, no entanto, da Austrália, onde as primeiras extinçóns ligadas aos seres humanos están rexistadas, e de ilhas, onde ocorreram algunhas das extinçóns antropoxénicas mais recentes: a moa de Aotearoa (na Nova Zelândia) e o dodó da Maurícia, foram extintos nas últimas centenas de anos. As extinçóns australianas, bem como outras mais recentes em ambiente insular, non ocorreram durante períodos de grandes alteraçóns climáticas, nem correspondem a extinçóns rexistadas durante eventos climáticos mais antigos. Em vez disso, estas extinçóns, como as de outros continentes, som consequência de alteraçóns no “habitat” local causadas polo aparecimento da espécie humana. Na nossa primeira fase de interaçón com a vida selvaxem, começámos logo a determinar o destino evoluctivo das outras espécies. Há quinze mil anos, os seres humanos entrarom nunha nova fase de interaçóns com as outras espécies. Os lobos cinzentos, que forom atraídos para os assentamentos humanos por constituírem fontes de alimento, transformaram-se em cáns domésticos, e os cáns e os seres humanos estavam a tirar proveito do seu relacionamento cada vez mais próximo. Quando terminou a última era glacial e o clima melhorou, a expansón dos assentamentos humanos esixía fontes fiábeis de alimento, roupa e abrigo. Há perto de dez mil anos, os seres humanos começarom a adoptar estratéxias de caça que mantinham as populaçóns de presas, em vez de as levar à extinçón. Alguns caçadores escolhiam apenas machos ou fêmeas non reproductivas e, mais tarde, começarom a encurralar espécies de presas e a mantê-las perto dos seus assentamentos. Non tardou a que as pessoas começaram a escolher os animais que seriam os proxenitores da seguinte xeraçón, destinando à alimentaçón aqueles que non conseguiam domesticar. As suas experiências non se limitaram aos animais. Também lançarom sementes à terra, optando por propagar as que produziam mais alimento por planta ou que amadureciam e estavam prontas para a colheita ao mesmo tempo que outras. Criárom sistemas de rego e usárom os animais para trabalhar as terras destinadas à agricultura. À medida que os nossos antepassados faziam a transiçón de caçadores para pastores e de recolectores para agricultores, transformarom a terra onde viviam e as espécies das quais dependíam cada vez mais. Na viraxem do século XX, o sucesso dos nossos antepassados como pastores e agricultores ameaçava a estabilidade das sociedades que tinham criádo. As terras selvaxens forom substituídas por terras de cultivo ou pastáxens e acabarom degradando-se por um uso abussívo e continuádo. A qualidade do ar e da água começou a mermar. O rítmo de extinçón galopou. Desta vez, porém, a devastaçón resultou mais evidente, as pessoas estabam mais ricas e a tecnoloxía era mais avançada. À medida que espécies outrora difundidas começárom a escassear, apareceu a vontade de protexer as restantes espécies e espaços naturais. Unha vez mais, os nossos antepassados entrárom nunha nova fase de interaçóns com as outras espécies: tornaram-se protectores, preservando “espécies e habitats” ameaçados dos perígos dum mundo cada vez mais humano. Com esta transiçón, os seres humanos tornaram-se a força evoluctiva que irá decidir o destino de todas as espécies, bem como os “habitats” onde essas espécies vivem.
BETH SHAPIRO
.
ANTONIO GRAMSCI (O SEGREDO DA SUBMISSÓN VOLUNTÁRIA)
Publicado o01/09/2025por fontedopazo | Deixar un comentario
.

