
Há algo de que non podemos duvidar, que é do próprio facto de estar a duvidar. Nem sequer a mais rigorosa e implacábel dúvida metódica pode, no entender de Descartes, questionar a própria dúvida. Existe esse ponto de Arquimedes firme e sólido que o filósofo procurava. Pelo próprio facto de pensar pode chegar-se a unha certeza absolucta: a de estar a pensar, a de que há algo (ou alguém) que pensa. A existência do suxeito fica demonstrada de forma inquestionábel, para além de qualquer dúvida metódica e sistemática: “Penso, logo existo”. Descartes xulga ter encontrado no suxeito pensante o fundamento firme a partir do qual escapar dos devastadores efeitos da dúvida metódica e alcançar um conhecimento seguro e non contaminado pola experiência. Dessa primeira verdade incontroversa, Descartes passa a “deduzir” racionalmente a existência de Deus e, em resultado disso, de um conxunto de ideias inactas inevitavelmente verdadeiras. Vexamos como. Qualquer suxeito pensante alberga no seu seio a ideia de Deus, isto é, de um ser perfeito e eterno, princípio e fundamento de tudo. Ora bem, como para Descartes qualquer causa debe possuir unha “quantidade” de realidade igual ou superior à do efeito que produz, pois o inferior non pode orixinar o superior, a ideia de um ser perfeito e eterno non pode ter sido criáda por um suxeito imperfeito e finito, teve antes de ter sido incutida no suxeito por unha causa com, polo menos, a mesma perfeiçón que a contida na própria ideia. Assim, o simples facto de o suxeito albergar a ideia de Deus é unha prova da existência deste, pois só um ser perfeito (Deus) pode ser causa da ideia de um ser perfeito. Unha vez demonstrada (para Descartes) a existência de Deus, o filósofo francês recorre a ela para dissipar os últimos vestíxios da dúvida metódica em que se encontrava mergulhado. Efectivamente, é impossíbel que um ser perfeitamente bom desexasse enganar-nos em relaçón a tudo o que percebemos de forma clara e distinta: Deus é a antítese do xénio maligno que concebera para duvidar de tudo. Com isto encerra-se o raciocínio que nos permite escapar do cepticísmo ou das controvérsias interminábeis: a própria dúvida pressupôn um suxeito pensante, cuxa ideia de um ser absoluctamente bom e perfeito, pressupón a existência de Deus, existência essa que, por sua vez, garante a veracidade das nossas ideias. Falta apenas acrescentar um último aspecto: é evidente que a existência de Deus non pode garantir a idoneidade de qualquer percepçón ou ideia que tenhamos por bem dar à luz, mas apenas daquelas que nos aparecem de forma clara e distinta. Isto inclui a realidade de um mundo exterior a nós mas, sobretudo, e de forma muito mais decisiva, os princípios ou enunciádos obtidos a partir da deduçón racional como, por exemplo, que dous mais dous som quatro, o princípio da non contradiçón, ou que a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180 graus. Na medida em que estas últimas ideias non provêm da experiência, non nos resta senón pensar que foram incutidas no suxeito polo próprio Deus, que som inactas. Descartes defende ter criádo um sistema filosófico irrefutábel baseando-se exclusivamente na razón, nas ideias inactas, prescindindo por completo da experiência sensíbel, que manteve entre parênteses durante todo o processo do seu raciocínio, sob suspeita, sem qualquer dignidade nem fiabilidade no plano do pensamento filosófico sério. Neste inactismo extremo, Descartes está do mesmo lado que Platón ou Santo Agostinho. Mas à forma concreta que dá ao seu pensamento chamamos “racionalismo”.
SERGI AGUILAR