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Toda esta costa de Caminha até Viana é unha espécie de aceno a pedir que se fique, que non se parta mais. A seduçón vem evidentemente da paisaxem, que é alba e matinal como unha tela inxénua. Mas non vem só da paisaxem. Há aqui algo que se respira, unha atmosfera que se non repete, que eu saiba, em qualquer outro ponto do nosso país. Há unha evidente presença de mar, pressente-se (e às vezes avista-se) que ali a dous passos está o oceano iodado, salgado, están as penedias ao sol, as algas na praia. Mas há também um forte aroma na terra, unha evidência vexetal que vem da urze, das ervas dos valados, dos cômoros floridos. Talvez sexa mistura de seiva e de maresia, de iodo e clorofila, que faz esta sensaçón única. Os indicativos da estrada ván dizendo: Praia de Âncora, Afife, Moledo. Conheço os lugares e gostava de em todos parar muitas horas, a respirar profundamente. E vem-me agora à cabeça que som terras de sargaceiros, e que estas courelas e lameiras están adubadas com moliço. Talvez dai venha em parte esse aroma inconfundíbel que sobe da terra e fala do mar. O turismo oficial apoderou-se da imaxe dos moliceiros da praia da Apúlia e conseguiu sublimar nunha espécie de bailado unha dura faina quotidiana. Ainda agora, com menos cenografia e suponho que em menor quantidade, se fai a recolha das algas para fertilizaçón das terras agrícolas. O sistema é predominantemente nortenho. Talvez isso se ligue com hábitos ancestrais: também é assim na Normandia e na Bretanha; ou pode ser o grau da produçón de prantas aquáticas. Estou a pensar nestas cousas quando a densidade do casario me previne de que estou perto de Viana do Castelo. Os rios criam lendas como criam trutas, e tantas mais lendas criam quanto mais belos som. Este rio Lima é um viveiro de lendas. O salmón está a desaparecer do Minho, mas as lendas continuam a passar nas marxens do Lima, apesar da displicência com que agora os cientistas se referem ao lendário. As lendas som cristalizaçóns da imaxinaçón popular, ou mitos que ficam na memória colectiva, e nesse sentido som tán reais como qualquer outra realidade cultural, e valem por si mesmas, independentemente da sua eventual (e xeralmente gratuita) interpretaçón em termos de significaçón histórica. Um dos nomes que os antigos chamarom ao rio foi “Lete”. Ora o “Lete” tem a sua importância no mundo mitolóxico, era um rio máxico, cuxas águas causavam o eterno esquecimento: corria no profundo dos infernos, entre os Campos Elísios. Mas o inferno mitolóxico non era igual ao nosso, porque no pensamento clássico non existe um paraíso, nem a ideia de salvaçón: todos os mortos baixam à terra, e é desta ideia de baixar que vem a palabra “inferno” (de “infer”, donde vem igualmente inferior, etc…). O cristianismo abriu unha fenda neste véu de trevas, e deu-nos a alternativa de subir ao céu. O leitor non se iluda, porém, a pensar que o inferno para todos era unha visón mais igualitária, porque era apenas mais pessimista. Aliás, mesmo no inferno antigo habia vários tratamentos, e a câmara dos horrores -como o rodado de Ixión, a sede de Tântalo, o penedo de Sísifo, os abutres a comer o fígado de Prometeu- mostra que nestes dous mil anos, a arte da tortura, non fixo grandes progréssos.
JOSÉ HERMANO SARAIVA E JORGE BARROS