A influênça actual de Gramsci tem a ver, antes de mais, com a sua comprehensón da enorme importância que tem esta “guerra de posiçóns” em qualquer luta política. “As superestructuras da sociedade civil som como o sistema de trincheiras da guerra moderna”, e sem trincheiras, hoxe em dia, dizia-nos Gramsci, resulta impossíbel ganhar unha guerra (Gramsci, Cadernos do Cárcere). Assim, lonxe de se tratar de unha batalha fictícia enquanto “superestructural” –como alguns marxismos quixérom ver aqui–, trata-se de unha confrontaçón crucial que decide, no fundo, os lados e as posiçóns que están em xogo. Trata-se de um xogo em que a partida é ganha por aquele que se conseguir apoderar do discurso hexemónico. Non é unha batalha fictícia, mas é unha que em muitos casos disputa ficçóns. É unha batalha por construir relatos, mitos, histórias, ficçóns. E, antes de mais, unha delas em concreto: a ficçón de “um interesse xeral”. De facto, o decisivo politicamente, o que realmente está em disputa, é que o poder possa exercer-se em nome da colectividade. Se non fosse assim, o poder teria de recorrer exclusivamente à sua capacidade de coartar e reprimir. Seria um poder ao qual as pessoas só obedeceriam por medo. Mas unha sociedade aterrorizada nunca pode ser estábel e duradoura. O poder, sem dúvida algunha, é poder de coacçón, mas também de convicçón. E sem estas duas faces conxugadas, nenhum poder é suficientemente poderoso. Quem se apropriar da vontade xeral, por outro lado, ganha o xogo. Na verdade, terá conquistado nada mais nada menos que o segredo da “submissón voluntária”.
CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA
.
KARL MARX (O TRABALHO ALIENADO)
Publicado o07/09/2025por fontedopazo | Deixar un comentario
.

Esta dupla relaçón, esta dupla dependência do home com relaçón à natureza é importantíssima. Nela tem as suas raízes a “possibilidade” do trabalho alienado, pois o trabalho assalariado como “vínculo social” aparece quando se rompe a relaçón directa do trabalhador com os instrumentos de trabalho, como é o caso em que, para sobreviver, tem de trabalhar ao serviço de outro. Portanto, há que procurar aí a chave do “trabalho alienado”, na ruptura e na separaçón do home com a natureza; há que procurar nessas relaçóns técnicas, obxectivas, a base do “trabalho assalariado”, que é unha relaçón social. O trabalho assalariado, e as diversas formas de alienaçón que contém, tenhem as suas raízes na ruptura da relaçón do trabalhador com a natureza, com os meios de produçón; esta ruptura separa-o da sua fonte de mantimentos e do seu meio de autorrealizaçón. Daí resulta que o producto do trabalho non sexa seu, se volte contra ele, passe a ser seu inimigo e o submeta à sua lei; neste momento decide-se que a sua actividade produtora deixe de ser a realizaçón da sua essência para ser desrealizaçón: “A alienaçón do trabalhador no seu obxecto expressa-se, segundo as leis económicas, da seguinte forma: quanto mais o trabalhador produz, menos tem para consumir; quanto mais valores cria, mais sem valor, mais indigno resulta; quanto mais elaborado o seu producto, mais deforma o trabalhador; quanto mais civilizado o seu obxecto, mais bárbaro o trabalhador; quanto mais rico espiritualmente se faz o trabalho, mais sem espírito e unido à natureza fica o trabalhador”. Portanto, se o segredo da propriedade privada reside no “trabalho alienado”, o deste, o enigma da produçón capitalista, reside na relaçón entre o “trabalhador” e o “obxecto” do trabalho. Esta é a relaçón essêncial do trabalho e nela, e apenas nela, se decifra o enigma do “trabalho alienado”, sob o qual o trabalhador se empobrece quanto mais produz e se degrada quanto mais domina o obxecto. E essa relaçón entre o trabalhador e o obxecto non só determina a relaçón entre o trabalho e o producto (do trabalhador com o producto do trabalho, com a mercadoria), como igualmente determina a do proprietário com a produçón (tanto com o producto do trabalho como com o processo). O enigma da produçón capitalista non se decifra, pois, nas vontades dos actores, mas na relaçón técnica da produçón.
JOSÉ MANUEL BERMUDO
.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (AS LEIS)
Publicado o09/09/2025por fontedopazo | Deixar un comentario
.

