
Pròpriamente, a viaxem começou em Praga (e foi unha decepçón). Cheguei às quatro horas da tarde, cego, mudo, sem dinheiro. Habia algunhas notas na carteira, mas eram do Brasil e da França, mais ou menos inúteis; non me seria possíbel dizer unha palabra na língua da terra; e, para integral caiporismo, o diabo zombara de mim na véspera, quebrando-me os óculos, em París: tinha sido unha dificuldade pagar a conta do hotel. Ninguém para receber-me; em redor, caras indiferentes. Arriei num banco, a vista prêsa nos letreiros que habia nas paredes do aeródromo. Os mais vultosos eram perceptíbeis aos meus desgraçados olhos, mas que significariam? Imaxinei-me víctima de um lôgro: supus o convite inexistente e condenei-me por ter sido inxênuo: arrojara-me estùpidamente à emprêsa insensata (e ali estaba em profundo abatimento, sem saber para onde ir. Minha mulher, ao lado, achava tudo muito natural: o desarranxo estaba previsto e nunha hora as cousas se arrumariam da melhor forma. O descabido optimismo irritába-me; em voz baixa, expandia-me em duros impropérios. A sala pouco a pouco se esvaziava. Fui o último dos passaxeiros chamados, e na apresentaçón do passaporte um funcionário se revelou esixente e ranzinza: faltava unha formalidade. Exibi um pedaço de papel: o home tomou novo aspecto, quis saber se me dirixía a Moscou. A resposta afirmativa orixinou o aparecimento de um suxeito magro que falava françês. Em seguida veio outro, que me surxíu mais tarde com o nome de Ivan Riabov e era representante da Voks em Praga. A Voks, abreviatura, significa “Sociedade para as relaçóns culturais da URSS com os países estranxeiros”. Riabov exprime-se em russo; fora daí non diz nada. ¿Pertence a algunha associaçón de clásse? perguntou-me pola bôca do suxeito magro. – Cousa nenhuma, declarei atarantado. Minha mulher lembrou que eu era presidente da Associaçón Brasileira de Escritores, e êste exíguo título produziu bom efeito. Tinha-me esquecido inteiramente dêle, e non me passaba a idéia de que servisse para algunha cousa: o essencial era haber alguém a esperar-me na cidade, afirmei. Os dous homes afastaram-se, e regressaram modificados, chamaram-me ao telefone. Conversa rápida, explicaçóns, um telegrama non recebido. Agora me achava mais ou menos tranquilo: as apoquentaçóns da chegada evaporavam-se. -¿O senhor pode esperar dez minutos ou quer seguir logo? inquiriu o indivíduo magro. – Espero. Non há pressa. Um ônibus partíu conduzindo os passaxeiros do avión de Bruxelas. Sentei-me à porta. A tarde se alargava sôbre as árbores de folhaxem nova que principiávam a florir. E a noite non vinha. Na latitude elevada estendía-se unha luz triste e imóvel. Procurei um relóxio, mas non sería possíbel ver as horas. Tive a impressón de que os ponteiros e o sol estavam parados.
GRACILIANO RAMOS (VIAGEM CHECOSLOVÁQUIA – U. R. S. S.)