
LONGOS VALES, SANFINS, GANFEI
Em Monzón tenho que ecolher: continuar na estrada que, mais volta menos volta, corre paralelamente ao leito do rio e depois segue polo litoral até Viana, ou meter polo caminho interior, de montes e de horizontes até à Ponte da Barca e daí a Viana. A opçón non resulta fácil, porque ambos os percursos som ricos de história e de valor humano: mas acabo por ir na corrente do río, na esperança de repescar um ou outro valor mais à beira do caminho. A primeira saída da estrada principal é para vir respirar a atmôsfera intemporal de Longos Vales, paisaxem de muita beleza a que preside a da antiga igrexa de um convento de monxes benedictinos, fundado por D. Afonso Henriques. É templo amplo, de solidez românica, que foi sendo estropiado com os gostos de cada época. A abside é ainda um monumento notábel, com os capitéis esculpidos nas bizarras, misteriosas modelaçóns que os canteiros românicos davam à pedra. No interior o arco triunfal é muito suxestivo, com certa tendência para o feitio da ferradura a que nós associamos o arco árabe. Tornamos à estrada principal, mas andados mais alguns quilómetros está, com o indicativo de monumento nacional, o caminho para Sanfins de Friestas. É um lugar que se non debe perder. Este topónimo Sanfins vem de San Félix, e o culto é muito antigo. San Félix foi um papa do século III que afrontou com coráxe as perseguiçóns aos cristáns e morreu no cárcere no ano de 274. O seu culto difundiu-se, e muitas das igrexas da sua invocaçón vêm dos primeiros séculos do cristianismo. Desde Sanfins há a tradiçón de ter sido fundado em 566 por San Rosendo, e essa data, com ser lendária, non deixa de ser verosímil; o mosteiro fez parte da ocupaçón moral que os Beneditinos fixérom na Galiza, dos dous lados do Minho. Também lendária é a explicaçón do nome de Friestas, ou Frestas. Aí é unha curiosa explicaçón que qualquer madrugador pode verificar: diziam os povos que o Sol, ao nascer entre os abruptos penhascos da serra, proxecta os seus primeiros raios no lugar onde está o mosteiro, dando a suxestón do raio solar que ilumina o laxedo de um templo ao entrar por unha fresta. Este quotidiano milágre ao romper do dia serviu para indicar aos fundadores o sítio certo onde se debía fazer a igrexa. O edifício teve a sua grandeza na Idade Média. A actual igrexa é românica, e apesar das adulteraçóns do tempo resulta impressionante. Chega-se lá por um caminho mal sinalizado, em que é fácil perdermo-nos, e que depois de uns quilómetros entre quintais minhotos com a nota alegre dos pares de conversados sob a verdura da latada, transmudada subitamente nunha paisaxem descarnada, rupestre, onde non há mais que penedia e horizonte. E é ali que acaba a estrada, sem um dístico, unha indicaçón ao menos de que caímos num beco sem saída. Mas dam-se mais unhas centenas de passos e, de unha portela de rocha, avista-se, quase perto, o tardoz do mosteiro. Há que vir a pé. Non existe povoaçón, non há sequer unha habitaçón para um guarda. O conxunto construído é obra de xigantes. O templo românico, do século XII, revela a importância que o mosteiro debe ter tído em toda a rexión. Sábe-se que gozou de grandes priviléxios, arrecadou as rendas de quatro freguesias, e os moradores da aldeia estabam dispensados de vir à guerra, a non ser em companhia do próprio rei: mas, em compensaçón, eram obrigados a defender o vau de Carrexil, um dos pontos em que o rio Minho se podía atravessar a pé. No século XVI o rei D joao III deu o convento à Companhia de Xesus e os Xesuítas fixérom lá obras de vulto; ainda se vê, num pano da parede arruinado, unha bela xanela manuelina. Depois, no século XVIII, veio o confisco pombalino, o abandono e o desabar dos edifícios conventuais. Mas a igrexa continuou aberta ao culto e por isso non sofreu muito. Ao contrário do que acontece na maioria dos templos românicos do Minho, Sanfins de Friestas está completo e é um edificante exemplo da força, do poder de comunicaçón e de domínio da arquitectura românica. (…) E estamos outra vez xunto ao rio, no caminho de Valença. Escrevo no caderno das notas: “Ganfei, um remorso à beira da estrada”, leio a garatuxa que o traqueteo do carro deixou fazer, e recordo o assomo da angûstia que aquelas palabras traduzem. Vê-se da estrada nacional o Mosteiro de Ganfei; mas o que se vê é a fachada posterior, tardoz feio e íntimo que foi construído para se non ver, mas que a abertura da esrada real veio transformar em frontaría visíbel. Dezenas de vezes passei aqui, e olhava o casarón como se fosse grande palheiro, de dimensóns megalómanas. Nunca tinha ido ver. É um recinto de extrema pureza arquitectónica; conheço poucos conxuntos tán puros, tán harmoniosos. É a versón setecentista de um dos mais ilustres monumentos do Norte de Portugal: mosteiro construído por Santo Martinho de Dume, o apóstolo dos Suevos, num pequeno outeiro sobranceiro à linha das águas do rio, ou, também se diz, obra de Santo Frutuoso. Certo é que xá no ano de 691 o mosteiro existia. Quando o Almançor passou por aquí e foi roubar as campanas do Apóstolo a Compostela, tudo o que habia foi arrasado e non ficou sinal de vida. Mas depois veio D. Gaifeiros, cavaleiro françês, e pôs outra vez em pé a casa de Deus. Dizem uns que era monxe de Cluny, outros que era ermitán beneditino, também o nome non é muito seguro: talvez fosse Gaifeiros, talvez Ganfredo, ou Ganfei. O último nome foi o que o povo lhe deu. Venerou-o como santo e as suas relíquias fixérom milágres em ambas bandas do rio até à revoluçón liberal. Polo tempo fora, o convento, que era riquíssimo, axudou a fundar Valença, e foi dos templos predilectos dos nossos reis. D. Afonso II, ao morrer, deixou-lhe toda a prata labrada que tinha; D. Pedro, conde de Barcelos, filho de D. Dinis e autor do Libro de Linhagens, viveu ali quatro anos e reedificou o edifício. Do seu tempo som as três grandes naves românicas da igrexa, que apesar das actualizaçóns setecentistas guardam unha força poderosa, anúncio da grandeza do passado perdido. Hoxe tudo isto é um ermo. Difícil entrar na igrexa. O conxunto monumental que se debruça sobre o terreiro monástico é propriedade particular. E quase ninguém sobe aquelas centenas de metros de estrada para admirar o vestíxio histórico de unha instituiçón que, muito antes de Valença existir, discutíu com Tui a primazia espiritual do Alto Minho. Mas estamos no arrabalde de Valença, a estrada marca a direcçón da fronteira e da vila. Subimos à velha fortaleza.
JOSÉ HERMANO SARAIVA E JORGE BARROS