“Se os políticos estivessem menos cegos pola sua ambiçón, veriam como é impossíbel que qualquer estabelecimento possa seguir no espírito da sua instituiçón, se esta non estiver dirixida polo deber; sentiriam que a maior fonte de autoridade pública está no coraçón dos cidadáns, e que nada pode substituir as costumes para a manutençón do governo. Non só non há xente de bem que saiba administrar as leis, como, no fundo, só há xente honesta que lhes sabe obedecer. Quem eventualmente desafiar a culpa, em breve desafiará a tortura, e por muitas precauçóns que se tomem, àqueles que aguardam a impunidade pela culpa, non lhes faltaram meios para fuxir à lei ou ao castigo. Entón, como todos os intereses privados se unem contra o interesse público que xá non é o de ninguém, os vícios públicos têm mais força para enfraquecer as leis do que as leis para reprimir os vícios; e, no final, a corrupçón do povo e dos xefes estende-se até ao governo, por mais sábio que sexa. O pior dos abusos é aparentemente obedecer às leis para as minar com mais eficácia. Em breve, as melhores leis tornam-se as mais desastrosas: sería cem vezes melhor que non existissem!”
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (DISCURSO SOBRE A ECONOMIA POLÍTICA)
.
FRIEDRICH NIETZSCHE (CAUSAS IMAXINÁRIAS)
Publicado o22/09/2025por fontedopazo | Deixar un comentario
.

No christianismo, nem a moral, nem a relixión, se acham em contacto com um ponto sequer da realidade. Só “causas imaxinárias” (Deus, alma, eu, espírito, libre arbítrio) ou também o “non libre”; só “effeitos” imaxinários (pecado, salvaçón, graça, castigo, perdón dos pecados). Unha relaçón entre “seres” imaxinários (Deus, espíritos, almas); unha sciência “natural imaxinária” (anthropocêntrica; unha falta absolucta do conceito das causas naturais); unha “psycholoxía” imaxinária (só erros próprios, interpretaçóns de sentimentos xerais agradábeis ou desagradábeis, por exemplo dos estados do “nervus sympathicus”, com o auxilio da linguaxem figurada, da idiosincrasia relixiosa moral (arrependimento, remorso, tentaçón do diabo, presença de Deus); unha theoloxia imaxinária (o reino de Deus, o xuízo final, a vida eterna). Este mundo das “ficçóns puras”, distingue-se, com muita desvantaxem para ele, do mundo dos sonhos, em que este reflecte a realidade, ao passo que o outro, non fai mais que falseá-la, despreçá-la e negá-la. Depois de ter sido inventado o conceito “natureza” como oposiçón ao conceito “Deus”, “natural” torna-se o equivalente de “despreçíbel”, todo esse mundo de ficçóns tem o seu fundamento no ódio contra o natural (a realidade), é a expressón do profundo desgosto que causa a realidade. Mas, esta tudo explica! ¿Quem é o único que tem razóns para sair da realidade, por unha mentira? O que sofre por ella! Mas, sofrer pola realidade, significa ser na realidade fallido… A preponderância do sentimento de pena sobre o sentimento de prazer é a “causa” d’essa moral e d’essa relixión fictícias; mas um excesso tal dá a formula para a “décadence”…
FRIEDRICH NIETZSCHE
.
EN VIAJE, 1881 – 1882 (CARACAS)
Publicado o06/11/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Ás duas da tarde colhemos unha carruaxem, passamos pola aldeia de Maiquetia, situada a poucas quadras de La Guayra, à beira do mar, e começamos a ascensón da montanha. O caminho, no qual se empregam seis horas, resulta realmente pintoresco. O eterno aspecto da montanha, mas realzado aquí pola vexetaçón, os cafetais cubrindo as ladeiras, e aquelas xigantescas escalinatas talhadas no cerro a fim de obter, planos para a cultura, que recordam os curiosos sistemas dos indios peruanos baixo a monarquia incásica. Subir, baixar, voltar a subir, e a cada momento unha nova perspectiva apresenta-se à mirada. Todo este caminho desde La Guayra até Caracas, está regado com sangre venezolana, derramada na longa luta da independência, mas a maior parte nas terríbeis guerras civis, que asolárom este fermoso país, impedíndo-lhe tomar o posto que lhe correspondia pola extraordinária riqueza da terra. Nada mais delicioso que o câmbio de temperatura à medida que se ascende. Desde a linha tropical, vímos respirando unha atmôsfera abrassadora, que era quase infernal em La Guayra. Na montanha, o ar puro refresca a cada instante e os pulmóns, non acostumados a essa sensaçón nova, respiram acelerados, com a alegria com que os páxaros batem as asas na madrugada. A viáxe em carruáxe é dura e mortificante, polas sacudidas continuádas do chan que está destruído constantemente polas chuvas e a frequência do trânsito. Miro o futuro com invéxa observando os trabalhos que se efectuam, no meio de tantas dificuldades, para trazar unha linha férrea. ¿Será leváda esta a bom termo? Polo menos, consta que é unha aspiraçón colectiva em Venezuela, porque dela, como de algunhas outras non tanto extensas, depende a transformaçón deste país. Às oito e meia da noite chegamos por fim àquel val delicioso, tantas vezes regado polo sangre, em cuxo seio está Caracas, a nobre cidade que foi berço e que é tumba de Bolivar.
