
A directora da escola 23, pessoa magra e idosa, encheu-nos de informaçóns antes de lhe fazermos unha pergunta; depois atendeu à nossa curiosidade. Estabelecimento para meninas; acabaram-se os mistos. Trinta e seis salas comportam mil e duzentas alunas; há cinquenta e cinco professores, dous médicos e um dentista. Acomodam-se no auditório quinhentos indivíduos, e a biblioteca tem oito mil volûmes. O período ecolar é de onze anos, abranxendo o curso primário e o secundário; mas aqui non existe seriaçón: realiza-se um trabalho continuádo. O ensino é ministrado em xeorxiano, e esixe-se unha língua estranxeira: o russo, o inglês, o francês. Nesse ponto lancei um reparo indiscreto: — A senhora considera o russo unha língua estranxeira? — De modo algúm, replicou a directora surprêsa. — Foi o que entendi. As três línguas niveladas. — Non me fiz comprehender bem, voltou a directora. Hoube provàbelmente engano na traduçón. O russo e duas línguas estranxeiras, foi o que eu disse. Para essas temos apenas duas licçóns por semana. O russo obriga as alumnas a unha hora de trabalho por dia em todo o curso. Foi isto que alargou entre nós o período escolar. Na Rússia dura dez anos; aqui temos onze. Mas non vale a pena dar explicaçóns: porque o senhor vai examinar isso depois. De facto, percorridos alguns papéis, ditos alguns números, a criatura levantou-se, agradeceu a visita e sumiu-se. Cumprido o seu deber, técnico e burocrático, ia-se embora, deixando-nos à vontade. Êsse comportamento agradou-me. Necessário ver as cousas de perto. E a directora magra non estaria connosco, fechando portas, cochichando a funcionários, puxando cordóns de titeres. Afinal non tinhamos obrigaçón de admitir os oito mil volumês da biblioteca e os quinhentos lugares do auditório. Olhámos as estantes, saímos, entrámos num salón. Realmente non contámos os libros e as cadeiras; avaliámos, pola rama, que non nos tinham enganado. Num corredor, trinta garotinhas do segundo ano desfilavam. Atravessámos unha porta. Aula de francês: leitura, conxugaçón dos verbos auxiliares. A pronúncia non era muito boa. Entendia-se: bastante superior à dos bacharéis no sertao do meu país. Afinal prestavam-se ali rudimentos a crianças de nove, dez anos, disse-nos a professora. Aula de xeografía. Alunas do séptimo ano. Chamei unha, do primeiro banco. Levantou-se, foi ao mapa, tomou a vareta e exibiu vários conhecimentos do Brasil. Ao falar na produçón, referíu-se à batata; e mencionou duas cidades: Rio-de-Xaneiro e Baía. Apontei Sao-Paulo. A garota, sem se alterar, perguntou-me se os meninos brasileiros conheciam as cidades principais da Unión Soviética. Esta impertinência fêz-me sorrir. — Em xeral non conhecem, respondi honestamente. Rapariguinhas do décimo primeiro ano, em prova de russo, analisavam literatura nova, o romance de um dêsses escritores que em pouco tempo se elevariam, e alcançariam tiradas formidábeis. Crianças de sete anos dedicavam-se à aritmética. O nono ano estudaba selecçón de frutos, no cinema. A grande sala de química estaba deserta. Descemos, estivemos a passear entre as árbores, no pátio de recreio, e vinha-me ao espírito unha frase da mulher idosa e magra: “– Existem mais de cem escolas iguais na cidade”. Recusavam-se, pois, os nossos louvores. Se êles fôssem necessários, debiam estender-se a mais de unha centena de casas semelhantes. Polos números fornecidos unha hora atrás, podíam matricular-se nelas cento e muitas mil crianças. Isto era na verdade excessivo num lugar de setecentos mil habitantes, ou menos. Lembrava-me dos analfabetos da minha pobre terra, dos pequenos vagabundos famintos que circulavam nas ruas, quase nus, a mendigar. À saída, três pessoínhas fizeram discursos. Non os arrancaram de improviso, naturalmente: esperando-nos, tinham escrito algunhas fôlhas, que agora liam com muita seriedade. As professoras, um pouco distantes, non se metiam nisso. Dificilmente suporíamos que ali se representasse unha comédia. Um grupo activo de pioneiras rodeou-nos, esteve a pregar-nos distintivos na roupa; coloriu-nos em seguida com lenços vermelhos. A presteza dos movimentos, o cuidado em minúcias, o brilho dos olhos, tudo revelaba entusiasmo, a execuçón de unha tarefa grave. Deixaram-nos em paz; entrámos no ônibus. Unha delas chegou à porta, viu que faltaba qualquer cousa: subiu, amarrou um lenço encarnado no pescoço do chauffeur. Ao rodar no asfalto, embalava-me com unha expressón bastante usada polas gazetas ocidentais, ponderosas: o “vírus do soialismo”. Os estranxeiros que aqui chegam voltam infeccionados; non resistimos aos venenos subtís esparsos no ar e nas conversas; as sólidas vantaxens da liberdade evaporam-se diante desta singular escravidón. É bom non entrarmos em contacto com os horrores denunciádos lá fora. Se respirarmos isto, acabaremos doentes, xulgaremos razoábel unha sociedade isenta de mendigos e prostitutas. O vírus do socialismo. Se nós, bichos calexados nas belezas occidentais, nos arriscamos a isso, precisamos admitir que as xovens alegres se contaminarom para sempre. Non têm remédio. Incutirom-lhe certezas horríbeis, no xuízo dos nossos patróns. A sua terra é a melhor do mundo, e nas escolas de Thiblissi todas as crianças podem estudar. Unha ideía me veio. Em cada unha das classes que visitámos había lugares para trinta e cinco pessoas. Trinta e seis salas. Multipliquei. A directora nos tinha falado em mil e duzentas alunas. Existia unha diferença pequena: dava-nos a lambuxem de sessenta lugares. Funcionando em dous turnos, os estabelecimentos encerrariam com folga o dôbro da populaçón infantil. As garôtas do primeiro ano fizeram êste cálculo. E está aí porque o vírus do socialismo faz estragos medonhos nessas almas em formaçón. As do Brasil até agora están libres, inmúnes, libres da aritmética.
GRACILIANO RAMOS (27 DE XULHO DE 1952)