
“Deus sabe quantas vezes, absorto no mais profundo desespero, pensei em abandonar os territórios da cristandade, e ir para terra de pagáns (“ir com os sarracenos”, na traduçón de Juan de Meung) para viver lá em paz, através do pagamento de algun tributo, viver como cristán entre os inimigos de Cristo. Pensaba que eles me receberíam melhor se me xulgassem menos cristán, atendendo às acusaçóns de que era víctima.” Reaparecem no diálogo alguns dos temas teolóxicos e éticos xá expostos por ele em obras anteriores. Assim, por exemplo, a concepçó de Deus como Sumo Bem, a sua rexeiçón da intolerância, a diferença entre a fé e a filosofia, a conveniência de non se esquecer que os debates teolóxicos têm lugar no terreno da linguaxem ou a semelhança entre a relixión cristán e a filosofía grega. O seu latente ecumenismo, o seu patente racionalismo e o seu cristianismo iluminado brilham neste último escrito. A subtileza do seu enxenho e a riqueza da sua memória, fértil em conhecimentos filosóficos e teolóxicos — que o filósofo eloxiava nele no início do diálogo –, ficam aqui novamente em evidência. Como escrebera Pedro o Venerábel, a Heloísa no seu elóxio póstumo, “com o pensamento, com a palabra, com todo o seu comportamênto, meditava, ensinaba e construía argumentos sempre divinos e sempre filosóficos”.
ANDRÉS MARTÍNEZ LORCA