MIGUEL CANÉ
.
LOUIS ALTHUSSER (UNHA ESTRUCTURA QUE SEPARA A POPULAÇÓN DOS SEUS MEIOS DE PRODUÇÓN)
Publicado o17/11/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Ora, é certo que, ao falarmos de unha “violência estructural”, abordamos algo de certa forma paradoxal, pois trata-se de unha violência que produz efeitos estando, no entanto, “ausente”. Pensemos por um momento em termos linguísticos: unha língua pode “submeter-se” à autoridade de unha academia que determine as normas do linguisticamente correcto, que tem poder para decidir, por exemplo, que deixa de ser correcto acentuar certos monossílabos. Mas a maneira como unha língua “obedece” às suas regras gramaticais é de natureza muito distinta, porque aí non há nenhuma intervençón empírica que possa ser experimentada. Obviamente, os suxeitos falam correctamente mesmo que non tenham ideia de gramática, e fazem-no sem pensar em momento algum nas regras que em cada caso están a aplicar. Este modo de produzir efeitos sem intervencionismo, sem exercício de nenhum poder, este carácter impossíbel de experienciar do gramatical, foi aquilo que inspirou, no seminário de Althusser, a ideia de pensar o conceito de “causalidade estructural” com a axuda do termo “causa ausente” (um conceito importado da psicanálise lacaniana). Tratava-se de pensar o conceito de “eficácia estructural”. ¿Como produzem efeitos as “estructuras” e que tipo de efeitos produzem? Demos antes um exemplo que nos pode axudar. Um operário paquistanês de unha multinacional têxtil, escolhe ser operário todos os dias, porque se levanta todos os dias quando o despertador toca. Mas se, em virtude de unha decisón rebelde, um dia atira o despertador pola xanela, non é por isso que deixa de ser um operário; transforma-se, dizíamos, num “operário no desemprego”. Non era, portanto, a presença do despertador nem do capataz, nem da disciplina fabril em xeral, que fazia dele todos os dias um operário, mas, sim, a eficácia de unha ausência, a eficácia dessa estructura que tanto custou formar no seu momento, e que, unha vez construída historicamente, permanece “ausente” sem deixar de estar “presente”: unha estructura que separa a populaçón dos seus meios de produçón. Unha estructura, como dizia Althusser, “esgota-se nos seus efeitos”. Estes som a única forma de a experimentarmos. Unha pessoa sabe por experiência própria o que é um banqueiro ou um operário, unha pessoa tem as suas experiências com banqueiros e com operários, mas nom o que faz o banqueiro ser banqueiro ou o operário ser operário. Por isso, porque a estructura apenas aparece nos seus efeitos, é muito fácil tomar o efeito pola causa, xá que a estructura tende sempre a permanecer “escondida”. Este foi o motivo polo qual à “causalidade extructural” se chamou, além de “ausente”, “metonímica”: sendo o efeito confundido com a causa.
CARLOS FERNÁNDEZ LIRIA
.
