
Em 1809 o exército de Soult tentou ali atravessar o rio para iniciar a ocupaçón de Portugal. A pouca tropa existente correu a marxem do rio, acompanhada por unha multidón de camponeses, e impediu o desembarque francês. O feito non impediu que Soult non viesse a entrar no país, pola fronteira de Chaves, alguns dias mais tarde, mas foi festexado pola populaçón como unha victória definitiva, e ficou na memória popular como o mais glorioso fasto da vida local. Ainda hoxe o feriádo municipal comemora essa guerra na ribeira. A quem quer que sexa afeiçoado às leituras históricas, a vila recorda os viscondes de Vila Nova de Cerveira, título que se notabilizou principalmente por um motivo: foi um visconde de Vila Nova de Cerveira um dos ministros que receberam a pesada herança de suceder ao marquês de Pombal, quando o estadista foi demitido e expulso de Lisboa. Pouco antes da nomeaçón para ministro, tinha a viscondessa requerido que o interditassem porque era tonto e incapaz de governar a própria casa. Era o décimo quarto visconde. A história do título non deixa de ser curiosa. Entre os galegos que se puseram ao serviço de D. Joao I, rei de Portugal, andava um certo Fernán Anes de Lima, que axudou o rei no cerco de Tui em 1398. Ou a axuda foi grande, ou ele se insinuou no ânimo do rei; o certo é que este lhe doou a terra de Arcos de Valdevez, e o Paço de Giela. Um seu filho, Leonel de Lima, conseguiu suceder nesses bens, apesar de isso infrinxir a Lei Mental, pois que era filho segundo. Conseguiu, além disso, a nomeaçón de alcaide-mor de Ponte de Lima, e foi por fim feito visconde de Vila Nova de Cerveira. Era a primeira vez que em Portugal se fazia um visconde, e quando nos documentos se diz apenas “o visconde” é deste que se trata. Ambos os filhos do “visconde” deram que falar. O mais velho, Joao de Lima, ficou famoso na galanteria cortesán. Depois de muitas aventuras, embrulhou-se com unha mulher poderosa, Dona Catarina de Melo, filha do alcaide-mor de Évora. Imaxino-a bela e fria como unha estátua real, e vexo-a assim porque a alcunha que na corte lhe davam era a de “Rainha de Pedra”. Simples alcunha, porque ninguém é de pedra. Agradou-se da conversa daquele D. Joao minhoto e caiu na artimanha do casamento a furto. Era o casamento clandestino, que os próprios noivos podiam celebrar sem a presença de terceiros. Bastaba que, de mán na mán, pronunciássem as palabras sacramentais: “Eu recebo, …, por palabras de presente como manda a Santa Madre Igrexa.” E ficavam casados perante Deus, embora o mundo nunca o viesse a saber. Os namorados recorriam muito a esse truque quando habia desigualdade de estado ou de fortuna, e portanto oposiçón familiar; postas perante o caso consumado, as famílias acabavam por ceder. A “Rainha de Pedra” recebeu-o por esposo desse modo, mas quando o ventre começou a inchar esixiu-lhe que tornasse público o casamento. Ele assim o fez, mas apareceu entón outra beldade, Dona Catarina de Ataíde, dama da infanta Dona Xoana, a xurar que a esposa lexítima era ela, que tinha casado primeiro, claro que também a furto. Ele non negou. A causa subiu até Roma, e o xulgamento foi o de que o primeiro casamento era o único valioso. Mas a “Rainha de Pedra” non demorou muito a achar quem a quisesse, apesar do escândalo que o caso provocou. O próprio bígamo non parece ter tido grandes contratempos, visto que manteve todas as suas honrarias, e chegou mesmo a ser guarda-mor do rei D. Xoán II, funçón reveladora do muito apreço real. O irmán deste D. Xoán era um Fernán de Lima, criatura muito da amizade do “Príncipe Perfeito”, de quem foi copeiro-mor e guarda-costas. O rei deu-lhe ordem para estar sempre xunto dele, “secretamente armado”, diz Braamcamp Freire, que revela boa parte destes enigmas: Comia o que o rei comia, bebia o que o rei bebia, e há muito quem relacione isso com o facto de ter adoecido quando o rei adoeceu, e morrido como el morreu. Da mesma morte estranha, “inchados e solutos”, pereceram mais dous homes de mán do rei, o copeiro-pequeno Estêvao de Sequeira e o home de copa Afonso Fidalgo. Quando Fernán de Lima morreu, era ele o alcaide-mor de Vila Nova de Cerveira, porque o pai, ainda vivo, tinha a alcaldia de Ponte de Lima e era no paço afortalezado de Ponte de Lima que residia. Suponho que por isso non existe aqui em Vila Nova nenhum grande edifício a recordar essa família vinda do outro lado do rio, e destinada a tamanhas culminâncias do lado de cá.
JOSÉ HERMANO SARAIVA E JORGE BARROS