
Encontramo-nos, pois, nos mesmos parâmetros de pensamento que na parte teórica. Houbo unha deslocaçón de foco do conhecimento científico e dos seus limites para o conhecimento práctico ou ético, mas a perspectiva é a mesma. Se o conhecimento teórico debia possuir, para existir, a forma de um xuízo sintéctico “a priori”, o mesmo se pode exigir à moral. Kant, que até este momento pôs todo o seu empenho na fundamentaçón epistemolóxica rigorosa, apaixona-se agora polo fundo ético do ser humano e propôn-se desentranhar a estructura interna da moralidade. Algo aconteceu no filósofo que produzíu esta deslocaçón. Non é que tenha esgotado a matéria epistemolóxico-metafísica na “Crítica da Razón Pura” e continue, nunha sequência linear e formal, a ocupar-se do capítulo seguinte. É, polo contrário, quase como se se desse unha comoçón no seu foro interno, um acesso a um âmbito novo, outrora pechado e insuspeito. Há um fragmento, de meados de 1760 (unha época em que um Kant quarentón estaba centrado na reflexón sobre a teoria do conhecimento), decisivo para entender este passo drástico ou salto quântico: “Sou investigador por natureza. Tenho unha sede insaciábel de conhecimento, unha inquietude que caminha com o desexo de nele progredir e unha satisfaçón em cada avanço do conhecimento. Hoube um tempo em que acreditei que isso constituía a honra da humanidade e desprezava as pessoas que non sabiam nada. Rousseau corrixíu-me nisso. (…) Aprendi a honrar os homes e sentir-me-ia mais inútil do que os trabalhadores comuns, se non acreditasse que esta minha actitude pode dar valor a todos para estabelecer os direitos da humanidade.” Eis, pois, um dos grandes pensadores do Ocidente a evocar um momento crucial da sua existência intelectual: a sua saída da torre de marfim, onde tinha estado ensimesmado a pensar nos fundamentos da ciência, alheio ao destino dos seus conxéneres. Como Paulo de Tarso, que cai do cavalo no caminho para Damasco, Kant sai para o mundo, interessa-se verdadeiramente polo destino da humanidade e apresenta como causa desse movimento decisivo um único home, o pensador suíço Jean-Jacques Rousseau. A data do fragmento citado indica-nos que Kant se interessou pola moralidade, num sentido filosófico, muitos anos antes de escrever a “Crítica da Razón Pura”. Xá neste texto se anuncia repetidamente que está a reservar um âmbito para a razón diferente do conhecimento teórico-científico.
JOAN SOLÉ