JOHN LOCKE (XUSNATURALISMO E CONTRACTO SOCIAL)
Publicado o21/11/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Se as circunstâncias históricas determinaram em boa medida o conteúdo da reflexón política do nosso protagonista, o contexto intelectual da época proporcionou-lhe o quadro conceptual a partir do qual vai abordar a análise, um quadro conceptual em que se destacavam duas concepçóns de entre todas as outras. A primeira delas era o “xusnaturalismo” ou “direito natural”, do qual forom exponentes de relevo o holandês Hugo Grotius (1583-1645) e o britânico Thomas Hobbes (1588-1679), segundo o qual os princípios reguladores da acçón política podiam e debiam derivar da análise prévia da natureza humana. Existe, assim, unha essência fixa e imutábel do home que se erixe em pedra de toque para a avaliaçón das leis e das instituiçóns políticas, cuxa bondade e lexitimidade moral dependem da sua maior adequaçón àquela. Portanto, a primeira tarefa que o filósofo debe emprehender consiste em descobrir os constituintes essenciais do humano, para depois (e só depois) deduzir dessa essência desvelada os critérios normativos da política e da moral. O segundo elemento característico do pensamento político da época é o “contracto social” que, em parte, é consequência do xusnaturalismo. Efectivamente, o quadro que nos traça este último é composto por um conxunto de indivíduos singulares, mas irmandados por unha essência comum, da qual deriva um conxunto de direitos e obrigaçóns que lhes som consubstanciais e independentes do seu reconhecimento positivo por unha comunidade política constituída. Mas se existe unha natureza humana lóxica e historicamente anterior ao surximento da sociedade, unha das questóns a que se debe dar resposta é precisamente a da orixem da comunidade política. O que explica (e lexitima) a passaxem do “direito natural” ao “direito positivo”, do “estado de natureza” à “sociedade organizada”? Para dar resposta a esta pergunta, os pensadores do século XVII ván recorrer a unha concepçón destinada a ter duradouras consequências: a afirmaçón de um suposto “contracto social” entre os indivíduos, entendido quer como acontecimento histórico que sucedeu realmente, quer como ficçón metodolóxica. Por último, o contexto intelectual determina também o referente negativo, o inimigo a abater que motiva o desenvolvimento da filosofia política de Locke. E este non é mais do que as tentativas de lexitimaçón do poder absolucto do monarca, tanto na sua versón teolóxica (como “direito divino”) representada como veremos a seguir por Robert Filmer, como na versón mais secular e utilitarista de Hobbes.
SERGI AGUILAR
.
CIVILIZAÇÓN E EXTINÇÓN
Publicado o24/11/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

O início desta história está envolto em mistério. Há perto de duzentos mil anos surxíu em África, unha nova espécie de hominídeo. Ninguém sabe ao certo onde, ou quem eram os seus antepassados imediatos. Os membros desta espécie, que agora designamos “seres humanos anatomicamente modernos”, ou “Homo sapiens”, ou apenas nós próprios, distinguiam-se por terem o crânio arredondado e o queixo pontiagudo. Eram menos pesados do que os seus parentes e tinham os dentes mais pequenos. Embora a nível físico, non fossem muito atraentes, eram, ao que parece, excepcionalmente intelixentes. Fabricavam ferramentas que, de início rudimentares, tornarom-se cada vez mais sofisticadas. Conseguiam comunicar non só através do espaço, mas também do tempo. Eram capazes de viver em climas muito diversos e, o que também era importante, conseguiam axustar-se a diferentes tipos de alimentaçón. Onde a caça era abundante, caçavam; onde habia disponibilidade de marisco, optavam por consumi-lo. Estábamos no “Plistoceno”, unha época de glaciaçóns recorrentes, quando grande parte do mundo estaba coberta por vastos mantos de xelo. No entanto, há perto de cento e vinte mil anos (talvez até antes), a nossa espécie, que xá non era assim tán nova, começou a rumar a norte. Os seres humanos chegaram ao Médio Oriente há cem mil anos, à Austrália há perto de sessenta mil anos, à Europa há quarenta mil anos e às Américas há vinte mil anos. Algures ao longo deste percurso (provavelmente no Médio Oriente), o “Homo sapiens” deparou-se com os seus primos mais atarracados, o “Homo neanderthalensis”, mais conhecidos por “neandertais”. Os seres humanos, e os neandertais tiveram relaçóns entre si (embora sexa impossíbel precisar se consensuais ou forçadas) e xeraram filhos. Polo menos alguns destes descendentes devem haber sobrevivido o tempo suficiente para também xerarem filhos, e assim por diante através das xeraçóns, porque hoxe em dia a maior parte dos habitantes da Terra, alberga um punhado de xenes neandertais. Entón, algo aconteceu e os neandertais desaparecerom. Talvez os seres humanos tenham dado cabo deles de forma activa. Ou apenas os tenham superado. Ou entón, como um grupo de investigadores da Universidade de Stanford aventou recentemente, os seres humanos eram portadores de doenças tropicais, com as quais os seus primos, mais adaptados ao frio, non conseguiram lidar. Sexa como for, o que aconteceu aos neandertais envolveu quase de certeza aos seres humanos. Como me confessou um dia Svante Pääbo, investigador sueco que xefiou a equipa que decifrou o xenoma dos neandertais, “a pouca sorte deles fomos nós”.
