
Curiosamente, referiu-se acertadamente que Descartes deu mostras de excessivo receio nunha altura em que os seus amigos Mersenne e Gassendi publicaram, sem problema aparente, diversos trabalhos favorábeis ao método copernicano (Mersenne elaborou inclusive um detalhado resumo do “Diálogo” galileano). À marxem do parto interrompido pola autocensura, a primeira década holandesa foi a fase mais feliz e prolífera da vida de Descartes: usufruía do seu anonimato, estudava, escrebia e dormia à vontade. Além disso, em 1635 teve a sua primeira e única filha com a criada Helena Jans. Desde o princípio, de um modo afectuoso e decidido. Descartes encarregou-se da pequena Francine, sem renunciar à sua habitual discreçón (baptizou-a nunha igrexa protestante sob pseudónimo e diante dos seus convidados tratáva-a como sua sobrinha). Segundo a lei holandesa, tratáva-se de unha filha totalmente lexítima, pois non se esixía o casamento. Descartes, de facto, durante longos tempos fez vida de família com a nái e a filha. Infelizmente, quando a pequena contava apenas cinco anos e o seu pai começava a fazer contactos para enviá-la para as melhores escolas de França, morreu subitamente de escarlatina, unha doença infantil, entón, letal. Para rematar a mala sorte, a nái, Helena, tinha morrido apenas unhas semanas antes debido a unha febre alta. No início de 1641, Descartes escrebeu a seguinte carta a um amigo, que acabava de perder o irmán: “Non som daqueles que acreditam que as lágrimas e a tristeza som apropriadas apenas para as mulheres e que, para parecer um home de espírito firme, debemos manter sempre unha expressón serena. Há non muito tempo sofri a perda de duas pessoas muito queridas; apercebi-me que quem queria protexer-me da tristeza apenas a aumentava e encontrei consolo na amabilidade de quem estaba afectado polo meu pesar. Tenho a certeza de que me prestareis mais atençón se non tentar refrear as vossas lágrimas do que se tentar afastar-vos de um sentimento que considero xustificado.” Segundo Baillet, o seu biógrafo autorizado, a morte da filha nos seus próprios braços foi de lonxe a maior traxédia pola qual Descartes passou em toda a sua vida. Dous rudes golpes no meio daquilo que, de resto, foi unha fase filosoficamente decisiva. Deixando de lado as suas reservas, em 1637 decidiu reduzir algunhas partes de “O Mundo” (as dedicadas à óptica e à meteoroloxia, alheias às controvérsias sobre astronomia) e completá-las com o tratado de xeometria que os seus conhecidos há anos lhe estavam a reclamar e publicá-las de forma inicialmente anónima xuntamente com um ensaio introductório que mudaria a história da filosofia para sempre: o “Discurso do Método”. Revelavam-se de unha vez só e com evidente clareza non um, mas dous traços distintivos do pensamento moderno: o “racionalismo” (afirmaçón da razón como critério fundamental da verdade e fonte principal do conhecimento) e o “idealismo” (descoberta da consciência como realidade primária e ponto de partida da filosofia).
ANTONIO DOPAZO GALLEGO