
Assim deixou as cousas Descartes, o filósofo que em todos os manuais é apresentado como o fundador da filosofia moderna, por lhe ter dado um fundamento autónomo, independente da base escolástico-relixiosa, que imperaba durante toda a Idade Média, e ao longo de todo o tardo-medievalismo, que se arrastaria durante dous ou três séculos na cultura europeia. É bem verdade que a ideia de Deus continua a desempenhar um papel essêncial na doutrina cartesiana (garante nada menos que a existência certa do mundo, da fiabilidade dos sentidos com que o percebemos e das ideias inatas com que o entendemos), porém, non é xá o ponto de partida: este passou a ser ocupado polo suxeito. O cartesianismo tivo um sucesso clamoroso e fulminante na Europa, pois foi aceite e assumido em quase todos os círculos filosóficos. A Europa foi, no século XVII, racionalista no sentido técnico da palabra. Non só os outros dous grandes racionalistas, Leibniz e Espinosa, seguiriam por este caminho, como quase todos os outros pensadores europeios do século. O racionalismo, a crença no valor e validade absoluctos das ideias inatas, capazes de sustentar sistemas filosóficos inteiros com unha independência total da experiência sensíbel, implicaba unha confiança absolucta nos conceitos da razón, nas “ideias claras e distintas”, de que Descartes falaba. Considerava-se que estas ideias podiam proporcionar ao pensamento filosófico a admirada fiabilidade que se reconhecia à matemática e à ciência física.
SERGI AGUILAR