ELIZABETH KOLBERT
.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (DISCURSO SOBRE A ORIXEM E OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMES)
Publicado o27/11/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Para Rousseau, o “estado da natureza” é tán só unha mera hipótese ou experiência mental que lhe permite levar a cabo e armar a estructura da sua reflexón. Na sua opinión, ao examinar os fundamentos da sociedade, todos os filósofos teríam sentido a necessidade de remontar até ao “estado de natureza”, mas tê-lo-iam feito transferindo para o “estado de natureza” ideias próprias da sociedade, atribuindo ao home selvaxem as características próprias do home civilizado, a saber, necessidade, avidez, opressón, desexos e orgulhos, tal como assinala no seu “Discurso sobre a Orixem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”. O desafio consistiria em ver o home exactamente como a natureza o formou, através de todas as mudanças produzidas na sua constituiçón orixinal. Novamente, Rousseau di-lo à sua maneira: “Semelhante à estátua de Glauco, que o tempo, o mar e as tempestades tinham desfigurado tanto que se assemelhava menos a um deus do que a unha estátua feroz, a alma humana, alterada no seio da sociedade por mil causas constantemente renascentes, pela adquisiçón de unha multidón de conhecimentos e erros, e polo choque contínuo das paixóns, mudou de aparência, a ponto de ser quase irreconhecíbel”. A Rousseau non parece nada leviana a tarefa de discernir o que há de orixinal e de artificial na natureza actual do home. Assim, decide deixar de lado todos os libros científicos, que só ensinam a ver os homes tal como eles se fixérom, para conxecturar as primeiras e mais simples operaçóns da alma humana, a saber, o princípio da própria conservaçón e o princípio da piedade ou compaixón, isto é, a repugnância natural que nos inspira ver sofrer qualquer ser senssíbel e, particularmente, os nossos semelhantes. Da combinaçón dos dous princípios poderiam derivar todas as regras do “direito natural”, regras que, em seguida, a razón terá de restabelecer sobre outros fundamentos quando acabar por destruir a natureza. Um grande estudioso de Rousseau, como é Jean Starobinski, falou da busca constante de um “remédio no próprio mal” (o mal da civilizaçón, da desigualdade e da cultura) como principal guia para explorar o pensamento de Rousseau, autor para quem o direito fundamental residiria em non se ver maltratado em ván.
ROBERTO R. ARAMAYO
.
KARL MARX (O TRABALHO ALIENADO É A CONDIÇÓN PARA A PROPRIEDADE PRIVADA)
Publicado o29/11/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Neste relato antropolóxico do processo productivo, parece axitar-se um fantasma, o da propriedade privada. Efectivamente, Marx montou a sua crítica em torno de dous argumentos: primeiro que a externalidade e o estranhamento do trabalho derivam do facto de que o producto do trabalho non é seu, mas de outro; e segundo, que o trabalhador no trabalho “non se pertence, mas pertence a outros”. Ainda que tenha mantido o discurso nas relaçóns técnicas, esse “outro” sem nome estaba presente; sem ele non faz sentido o trabalho assalariado pois este esíxe que, antes do processo, e como condiçón dele, tenha habido um contracto, o da venda da força de trabalho; ou sexa, pressupôn um momento e um lugar, o mercado, onde se tenha assinado a venda do corpo e da alma do trabalhador. Deste acto contractual seguem-se as figuras da “alienaçón no producto” e no “processo”, efeitos do carácter “assalariado” do trabalho; portanto, têm a sua orixe no contracto de trabalho. Mas, polo que acabamos de dizer, este contracto só se pode pensar como necessário pola ruptura da relaçón “home-natureza”, ou sexa, nunha situaçón de trabalhadores desapossados dos meios de produçón; por conseguinte, sob condiçóns de propriedade privada dos mesmos. É fácil de inferir, e assim se fez com frequência, que a orixe do mal (aqui, o trabalho alienado) é a propriedade privada; de modo que a sua eliminaçón passa a ser o horizonte da emancipaçón. Mas Marx, contra a crença enraizada no movimento operário, diz-nos que non, que essa non é a lóxica do processo histórico, que é só a aparência. Ainda que no final do processo a propriedade privada reforce e reproduza o trabalho alienado até se apresentar como seu fundamento, “na orixem” (polo menos a orixem da ordem lóxica) passa-se o inverso e é o “trabalho alienado” a condiçón de possibilidade da “propriedade privada”. Elucidemos portanto, este interessante problema teórico.
JOSÉ MANUEL BERMUDO
.
FRIEDRICH NIETZSCHE (DA CONCEPÇÓN CHRISTÁN DE DEUS)
Publicado o02/12/2025por fontedopazo | Deixar un comentario

Unha crítica da “concepçón christán de Deus” traz consigo unha conclusón semelhante. Um pobo que ainda tem confiança em si mesmo possue ainda um Deus que lhe é próprio. Venera n’esse Deus as condiçóns que o fazem victorioso, as suas virtudes (proxecta a sensaçón de prazer que se causa a si mesmo, o seu sentimento de poder n’um ser a que se pode dar graças por isso. “O que é rico, quer dar”; um pobo orgulhoso necessita um Deus a quem “sacrificar”… A relixión, sob estas condiçóns, é unha fórma de agradecimento. É um agradecido consigo mesmo: para isso faz falta um Deus. (Um Deus tal debe poder servir e perxudicar, debe poder ser amigo e inimigo) admira-se tanto no bem como no mal. A castraçón “contra natural” de um Deus para o converter n’um Deus do bem unicamente, achar-se-ia aqui fóra de tudo o que se pode desexar. Tanta necessidade se tem do Deus mau como do bom. Non se debe a própria existência precisamente á tolerância, á philanthropia… Que importa um Deus que non conhece nem a cólera, nem a vingança, nem a invexa, nem o engano, nem a astucia, nem a violencia, que ignorasse até as maravilhosas “ordens” da victória e da destruiçón? Um tal Deus, non se comprehenderia; entón para que o ter? (Sem dúvida, quando um pobo perece; quando sente desaparecer para sempre a sua fé no futuro, a sua esperança na liberdade; quando a submissón lhe parece ser de primeira necessidade; quando as virtudes dos submetidos entram na sua consciência, como condiçóns de conservaçón, entón é preciso também que o seu Deus se transforme. Torna-se entón santarrón, medroso, humilde, aconselha a “paz da alma”, a ausência do odio, as consideraçóns, até o “amor” tanto aos amigos como aos inimigos. Non fai mais do que moralizar, esconder-se na cova de todas as virtudes privadas, faz-se o Deus de toda a xente, retira-se à vida particular, torna-se cosmopolita… N’outro tempo representaba um pobo, a força de um pobo, tudo o agressivo e ávido de poder, procedente da alma de um pobo, agora xá non passa do bom Deus… Effectivamente non há outra alternativa para os deuses: “ou bem” som a vontade do poder (e todo esse tempo serám deuses populares) “ou bem” serám impotência do poder (e entón tornam-se “bons necessariamente).
FRIEDRICH NIETZSCHE
.